domingo, 23 de dezembro de 2012

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Capítulo 02
  
Meu coração está disparado. O elevador chega ao andar térreo, e eu
desço assim que as portas se abrem, tropeçando mais uma vez, mas
felizmente não caindo de bruços no chão de arenito imaculado. Eu corro
para as largas portas de vidro, e por fim estou livre no tonificante, limpo, ar
úmido de Seattle. Levantando meu rosto, eu dou boas-vindas à fresca chuva
refrescante. Eu fecho meus olhos e tomo uma profunda e purificante
respiração, tentando recuperar o que resta de meu equilíbrio.
 Nenhum homem jamais me afetou desse modo como Christian Grey o
fez, e eu não posso entender o porquê. 
 É sua aparência? Sua civilidade? Sua Riqueza? Seu Poder? Eu não
entendo minha reação irracional. 
Eu dou um suspiro enorme de alívio. O que em nome dos céus foi tudo
aquilo? Eu me inclino contra uma das colunas de aço do edifício, e
valentemente tento me acalmar e juntar meus pensamentos. Eu agito minha
cabeça. Puta merda, o que foi aquilo? Meu coração estabiliza, voltando ao seu
ritmo regular, e eu posso respirar normalmente de novo. Eu me dirijo ao
meu carro. 
 Quando eu deixo os limites da cidade para trás, eu começo a me sentir
tola e envergonhada, quando eu reproduzo a entrevista em minha mente.
Certamente, eu estou reagindo a algo que está em minha imaginação. Certo,
então ele é muito atraente, confiante, autoritário, à vontade consigo mesmo,
mas por outro lado, ele é arrogante, e por todos os seus modos impecáveis,
ele é ditador e frio. Bem, pelo menos a primeira vista. 
 Um arrepio involuntário percorre minha espinha. Ele pode ser
arrogante, entretanto ele tem o direito de ser, ele conseguiu tanto em uma 21

idade tão jovem. Ele não suporta os imbecis, mas por que ele deveria?
Novamente, eu estou irritada por Kate não me dar uma breve biografia dele. 
Enquanto cruzo ao longo da I-5, minha mente continua a vagar. Eu
estou perplexa por existir gente tão empenhada em triunfar. Algumas de
suas respostas eram tão enigmáticas, como se ele tivesse uma agenda
oculta. As perguntas de Kate... ufa! A adoção e a pergunta se ele é gay! Eu
estremeço. Eu não posso acreditar que eu disse aquilo. Que o chão, me
engula agora!  Toda vez que eu pensar sobre esta pergunta no futuro, eu vou
ficar corada de vergonha. Maldita Katherine Kavanagh! 
 Eu verifico o velocímetro. Eu estou dirigindo mais cautelosamente do
que eu estaria em qualquer outra ocasião. E eu sei que é a lembrança de
dois olhos cinza penetrantes olhando para mim, e uma voz dura dizendo-me
para dirigir cuidadosamente. Agitando minha cabeça, eu percebo que Grey
está mais para um homem com o dobro de sua idade. 
 Esqueça isto, Ana, eu ralho comigo mesmo. Eu chego à conclusão que
isto foi uma experiência muito interessante, mas eu não deveria insistir
nisto. Deixe isto para trás.  Eu nunca vou vê-lo novamente. Eu fico
imediatamente alegre pelo pensamento. Eu ligo o play do MP3 e giro o
volume bem alto, me encosto, e ouço o estrondoso rock alternativo quando
eu pressiono o acelerador. 
 Quando eu atinjo a I-58
, eu percebo que eu posso dirigir tão rápido
quanto eu quero. 
Nós vivemos em uma pequena comunidade de apartamentos dúplex
em Vancouver, Washington, perto do campus de Vancouver da WSU. Eu
tenho sorte dos pais de Kate terem comprado um lugar para ela, e eu pago
amendoins pelo aluguel.
9
 Isto já faz uns quatro anos. Quando eu desligo o
carro, eu sei que a Kate vai querer que eu conte tim-tim por tim-tim da
entrevista, ela é tenaz. Bem, pelo menos ela tem o mini gravador. Espero que
eu não tenha que elaborar muito além do que foi dito durante a entrevista. 
 — Ana! Você voltou. — Kate está sentada em nossa sala de estar,
cercada por livros. Ela está claramente estudando para as provas finais,
entretanto ela ainda está de pijamas de flanela rosa, decorado com
coelhinhos fofinhos, aqueles que ela reserva quando acaba com um namoro,
quando está doente, e quando está deprimida em geral. Ela pula em cima de
mim e me abraça apertado. 
 — Eu estava começando a me preocupar. Eu esperava que você
voltasse mais cedo. 
— Oh, eu acho que compensei o tempo considerando que a entrevista
funcionou. — Eu aceno com o mini gravador para ela. 
                                                          
8
 Interestadual - 5
9
     Se você paga com amendoins, você obtêm macacos. Ditado popular nos EUA que significa que você paga
uma mixaria (muito pouco)   22

— Ana, muito obrigada por fazer isto. Eu fico te devendo, eu sei. Como
foi? Como ele era? — Oh não, lá vamos nós, com a Inquisição de Katherine
Kavanagh. 
 Eu luto para responder suas perguntas. O que eu posso dizer? 
— Eu estou contente que terminei, e que eu não tenha que vê-lo
novamente. Ele era bastante intimidante, sabe. — Eu encolho os ombros. —
Ele é muito focado, intenso até, e jovem. Realmente jovem.
 Kate olha com ingenuidade para mim. Eu franzo a testa para ela. 
— Você, não se faça de inocente. Por que você não me deu uma
biografia? Ele me fez sentir como uma idiota por me restringir as perguntas
básicas. — Kate aperta uma mão em sua boca. 
 — Jesus, Ana, eu sinto muito, eu não pensei. 
Eu bufo. 
— Na maior parte ele foi cortês, formal, ligeiramente sufocante, como
se tivesse envelhecido antes do tempo. Ele não conversa como um homem de
vinte e poucos anos. Que idade ele tem afinal? 
— Vinte e sete. Jesus, Ana, eu sinto muito. Eu devia ter informado
você, mas eu estava em pânico. Deixe-me pegar o mini gravador, e eu vou
começar a transcrever a entrevista. 
 — Você parece melhor. Você comeu sua sopa? — Eu pergunto, ansiosa
para mudar o assunto. 
— Sim, e estava deliciosa como sempre. Eu estou me sentindo muito
melhor. — Ela sorri para mim em gratidão. Eu verifico meu relógio. 
— Eu tenho que correr. Eu posso ainda fazer meu turno na Clayton.
— Ana, você está exausta.
— Eu estarei bem. Eu vejo você mais tarde. 
Eu trabalho na Clayton desde que eu comecei na universidade. É a
maior loja de ferragens de Portland, e durante os quatro anos em que eu
trabalho aqui, eu conheci um pouco sobre quase tudo que vendemos,
embora ironicamente, eu sou um desastre em trabalhos manuais. Eu deixo
tudo isso para meu pai. 
Eu sou muito mais o tipo de garota que se enrosca com um livro em uma
confortável cadeira junto à lareira. Eu estou contente que eu possa fazer
meu turno, pois isto me dá algo para me concentrar que não seja Christian
Grey. Nós estamos ocupados, é o inicio da temporada de verão, e as pessoas
estão redecorando suas casas. A Sra. Clayton está contente por me ver. 
 — Ana! Eu pensei que você não fosse vir hoje. 
— Meu compromisso não demorou tanto tempo como eu pensei. Eu
terminei em algumas horas. 
— Eu estou contente por ver você. 
Ela me manda para o deposito para começar a reabastecer as
prateleiras, e eu logo fico absorvida na tarefa.  23

Quando eu chego em casa mais tarde, Katherine está com os fones de
ouvido, trabalhando em seu laptop. 
Seu nariz está ainda rosa, mas ela está super envolvida no seu
trabalho, concentrada e digitando furiosamente. Eu estou exausta,
completamente drenada pela longa viagem, a entrevista cansativa, e por
permanecer de pé na Clayton. Eu afundo no sofá, pensando sobre a redação
que eu tenho que terminar e todos os estudos que eu não fiz hoje, porque eu
estava com… ele. 
 — Você tem um bom material aqui, Ana. Você fez um bom trabalho.
Eu não posso acreditar que você não aproveitou a oferta dele para mostrar a
você o lugar. Ele obviamente queria passar mais tempo com você.
 Ela me lança um olhar fugaz e brincalhão. 
Eu ruborizo, e minha frequência cardíaca inexplicavelmente acelera.
Estou certa que não foi isso. Ele só queria me mostrar o local, para que eu
pudesse ver que ele é o senhor de tudo aquilo. Eu percebo que eu estou
mordendo meu lábio, e eu espero que Kate não note. Mas ela parece
absorvida em sua transcrição. 
— Eu entendo o que você quer dizer sobre formal. Você tomou algumas
anotações? — Ela pergunta. 
 — Hum… não, eu não tomei. 
— Tudo bem. Eu ainda posso fazer um artigo bom com isto. Pena que
não temos algumas fotos originais.  Bonito aquele filho da puta, não é?
 Eu ruborizo.
— Eu acho que sim. — Eu tento duramente soar desinteressada, e eu
acho que consegui. 
— Oh vamos, Ana, até você não pode ser imune a sua aparência. —
Ela arqueia uma sobrancelha perfeita para mim. 
 Merda!   Sinto que minhas bochechas ardem. Assim eu a distraio
lisonjeando-a, sempre é um bom truque. 
 — Você provavelmente teria conseguido muito mais dele. 
— Eu duvido, Ana. Ora... ele praticamente te ofereceu um emprego.
Mesmo depois daquela pergunta que impus para você fazer, você foi muito
bem. — Ela olha para mim especulativamente. Eu faço uma retirada
apressada para a cozinha. 
 — Então o que você realmente pensou sobre ele? — Maldição, ela é
curiosa. Por que ela não pode simplesmente deixar isto passar? Pense sobre
algo, rápido. 
 — Ele é muito mandão, controlador, arrogante, realmente assustador,
mas muito carismático. Eu posso entender o fascínio, — eu digo
sinceramente, com a esperança que ela encerre este assunto uma vez por
todas. 
 — Você, fascinada por um homem? Está é a primeira vez, — ela bufa.  24

Eu começo a juntar os ingredientes de um sanduíche, assim ela não
pode ver meu rosto. 
— Por que você quis saber se ele era gay?  Alias, está foi uma pergunta
muito embaraçosa. Eu fiquei mortificada, e ele ficou puto ao ser questionado
também. — Eu franzo a testa com a memória. 
 — Sempre que ele está nas páginas da sociedade, ele nunca está
acompanhado.
— Foi vergonhoso. A coisa inteira foi constrangedora. Eu estou
contente que nunca mais tenha que por os olhos nele novamente.
— Oh, Ana, não pode ter sido tão ruim. Eu penso que ele parece estar
bastante interessado em você. 
Interessado em mim?  Agora Kate está sendo ridícula. 
— Você gostaria de um sanduíche? 
— Por favor. 
Não conversamos mais sobre Christian Grey aquela noite, para meu
alívio. Uma vez que nós comemos, eu posso me sentar à mesa de jantar com
Kate e, enquanto ela trabalha em seu artigo, eu trabalho em minha redação
sobre Tess de D 'Urbervilles.
10
 Maldição, esta mulher estava no lugar errado,
no tempo errado, no século errado. Quando eu termino, é meia-noite, e Kate
já tinha ido há muito tempo para a cama. Eu faço meu caminho para meu
quarto, exausta, mas contente que eu fiz tanto para uma segunda-feira. 
 Eu me enrolo em minha cama de ferro branco, embrulhando uma
colcha de minha mãe ao meu redor, fecho meus olhos e durmo
imediatamente. Naquela noite eu sonho com lugares escuros, sombrios pisos
brancos frios, e olhos cinza. 
Pelo resto da semana, eu me dedico em meus estudos e no meu
trabalho na Clayton. Kate está ocupada também, compilando sua última
edição de sua revista estudantil, antes dela ter que cedê-la para o novo
editor, ao mesmo tempo estudando para seus exames finais. 
Na quarta-feira, ela está muito melhor, e eu não tenho mais que suportar a
visão de seus pijamas com rosa e coelhinhos. Eu telefono para minha mãe
na Geórgia para saber como ela está, mas também para que ela possa me
desejar sorte em meus exames finais. Ela começa a me contar sobre sua
mais nova aventura: está aprendendo a fazer vela. Minha mãe adora
aprender coisas novas. Basicamente, ela se entedia e busca coisas novas
para preencher seu tempo, mas é impossível ela manter a atenção durante
muito tempo em alguma coisa. A semana que vem será uma nova aventura. 
 Ela me preocupa. Eu espero que ela não hipoteque a casa para
financiar esta nova aventura. E eu espero que Bob, seu relativamente novo
marido, muito mais velho, esteja de olho nela agora que eu não estou mais
lá. Seu terceiro marido parecer ser um cara centrado. 
                                                          
10
 Tess of the D'Ubervilles:, é um romance de Thomas Hardy, publicado pela primeira vez em 1891. Considerada uma
obra importante da literatura Inglesa. 25

— Como estão às coisas com você, Ana? 
Por um momento, eu hesito, e eu tenho toda a atenção de minha mãe. 
— Eu estou bem. 
— Ana? Você encontrou alguém? — Uau… como ela faz isto?  A
excitação em sua voz é palpável. 
 — Não, mãe, não é nada. Você será a primeira a saber se eu o achar. 
— Ana, você realmente precisa sair mais, doçura. Você me preocupa.
— A mãe, eu estou bem. Como está Bob? — Como sempre, a distração
é a melhor política. 
 Mais tarde naquela noite, eu chamo Ray, meu padrasto, Marido
Número Dois de mamãe, o homem que eu considero sendo meu pai, e o
homem cujo nome eu carrego. É uma conversa breve. De fato, não é tanto
uma conversa, é mais uma série unilateral de grunhidos em resposta para a
minha gentil persuasão. Ray não é muito de falar. Mas ele é muito ativo,
quando ele não esta assistindo futebol na televisão, vai aos jogos de boliche,
prática pesca com mosca,
11
 ou fazendo mobília. Ray é um carpinteiro
qualificado, e a razão de eu saber a diferença entre um falcão e um serrote.
Tudo parece bem com ele. 
 Sexta feira à noite, Kate e eu estamos debatendo o que fazer com
nossa noite, nós queremos dar um tempo em nossos estudos, em nosso
trabalho, dos jornais estudantis, quando a campainha toca. 
 Parado em nossa soleira está meu bom amigo José, segurando uma
garrafa de champanhe. 
— José! Bom te ver! — Eu dou-lhe um abraço rápido. — Entre. 
 José é a primeira pessoa que eu encontrei quando cheguei na
universidade, parecia tão perdido e solitário com eu. 
Nós reconhecemos uma alma gêmea em cada um de nós naquele dia, e
nós temos sido amigos desde então. 
Não só compartilhamos um senso de humor, mas nós descobrimos
que tanto Ray como o Sr. José estiveram na mesma unidade do exército
juntos. Como resultado, nossos pais se tornaram grandes amigos também. 
José estuda engenharia e é o primeiro de sua família a ir para a
faculdade. Ele é malditamente brilhante, mas sua verdadeira paixão é a
fotografia. José tem um bom olho para uma boa foto. 
— Eu tenho novidades. — Ele sorri, com seus olhos escuros brilhando. 
— Não me diga que você conseguiu ser expulso por mais uma semana,
— eu provoco, e ele faz uma careta brincalhona para mim. 
— A galeria Portland Place vai exibir minhas fotografias no próximo
mês.  
— Isto é incrível, parabéns! — Satisfeita por ele, eu o abraço
novamente. Kate sorri para ele também. 
                                                          
11
 Pesca com mosca é a tradução do termo em inglês Fly Fishing, por muitos conhecidos como pesca com fly ou
apenas fly. Para os brasileiros, o termo correto é pesca com mosca.  26

— É isto aí José! Eu devia pôr isto no jornal. Nada como mudanças
editoriais de último minuto em uma sexta-feira à noite. — Ela sorri. 
 — Vamos celebrar. Eu quero que você venha para a abertura. — José
olha atentamente para mim. Eu ruborizo. 
— Você duas claro, — ele adiciona, olhando nervosamente para Kate. 
José e eu somos bons amigos, mas eu sei que lá no fundo, ele gostaria
de ser mais que isto. Ele é atraente e engraçado, mas não é para mim. Ele é
mais como um irmão que eu nunca tive. Katherine frequentemente me
provoca dizendo que está faltando um namorado em minha vida, mas a
verdade é que eu não conheci ninguém que... bem, me atraísse,  embora
uma parte de mim anseie pelos joelhos trêmulos, o coração saindo pela boca,
o friozinho na barriga e noites sem dormir. 
 Às vezes me pergunto se existe algo de errado comigo. Talvez eu gaste
muito tempo na companhia de meus heróis românticos literários, e
consequentemente minhas ideais e expectativas são extremamente altos.
Mas na verdade, ninguém nunca me fez sentir assim. 
Até muito recentemente, a indesejável, vozinha em meu subconsciente
sussurra. 
NÃO! Eu enterro o pensamento imediatamente. Sem essa, não depois
daquela entrevista dolorosa. Você é gay, Sr. Grey?  Eu estremeço com a
memória. Eu sei que eu sonhei com ele quase todas as noites desde então,
mas isto é apenas para eliminar a experiência terrível da minha mente,
certo? 
 Eu assisto José abrir a garrafa de champanhe. Ele é alto, em sua calça
jeans e camiseta, ele é todo ombros e músculos, pele bronzeada, cabelos
escuros e olhos escuros ardentes. Sim, Jose é bastante quente, mas eu acho
que ele está finalmente entendendo a mensagem: Nós somos apenas amigos.
A rolha estala alto, e José olha para cima e sorri. 
 Sábado na loja é um pesadelo. Nós recebemos vários clientes que
querem enfeitar suas casas.  O Sr e a Sra. Clayton, John e Patrick, os outros
empregados, estamos correndo apressados. Mas há uma trégua na hora do
almoço, e a Sra. Clayton me pede para verificar algumas ordens enquanto eu
estou sentada atrás do balcão do caixa discretamente comendo minha
rosquinha. Eu estou absorta na tarefa, verificando os números do catálogo
dos itens que temos e precisamos encomendar, os olhos passando
rapidamente no livro de ordem para a tela do computador enquanto eu
verifico se as entradas batem. Então, por alguma razão, eu olho para cima…
e encontro-me presa no cinzento olhar ousado de Christian Grey, que está
de pé no balcão, encarando-me atentamente. 
 Meu coração para. 
— Senhorita Steele. Que surpresa agradável. — Seu olhar é firme e
intenso.  Puta merda. Que diabos ele está fazendo aqui, ele está com os cabelos
despenteados, vestindo um suéter creme, jeans e botas? Acho que fiquei
boquiaberta, e eu não posso localizar meu cérebro ou minha voz. 
 — Sr. Grey, — eu sussurro, porque isto é tudo que eu posso fazer. Há
uma sombra de um sorriso em seus lábios e seus olhos estão iluminados
com humor, como se ele estivesse desfrutando de alguma piada particular. 
 — Eu estava na área, — ele diz por via de explicação. — Eu preciso
abastecer algumas coisas. É um prazer ver você novamente, Senhorita
Steele. — Sua voz é morna e rouca, como calda de caramelo derretido em
chocolate escuro… ou algo assim. 
 Eu agito minha cabeça para reunir meu juízo. Meu coração está
batendo freneticamente, e por alguma razão eu estou corando furiosamente
sob seu olhar minucioso. Eu estou totalmente deslocada pela visão dele de
pé diante de mim. Minhas lembranças dele não lhe fazem justiça. Ele não é
apenas bonito, ele é o epítome da beleza masculina, de tirar o fôlego, e ele
está aqui. Aqui nas lojas Clayton. Vá entender. Finalmente minhas funções
cognitivas é restabelecidas e reconectadas com o resto de meu corpo. 
 — Ana. Meu nome é Ana, — eu murmuro. — Em que posso ajudá-lo,
Sr. Grey? 
 Ele sorri, e novamente é como se ele conhecesse algum grande
segredo. E tão desconcertante. Respirando fundo, eu coloco minha fachada
de profissional de quem trabalha nesta loja há anos. Eu posso fazer isto. 
— Há alguns itens que eu preciso. Para começar, eu gostaria de
algumas braçadeiras, — ele murmura, seus olhos cinza frios, mas divertidos. 
Braçadeiras? 
— Nós temos de vários comprimentos. Eu devo mostrar a você? — Eu
murmuro, minha voz suave e oscilante. 
Controle-se, Steele. Um leve franzir estraga por sua vez a testa do
adorável Grey. 
— Por favor. Vá na frente, Senhorita Steele, — ele diz. Eu tento parecer
indiferente quando eu saio detrás do balcão, mas realmente eu estou muito
concentrada em não tropeçar nos meus próprios pés, minhas pernas de
repente estão na consistência de gelatina. Eu estou tão contente por ter
decidido vestir meu melhor jeans esta manhã. 
 — Elas estão junto aos bens elétricos, no corredor oito. — Minha voz
está um pouco resplandecente. Eu olho para ele e lamento quase que
imediatamente. Maldição, ele é bonito. Eu ruborizo. 
— Depois de você, — ele murmura, gesticulando com seus longos
dedos de sua mão bem cuidada. Com meu coração quase me estrangulando,
porque ele está quase passando pela minha garganta, está tentando escapar
de minha bocacomeço a me encaminhar a seção de eletrônicosPor que ele 27

está em Portland?  28

Por que ele está aqui na Clayton?  E uma minúscula parte do meu
cérebro que utilizo, provavelmente localizada na base de minha medula
oblonga12
 onde habita meu subconsciente, diz: Ele está aqui para vê-la.  Sem
chance! Eu dispenso isto imediatamente. Por que este belo, poderoso e
urbano homem, quer me ver? A ideia é absurda, e eu excluo isto de minha
cabeça. 
 — Você está em Portland a negócios? — Eu pergunto, e minha voz é
muito alta, como se eu tivesse preso meu dedo em uma porta ou algo assim.
Maldição! Tente ficar fria Ana! 
 — Eu estava visitando a divisão agrícola da universidade. Que está
localizada em Vancouver. Eu estou atualmente financiando algumas
pesquisa lá, sobre rotação de colheita e ciência do solo, — ele discute o
assunto com naturalidade. Vê? 
 Não está aqui para encontrar você afinal, meu subconsciente zomba de
mim, alto, orgulhoso, e rabugento. Eu ruborizo com meus tolos pensamentos
impertinentes. 
— Tudo parte de seu plano de alimentar o mundo? — Eu provoco. 
— Algo assim, — ele reconhece, e seus lábios satirizam em um meio
sorriso.
Ele olha para a seleção de braçadeiras que nós temos em estoque na
Clayton. O que ele vai fazer com isso? Eu não posso imaginá-lo fazendo um
trabalho manual usando isso.  Seus dedos deslizam sobre os vários pacotes
da prateleira, e por alguma razão inexplicável, eu tenho que desviar o olhar.
Ele se curva e seleciona um pacote. 
 — Estes servirão, — ele diz com o seu sorriso de que está guardando
um segredo, e eu ruborizo. 
 — Gostaria de mais alguma coisa? 
— Eu gostaria de algumas fitas adesivas. 
Fita adesiva? 
— Você está redecorando sua casa? — As palavras escapam antes que
eu possa detê-las. Certamente ele contrata operários ou tem pessoal para
ajudá-lo a decorar? 
 — Não, não redecorando, — ele diz depressa então sorri, e eu tenho a
sensação estranha que ele está rindo de mim. 
Eu sou tão engraçada assim? Pareço engraçada? 
— Por aqui, — eu murmuro envergonhada. — a fita adesiva está no
corredor de decoração.
 Eu olho para trás à medida que ele me segue. 
                                                          
12
 Bulbo raquidiano, bolbo raquidiano, medulla oblongata, medula oblonga, ou simplesmente bulbo é a porção inferior
do tronco encefálico, juntamente com outros órgãos como o mesencéfalo e a ponte, que estabelece comunicação entre o
cérebro e a medula espinhal. 29

— Você trabalha aqui há muito tempo? — Sua voz é baixa, e ele está
olhando para mim, olhos cinza muito concentrados. Eu ruborizo ainda mais
intensamente. Por que diabos ele tem este efeito sobre mim? 
 Eu me sinto com quatorze anos de idade, desajeitada como sempre, e
fora do lugar. Olhos para frente Steele! 
— Quatro anos, — eu murmuro quando nós alcançamos nosso
objetivo. Para me distrair, eu passo e seleciono duas fitas adesivas largas. 
 — Eu vou levar essa, — Grey diz suavemente apontando para a fita
mais larga, que eu passo para ele. 
Nossos dedos se tocam muito brevemente, e a corrente está lá
novamente, atravessando por mim como se eu tivesse tocado um fio exposto.
Eu ofego involuntariamente quando eu sinto isto, essa corrente percorre
todo meu corpo até em algum lugar escuro e inexplorado, no fundo de minha
barriga. Desesperadamente, eu consigo de volta o meu equilíbrio. 
 — Mais alguma coisa? — Minha voz é rouca e ofegante. Seus olhos se
arregalam ligeiramente. 
— Algumas cordas, eu acho. — Sua voz reflete a minha, rouca. 
— Por aqui. — E abaixo minha cabeça para esconder meu recorrente
rubor e dirijo-me para o corredor. 
 — Que tipo você está procurando? Nós temos corda de filamento
sintético e natural… barbantes... fio de corda… — eu me detenho em sua
expressão, seus olhos escurecendo. Puta merda. 
 — Eu vou levar cinco metros de corda de filamentos naturais, por
favor. 
Rapidamente, com dedos trêmulos, eu meço cinco metros contra a
régua fixa, ciente que seu quente olhar cinza está em mim. Eu não ouso
olhar para ele. Jesus, eu podia me sentir mais tímida? Pegando minha faca
Stanley do bolso de trás de minha calça jeans, eu corto-a, então enrolo
cuidadosamente antes de amarrá-la em um nó corrediço. Por algum milagre,
eu consigo não arrancar um dedo com minha faca. 
 — Você era Escoteira? — Ele pergunta divertido, franzindo seus lábios
sensuais e esculpidos. Não olhe para sua boca! 
 — Só organizada, as atividades em grupo não são realmente minha
praia, Sr. Grey. 
Ele arqueia uma sobrancelha. 
— E qual é sua praia, Anastásia? — Ele pergunta, sua voz suave e seu
sorriso secreto estão de volta. Eu olho para ele incapaz de me expressar. O
chão parece placas tectônicas e movimento. Tente se tranquilizar, Ana, meu
torturado subconsciente implora de joelhos. 
 — Livros, — eu sussurro, mas por dentro, meu subconsciente está
gritando: Você! Você é minha praia!  
 Eu o esbofeteio imediatamente, mortificada com os delírios da minha
mente.  30

— Que tipo de livros? — Ele dobra sua cabeça para um lado. Por que
ele está tão interessado? 
 — Oh, você sabe. O habitual. Os clássicos. Literatura britânica,
principalmente. 
Ele esfrega seu queixo com seu dedo indicador e o longo dedo polegar
enquanto ele contempla minha resposta. 
Ou talvez ele esteja apenas muito entediado e tentando esconder isto. 
— Você precisa de alguma outra coisa? — Eu tenho que sair deste
assunto, aqueles dedos naquele rosto são muito sedutores. 
— Eu não sei. O que mais você recomenda?
O que eu recomendo? Eu sequer sei o que você está fazendo. 
— Para um trabalho manual? 
Ele movimenta a cabeça, olhos cinza vivos com humor perverso. Eu
ruborizo, e meus olhos se desviam por vontade própria para sua calça jeans
confortável. 
— Macacões, — eu respondo, e eu sei que eu não estou mais
despistando o que sai de minha boca. 
Ele levanta uma sobrancelha, divertido, mais uma vez. 
— Você não quer estragar sua roupa, — eu gesticulo vagamente na
direção de sua calça jeans. 
— Eu sempre posso lavá-las. — Ele sorri. 
— Hum. — Eu sinto a cor em meu rosto subindo novamente. Eu devo
estar da cor do manifesto comunista. Pare de falar. Pare de falar AGORA. 
 — Eu vou levar alguns macacões. Deus me livre de arruinar qualquer
roupa, — ele diz secamente. 
Eu tento e descarto a imagem indesejada dele sem jeans. 
— Você precisa de mais alguma outra coisa? — Eu pergunto quando
eu entrego-lhe o macacão azul. 
 Ele ignora minha investigação. 
— Como está indo o artigo? 
Ele finalmente me faz uma pergunta normal, longe de toda a
insinuação e a conversa confusa de duplo sentido… uma pergunta que eu
posso responder. Eu agarro isto firmemente com as duas mãos, como se
fosse um bote salva-vidas, e eu sou honesta. 
— Eu não estou escrevendo-o, Katherine está. A Srta Kavanagh.
Minha companheira de quarto, ela é a escritora. Ela está muito feliz com
isto. Ela é a editora da revista, e ficou devastada por não poder fazer a
entrevista pessoalmente. — Eu me sinto como se eu emergisse para o ar,
enfim um tópico normal de conversação. — Sua única preocupação é que ela
não tem nenhuma fotografia original sua. 
 Grey levanta uma sobrancelha. 
— Que tipo de fotografia ela quer?  31

Ok. Eu não tinha previsto esta resposta. Eu sacudo a cabeça, porque
eu simplesmente não sei. 
— Bem, eu estou por perto. Amanhã, talvez… — ele é vago. 
— Você estaria disposto a participar de uma sessão de fotos? — Minha
voz é estridente novamente. Kate estaria no sétimo céu se eu puder tirá-las.
E você pode vê-lo novamente amanhã, sussurra sedutoramente para mim
aquele lugar escuro na base de meu cérebro. Eu descarto a ideia, tola e
ridícula…
 — Kate ficará encantada se nós pudermos achar um fotógrafo. — Eu
estou tão contente, eu sorrio para ele amplamente. Seus lábios abrem como
se ele estivesse tomando um influxo forte de ar, e ele pisca. Por uma fração
de segundo, ele parece perdido de alguma maneira, e a Terra se desloca
ligeiramente sobre seu eixo, as placas tectônicas resvalam para uma nova
posição. 
 Meu Deus. O olhar perdido de Christian Grey. 
— Avise-me sobre amanhã. — Alcançando seu bolso de trás, ele retira
sua carteira. — Meu cartão. Tem meu número do celular nele. Você precisa
chamar antes das dez da manhã. 
 — Ok. — Eu sorrio para ele. Kate vai ficar emocionada. 
— ANA! 
Paul se materializou do outro lado no final do corredor. Ele é o irmão
mais novo do Sr. Clayton. Eu ouvi que ele estava em casa de Princeton, mas
eu não estava esperando vê-lo hoje. 
— Ah, com licença por um momento, Sr. Grey. — Grey faz um cara
feia quando eu me afasto dele. 
 Paul sempre foi um amigo, e neste momento estranho que eu estou
tendo com o rico, poderoso, impressionante fora de comparação, atraente e
controlador, é ótimo conversar com alguém que seja normal. Paul me abraça
apertado pegando-me de surpresa. 
— Ana, oi, é tão bom ver você! — Ele esguicha. 
— Oi Paul, como você está? Você está em casa para o aniversário de
seu irmão? 
— Sim. Você está parecendo bem, Ana, realmente bem. — Ele sorri
enquanto ele me examina de certa distancia. Então ele me libera, mas
mantém um braço possessivo caído sobre meu ombro. Eu me embaralho de
um pé para outro, envergonhada. É bom ver Paul, mas ele sempre foi muito
familiar. 
 Quando eu olho para Christian Gray, ele está nós observando como
um falcão, seus olhos cinza encobertos e especulativos, sua boca uma dura
linha impassível. Ele mudou de forma estranha, do cliente atento para outra
pessoa, alguém frio e distante. 
— Paul, eu estou com um cliente. Alguém que você deve conhecer, —
eu digo, tentando desarmar o antagonismo que eu vejo nos olhos de Grey. 32

Eu arrasto Paul acima para encontrá-lo, e eles se medem um ao outro. A
atmosfera de repente é ártica. 
— Ah, Paul, este é Christian Gray. Sr. Grey, este é Paul Clayton. Seu
irmão é o dono do lugar. — E por alguma razão irracional, eu sinto que eu
tenho que explicar um pouco mais. 
 — Eu conheço Paul desde que eu trabalho aqui, entretanto nós não
nos vemos com frequência. Ele chegou de Princeton onde ele está estudando
administração de empresas. — Eu estou balbuciando… Pare, agora! 
 — Sr. Clayton. — Christian sustenta seu aperto, seu olhar ilegível. 
— Sr. Grey, — Paul retorna seu aperto de mão. — Espere, não
Christian Grey? Da Grey Holdings Enterprise? — Paul vai de mal humorado
para impressionado em menos de um nano segundo. Grey lhe dá um sorriso
cortês que não alcança seus olhos. 
 — Uau, há alguma coisa em que eu possa ajudá-lo?  
— Anastásia tem me ajudado, Sr. Clayton. Ela tem sido muito
atenciosa. — Sua expressão é impassível, mas suas palavras… é como se ele
estivesse dizendo outra coisa completamente diferente. É desconcertante. 
 — Legal, — Paul responde. — Vejo você mais tarde, Ana. 
 — Certo, Paul. — Eu assisto-o desaparecer em direção á sala de
estoque. — Mais alguma coisa, Sr. Grey? 
 — Só estes itens. — Seu tom é cortante e frio. Porra… eu o ofendi?
Respirando fundo, eu viro e dirijo-me ao caixa. Qual é o seu problema?  
 Eu carrego a corda, macacões, fita adesiva e as braçadeiras até o
caixa. 
— Isso deu quarenta e três dólares, por favor. — Eu olho para Grey, e
desejei não ter feito isso. Ele está me observando de perto, seus olhos cinza
intensos e escurecidos. É enervante. 
 — Você gostaria de uma sacola? — Eu pergunto enquanto eu pego seu
cartão de crédito. 
— Por favor, Anastásia. — Sua língua acaricia meu nome, e meu
coração mais uma vez fica frenético. 
E mal posso respirar. Apressadamente, eu coloco suas compras em
uma sacola de plástico. 
— Você me liga se você quiser que eu faça a sessão de fotos? — Ele é
todos negócios mais uma vez. Eu aceno, sem palavras mais uma vez, e
devolvo seu cartão de crédito. 
 — Ótimo. Até amanhã talvez. — Ele vira-se para partir, depois faz uma
pausa. — Ah, e Anastásia, eu estou feliz que a Senhorita Kavanagh não pôde
fazer a entrevista. — Ele sorri, então anda a passos largos com o propósito
renovado para fora da loja, atirando a sacola plástica acima de seu ombro,
deixando-me uma massa trêmula e furiosa de hormônios femininos. Eu
passo vários minutos olhando fixamente para a porta fechada pela qual ele
acabou de sair antes de retornar ao planeta Terra.  Certo, eu gosto dele. Eu admito, isto para mim mesma. Eu não posso
esconder meu sentimento mais. Eu nunca me senti assim antes. Eu o acho
atraente, muito atraente. Mas ele é uma causa perdida, eu sei, e eu suspiro
com um pesar agridoce. Foi apenas uma coincidência, sua vinda aqui. Mas
ainda assim, eu posso admirá-lo de longe, certamente? Nenhum dano pode
resultar disto. E se eu encontrar um fotógrafo, eu posso seriamente
contemplá-lo amanhã. Eu mordo meu lábio em antecipação e eu me
encontro sorrindo como uma colegial. Eu preciso telefonar para Kate e
organizar uma sessão de fotos. 
                     
8


Capítulo 01

Eu olho com frustração para mim mesma no espelho. Maldito cabelo,
ele simplesmente não se comporta, e maldita Katherine Kavanagh por estar
doente e me sujeitar a esta provação. Eu devia estar estudando para meus
exames finais, que será na semana que vem, mas estou aqui tentando
escovar meus cabelos até que eles se submetam. Eu não devo dormir com
ele molhado. Eu não devo dormir com ele molhado.  Recitando esta ladainha
várias vezes, eu tento, mais uma vez, deixa-los sob controle com a escova.
Eu reviro meus olhos em exasperação e olho para a pálida menina de
cabelos castanhos com olhos azuis muito grandes para seu rosto, olhando
fixamente de volta para mim, e desisto. Minha única opção é conter meu
cabelo rebelde em um rabo-de-cavalo e esperar que eu pareça meio
apresentável. 
 Kate é minha companheira de quarto, e ela escolheu justamente
hoje para sucumbir à gripe. 
Então, ela não podia comparecer a entrevista que ela agendou,
com algum magnata mega industrial que eu nunca ouvi falar, para o jornal
estudantil. Então eu tive que me voluntariar. Eu tenho exames finais para
estudar, uma redação para terminar, e eu devia estar trabalhando esta
tarde, mas não, hoje eu tenho que dirigir duzentos e sessenta e cinco
quilômetros para o centro de Seattle a fim de encontrar o enigmático CEO1

da Grey Enterprises Holdings Inc. Como um empresário excepcional e
benfeitor importante de nossa Universidade, seu tempo é
extraordinariamente precioso, muito mais precioso que o meu, mas, ele
concedeu a Kate uma entrevista. Um verdadeiro golpe de sorte, ela me disse.
Maldita atividades extracurriculares dela. 
Kate está encolhida no sofá na sala de estar. 
— Ana, eu sinto muito. Demorei nove meses para conseguir esta
entrevista. Levará outros seis para reagendar, e nós duas vamos estar
formadas até lá. Como editora, eu não posso estragar isto. Por favor, — Kate
me implora em sua voz rouca, de garganta inflamada. Como ela faz isto?
Mesmo doente ela parecia atrevida e magnífica, com cabelos ruivos dourados
                                                          
1
 CEO – no original - Chief Executive Officer – Diretor Executivo 9

e olhos verdes brilhantes, embora agora avermelhados e com coriza nasal.
Eu ignoro minha pontada de simpatia indesejada. 
— Claro que eu vou Kate. Você deve voltar para a cama. Você gostaria
de um pouco de Nyquil ou Tylenol?
2
 
— Nyquil, por favor. Aqui estão às perguntas e meu mini-gravador.
Apenas aperte gravar aqui. Faça anotações e eu transcreverei tudo. 
— Eu não sei nada sobre ele, — eu murmuro, tentando e falhando
em suprimir meu pânico crescente. 
— As perguntas virão ao seu encontro. Vá. É uma longa viagem. Eu
não quero que você se atrase. 
— Ok, eu estou indo. Volte para a cama. Eu fiz uma sopa para você
aquecer mais tarde. — Eu olho para ela ternamente.  Só por você, Kate, eu
farei isto. 
— Eu sei. Boa sorte. E obrigado Ana, como sempre, você é minha
salvadora.
Juntando minha mochila, eu sorrio ironicamente para ela, então me
dirijo porta afora para o carro. Eu não posso acreditar que eu deixei Kate me
convencer disto. Entretanto, Kate pode convencer qualquer um de qualquer
coisa. 
Ela vai ser uma jornalista excepcional. Ela é articulada, forte,
persuasiva, argumentativa, bonita e ela é minha mais querida, querida
amiga. 
As estradas estão limpas quando eu parto de Vancouver, com acesso
a Washington em direção a Portland e a I-5. É cedo, e eu não tenho que
estar em Seattle até às duas da tarde. Felizmente, Kate me emprestou seu
desportivo Mercedes CLK. Eu não tenho certeza se Wanda, meu velho
besouro VW, faria a jornada a tempo. Oh, o Merc. é uma diversão de dirigir,
e as milhas escapam quando eu piso no pedal até o fundo. 
Meu destino é a sede global da empresa do Sr. Grey. É um edifício
comercial enorme de vinte andares, todo em vidro curvo e aço, uma
estrutura arquitetônica fantástica, com Grey House3
 escrito discretamente
em aço acima das portas de vidro dianteiras. É uma e quarenta e cinco
quando eu chego, estou tão aliviada de não estar atrasada quando eu entro
na enorme, e francamente intimidante portaria de vidro e aço, em arenito
branco. 
Atrás do balcão de arenito sólido, uma muito atraente, adestrada,
jovem loira sorri agradavelmente para mim. Ela está vestindo um terninho
carvão e camisa branca, mais elegante que eu já vi. Ela parece imaculada. 
— Eu estou aqui para ver o Sr. Grey.  Anastásia Steele por Katherine
Kavanagh.  
                                                          
2
 Marcas de remédios para resfriado
3
Casa Grey
— Com licença um momento, Senhorita Steele. — Ela arqueia sua
sobrancelha ligeiramente quando eu permaneço conscientemente diante
dela. Eu começo a desejar que eu ter pegado emprestado um dos blazers
formais de Kate em lugar de vestir minha jaqueta azul marinho. Eu fiz um
esforço e vesti minha única saia, minhas comportadas botas marrons até os
joelhos e um suéter azul. Para mim, isto é inteligente. Eu enfio um dos
fugitivos tentáculos de meus cabelos para trás de minha orelha enquanto eu
finjo que ela não me intimida. 
— Senhorita Kavanagh é esperada. Por favor, registre-se aqui,
Senhorita Steele. Você irá até o último elevador à direita, pressione para o
vigésimo andar. — Ela sorri amavelmente para mim, divertida, sem dúvida,
quando eu me registro. 
Ela me dá um crachá de segurança que tem VISITANTE muito
firmemente estampado na frente. Eu não posso evitar meu sorriso.
Certamente é óbvio que eu estou só de visita. Eu não encaixo aqui mesmo. 
10

Nada muda, eu interiormente suspiro. Agradecendo a ela, eu
caminho para o banco de elevadores passando os dois homens da segurança
que estão muito mais bem vestidos do que eu estou, em seus ternos pretos
bem cortados. 
O elevador me leva rapidamente com máxima velocidade para o
vigésimo andar. As portas deslizam abrindo, e eu estou em outra grande
entrada, mais uma vez toda em vidro, aço e arenito branco. Eu sou
confrontada por outra mesa de arenito e outra jovem loira vestida
impecavelmente em preto e branco, que levanta para me saudar. 
— Senhorita Steele, você poderia esperar aqui, por favor? — Ela
aponta para uma área acomodada por cadeiras de couro branco. 
Atrás das cadeiras de couro está uma espaçosa sala de reunião
envidraçada, cercada por uma mesa de madeira escura, igualmente
espaçosa e pelo menos vinte cadeiras harmonizadas ao redor dela. Além
disto, tinha uma janela do chão ao teto com uma visão do horizonte de
Seattle, que mostrava a cidade em direção ao Sound.
4
 É uma vista
deslumbrante, e eu fico momentaneamente paralisada pela visão. Uau. 
Eu me sento, pesco as perguntas de minha mochila, e dou uma
repassada nelas, amaldiçoando interiormente Kate por não me fornecer uma
breve biografia. Eu não conheço nada sobre este homem que estou para
entrevistar. Ele pode ter noventa anos ou pode ter trinta. A incerteza está me
irritando, e meus nervos ressurgem, fazendo com que eu fique incomodada.
Eu nunca fico confortável com uma entrevista em pessoa, preferindo o
anonimato de uma discussão de grupo onde eu posso me sentar
imperceptivelmente na parte de trás da sala. Para ser honesta, eu prefiro
minha própria companhia, lendo um romance clássico britânico, enrolada
                                                          
4
 Puget Sound  É um complexo estuário em Seattle com sistema de canais e bacias marinhas interligados, com uma
grande conexão para o Estreito de Juan de Fuca e do Oceano Pacífico. 11

em uma cadeira na biblioteca do campus. Não sentada se contorcendo
nervosamente em um colossal edifício de vidro e pedra. 
Eu reviro meus olhos para mim mesma. Mantenha o controle, Steele. 
A julgar pelo edifício, que é muito clínico e moderno, eu imagino que Grey
está em seus quarenta: em forma, bronzeado, e de cabelos loiros para
combinar com o resto do pessoal. 
Outra elegante, impecavelmente vestida loira sai de uma grande porta
à direita. O que é isso tudo com as loiras imaculadas? É como Stepford5

aqui. Respirando fundo, eu me levanto. — Senhorita Steele? — A mais
recente loira pergunta. 
— Sim, — eu coaxo, e clareio minha garganta. — Sim. — Agora, isto
soou mais confiante. 
— O Sr. Grey irá recebê-la em um momento. Eu posso pegar seu
casaco?
— Oh, por favor. — Eu luto para tirar a jaqueta. 
— Já foi oferecido a você alguma bebida?
— Hum, não. — Oh Deus, a Loira Número Um está em problemas? 
A Loira Número Dois franziu o cenho e olhou a jovem na
escrivaninha. 
— Você gostaria de um chá, café, água? — Ela pergunta, voltando
sua atenção para mim. 
— Um copo de água. Obrigada, — eu murmuro. 
— Olivia, por favor, vá buscar para Senhorita Steele um copo de
água. — A voz dela é grave. Olivia foge imediatamente e se apressa para uma
porta no outro lado do saguão. 
— Minhas desculpas, Senhorita Steele, Olivia é nossa nova estagiária.
Por favor, sente-se. O Sr. Grey levará mais cinco minutos.
Olivia retorna com um copo de água gelada. 
— Aqui está, Senhorita Steele.
— Obrigada. 
A Loira Número Dois marcha para a grande escrivaninha, seus saltos
clicando e ecoando no chão de arenito. Ela se senta, e ambas continuam seu
trabalho. 
Talvez o Sr. Grey insista que todos os seus empregados sejam loiros.
Eu me pergunto ociosamente se isto é legal, quando a porta do escritório
abre e um alto, elegantemente vestido, atraente homem Afro-Americano com
curtos dreads sai. Eu definitivamente vesti as roupas erradas. 
Ele se vira e diz pela porta. — Golfe, esta semana, Grey. 
                                                          
5
 The Stepford Wives (Mulheres Perfeitas ou As Possuídas, disponível no mercado literário brasileiro com ambos os
títulos) é um romance de 1972 escrito por Ira Levin, baseados no qual foram lançados dois filmes homônimos:
em 1975 e em 2004.
 12

Eu não ouço a resposta. Ele vira-se, me vê, e sorri, seus olhos
escuros enrugando nos cantos. Olivia salta e chama o elevador. Ela parece
se destacar em pular de sua cadeira. Ela está mais nervosa que eu! 
— Boa tarde, senhoras, — ele diz enquanto parte pela porta
deslizante. 
— O Sr. Grey verá você agora, Senhorita Steele.  Siga-me, — A Loira
Numero Dois diz. 
Eu estou bastante tremula tentando suprimir meus nervos. Juntando
minha mochila, eu abandono meu copo de água e faço meu caminho para a
porta parcialmente aberta. 
— Você não precisa bater, apenas entre. — Ela amavelmente sorri. 
Eu empurro a porta aberta e cambaleio, tropeçando em meus
próprios pés, e caio de cabeça dentro do escritório. 
Merda dupla: eu e meus dois pés esquerdos! Eu estou em minhas
mãos e de joelhos na porta de entrada do escritório do Sr. Grey, e mãos
gentis estão ao meu redor me ajudando a levantar. Eu estou tão
envergonhada, maldita falta de jeito. Eu tenho que lançar meu olhar para
cima. Puta que pariu, ele é tão jovem. 
— Senhorita Kavanagh. — Ele estende uma mão com longos dedos
para mim, uma vez que eu fico de pé. — Eu sou Christian Grey. Você está
bem? Você gostaria de se sentar?
 Tão jovem, e atraente, muito atraente. Ele é alto, vestido em um fino
terno cinza, camisa branca e gravata preta, com incontroláveis cabelos cor
de cobre e intensos, luminosos olhos cinza claro que me observam
astutamente. Leva um momento para eu encontrar minha voz.     
       — Hum hum. Perfeitamente — eu murmuro. Se este cara está
acima dos trinta então eu sou o tio Macaco.
6
 Em uma confusão, eu coloco
minha mão na dele e nós levamos um choque. Quando nossos dedos se
tocam, eu sinto um estimulante e estranho calafrio, correndo através de
mim. Eu retiro minha mão apressadamente, envergonhada. Deve ser
estática. Eu pisco rapidamente, minhas pálpebras harmonizando minha
frequência cardíaca. 
— A Senhorita Kavanagh está indisposta, então ela me enviou. Eu
espero que você não se importe, Sr. Grey.
— E você é? — Sua voz é morna, possivelmente divertida, mas é
difícil dizer por sua expressão impassível. Ele parece ligeiramente
interessado, mas acima de tudo, educado.  
— Anastásia Steele. Eu estudo Literatura inglesa com Kate, hum…
Katherine… hum… Senhorita Kavanagh do Estado de Washington.
                                                          
6
 Expressão idiomática que se refere a uma expressão de um filme americano, quando você fica muito
surpreso 13

— Entendo, — ele simplesmente diz. Eu penso ver um fantasma de
um sorriso em sua expressão, mas eu não estou certa. — Você gostaria de se
sentar? — Ele acena em direção a um sofá de couro branco em forma de L. 
Seu escritório é muito grande para um homem só. Na frente das
janelas que vão do chão ao teto, há uma enorme escrivaninha moderna de
madeira escura, que seis pessoas poderiam comer confortavelmente ao
redor. Combinando a mesa de café com o sofá. Todo o resto é branco, teto,
pisos e paredes, exceto, a parede perto da porta, onde estava um mosaico
pendurado de pequenas pinturas, trinta e seis delas dispostas em um
quadrado. Elas são primorosas, uma série de objetos mundanos esquecidos,
pintados com tal detalhe preciso que eles parecem com fotografias. Exibidos
juntos, eles são de tirar o fôlego. 
— Um artista local. Trouton, — Grey diz quando ele pega meu olhar. 
— Elas são adoráveis. Elevando o ordinário para o extraordinário, —
eu murmuro distraída, tanto por ele como pelas pinturas. Ele vira sua
cabeça para um lado e me fixa atentamente. 
— Eu concordo plenamente, Senhorita Steele, — ele responde, sua
voz suave e por alguma razão inexplicável eu me encontro corando.
Além das pinturas, o resto do escritório era frio, limpo e clínico. Eu
me pergunto se isto reflete a personalidade do Adônis, que afunda
graciosamente em uma das cadeiras de couro branco á minha frente. Eu
agito minha cabeça, transtornada com a direção de meus pensamentos, e
recupero as perguntas de Kate da minha mochila. Em seguida, eu instalo o
mini gravador e sou toda dedos e polegares, o deixando cair uma segunda
vez na mesa de café à minha frente. O Sr. Grey não diz nada, esperando
pacientemente “eu espero” enquanto eu me torno cada vez mais
envergonhada e frustrada. Quando eu tomo coragem para olhá-lo, ele está
me observando, uma mão relaxada em seu colo e a outra embaixo de seu
queixo e arrastando o seu longo dedo indicador através de seus lábios. Eu
acho que ele está tentando conter um sorriso. 
— Desculpe-me, — eu gaguejo. — Eu não estou acostumada a isto. 
— Leve o tempo que você precisar, Senhorita Steele, — ele diz. 
— Você se importa se eu gravar suas respostas? 
— Depois que você teve tantas dificuldades para instalar o gravador,
agora que você me pergunta? 
Eu coro. Ele está tirando sarro de mim? Eu espero. Eu pisco para ele,
sem saber o que dizer, e acho que ele fica com pena de mim porque ele cede.
— Não, eu não me importo. 
— Será que Kate, eu quero dizer, a Senhorita Kavanagh, explicou
para o que é a entrevista?
— Sim. Para aparecer na edição de graduação do jornal estudantil
quando eu outorgar o diploma na cerimônia de graduação deste ano.  14

Oh!   Isto é novidade para mim, e eu estou temporariamente
preocupada pelo pensamento de que alguém não muito mais velho do que
eu, Ok, talvez uns seis anos mais ou menos, e ok, mega- bem sucedido, mas,
ainda assim, vai me apresentar em minha licenciatura. Eu franzo a testa,
arrastando minha teimosa atenção de volta à tarefa à mão. 
— Bem, — eu engulo nervosamente. — Eu tenho algumas perguntas,
Sr. Grey. — Eu aliso um cacho perdido de cabelo atrás de minha orelha. 
— Eu achei que você teria, — ele diz, impassível. Ele está rindo de
mim. Minhas bochechas esquentam com a percepção, e eu me sento reta e
enquadro meus ombros em uma tentativa de parecer mais alta e mais
intimidante. Apertando o botão iniciar do gravador, eu tento parecer
profissional. 
— Você é muito jovem para ter acumulado tal império. Há que você
deve seu sucesso? — Eu olho para ele. Seu sorriso é arrependido, mas ele
parece vagamente desapontado.
— Negócios é tudo sobre pessoas, Senhorita Steele e eu sou muito
bom em julgar as pessoas. Eu sei como elas marcam, o que as faz florescer,
o que não faz, o que as inspira, e como incentivá-las. Eu emprego um time
excepcional, e eu os recompenso bem. — Ele pausa e me fixa com seu olhar
cinza. — Minha convicção é de alcançar o sucesso em qualquer esquema,
alguém tem que se fazer mestre deste esquema, conhecê-lo de dentro para
fora, saber todos os detalhes. Eu trabalho duro, muito duro para fazer isto.
Eu tomo decisões baseadas em lógica e fatos. Eu tenho um instinto natural
que pode localizar e nutrir uma boa ideia sólida e boas pessoas. O resultado
final é sempre estabelecido para as boas pessoas. 
— Talvez você seja apenas sortudo. — Isto não está na lista de Kate,
mas ele é tão arrogante. Seus olhos chamejam momentaneamente em
surpresa. 
— Eu não acredito em sorte ou azar, Senhorita Steele. Quanto mais
duro eu trabalho mais sorte eu pareço ter. Realmente é tudo sobre ter as
pessoas certas em seu time e dirigindo suas energias neste sentido. Eu acho
que foi Harvey Firestone quem disse “o crescimento e desenvolvimento das
pessoas é a maior vocação de liderança.
— Você soa como um maníaco por controle. — As palavras saíram de
minha boca antes que eu possa detê-las. 
— Oh, eu exerço controle em todas as coisas, Senhorita Steele, — ele
diz sem rastro de humor em seu sorriso. Eu olho para ele, e ele segura o
meu olhar continuamente, impassível. Meu batimento cardíaco acelera, e
meu rosto fica corado novamente. 
Por que ele tem tal efeito irritante sobre mim? Sua beleza opressiva
talvez? O modo como seus olhos brilham para mim? O modo como ele
acaricia com o dedo indicador seu lábio inferior? Eu gostaria que ele parasse
de fazer isto.  15

— Além disso, o imenso poder é adquirido assegurando-se em seus
devaneios secretos, que você nasceu para controlar as coisas, — ele
continua, sua voz suave. 
— Você sente que tem imenso poder? — Maníaco por controle. 
— Eu emprego mais de quarenta mil pessoas, Senhorita Steele. Isso
me dá certo sentido de responsabilidade.... poder, se assim prefere. Se
decidisse que já não me interesso mais pelos negócios de telecomunicações e
vendesse tudo, vinte mil pessoas teriam grandes dificuldades em pagar suas
hipotecas no final do mês então. 
Minha boca abriu. Eu estou espantada pela sua falta de humildade. 
— Você não tem um conselho ao qual responder? — Eu pergunto,
repugnada. 
— Eu possuo a minha empresa. Eu não tenho que responder para
um conselho. — Ele levanta uma sobrancelha para mim. 
Eu ruborizo. Claro, eu saberia disto se eu tivesse feito alguma
pesquisa. Mas puta merda, ele é tão arrogante. Eu mudo de rumo. 
— E você tem algum interesse fora de seu trabalho?
— Eu tenho interesses variados, Senhorita Steele. — A sombra de um
sorriso toca seus lábios. — Muito variado. — E por alguma razão, eu estou
confusa e inflamada por seu olhar firme. Seus olhos estão iluminados com
algum pensamento mau. 
— Mas se você trabalha tão duro, o que você faz para relaxar?
— Relaxar? — Ele sorri, revelando dentes brancos perfeitos. 
Eu paro de respirar. Ele realmente é lindo. Ninguém devia ser tão
bonito. 
— Bem, para “relaxar” como você diz, eu velejo, eu vôo, eu desfruto
de várias atividades físicas. 
Ele desloca-se em sua cadeira. — Eu sou um homem muito rico,
Senhorita Steele e tenho passatempos caros e absorventes. 
Eu olho depressa as perguntas de Kate, querendo sair deste assunto. 
 — Você investe em fabricação. Por que, especificamente? — Eu
pergunto. Por que ele me faz tão desconfortável? 
 — Eu gosto de construir coisas. Eu gosto de saber como as coisas
funcionam: o que torna as coisas marcantes, como construir e destruir. E eu
tenho um amor por navios. O que eu posso dizer?
 — Isso soa como seu coração falando, em lugar da lógica e fatos. 
 Ele faz trejeitos com a boca, e olha de forma avaliadora para mim. 
 — Possivelmente. Embora existem pessoas que diriam que eu não
tenho coração. 
 — Por que eles diriam isto?
— Porque eles me conhecem bem. — Seu lábio enrola em um sorriso
irônico.  16

— Seus amigos dizem que você é fácil de conhecer? — E eu lamento a
pergunta assim que eu falo. Não está na lista de Kate. 
 — Eu sou uma pessoa muito privada, Senhorita Steele. Eu percorro
um caminho longo para proteger minha privacidade. Eu não costumo dar
entrevistas, — ele vagueia. 
 — Por que você concordou em fazer esta aqui?
— Porque eu sou um benfeitor da Universidade, e para todos os
efeitos, eu não consegui tirar a Senhorita Kavanagh de minhas costas. Ela
insistiu e insistiu com meu pessoal de Relações Públicas, e eu admiro esse
tipo de tenacidade. 
 Eu sei o quanto Kate pode ser tenaz. É por isso que eu estou sentada
aqui me contorcendo desconfortavelmente, sob o seu olhar penetrante,
quando eu tinha que estar estudando para meus exames. 
 — Você também investe em tecnologias agrícolas. Por que você está
interessado nesta área?
— Nós não podemos comer dinheiro, Senhorita Steele, e existem
muitas pessoas neste planeta que não tem o suficiente para comer. 
— Isso soa muito filantrópico. É algo que você sente
apaixonadamente? Alimentar os pobres do mundo?
 Ele encolhe os ombros, muito reservado. 
— É um negócios astuto, — ele murmura, entretanto eu penso que ele
não está sendo sincero. Isso não faz sentido, alimentar os pobres do mundo?
Eu não posso ver os benefícios financeiros disto, só a virtude do ideal. Eu
olho para a próxima pergunta, confusa por sua atitude. 
 — Você tem uma filosofia? Nesse caso, qual é?
— Eu não tenho uma filosofia como essa. Talvez um princípio do
orientador Carnegie: “Um homem que adquire a habilidade de tomar posse
completa de sua própria mente, pode tomar posse de qualquer outra coisa a
que ele por justiça tem direito”. Eu sou muito peculiar, impulsivo. Eu gosto
de controlar, a mim mesmo e aqueles ao meu redor. 
 — Então você quer possuir coisas? — Você é um maníaco por controle. 
 — Eu quero merecer possuí-las, mas sim, no resultado final, eu quero. 
 — Você soa como o consumidor irrevogável. 
— Eu sou. — Ele sorri, mas o sorriso não toca seus olhos. Novamente
isto está em conflito com alguém que quer alimentar o mundo, então eu não
posso evitar pensar que nós estamos conversando sobre outra coisa, mas eu
estou absolutamente confusa sobre o que é isto. Eu engulo em seco. A
temperatura na sala está subindo ou talvez seja apenas eu. Eu só quero que
esta entrevista termine. Seguramente Kate tem material suficiente agora? Eu
olho para a próxima pergunta. 
 — Você foi adotado. Até que ponto você acha que isto formou o que
você é? — Oh, isto é pessoal. Eu fico olhando para ele, esperando que ele
não se ofenda. Sua testa enruga.  17

— Eu não tenho como saber. 
Meu interesse é despertado. 
— Que idade você tinha quando você foi adotado?
— Esta é uma questão de registro público, Senhorita Steele. — Seu
tom é duro. Eu ruborizo, novamente. Merda.  
 Sim claro que, se eu soubesse que eu faria esta entrevista, eu teria
feito algumas pesquisas. 
 Eu continuo depressa. 
— Você teve que sacrificar uma vida familiar por seu trabalho.  
 — Isto não é uma pergunta. — Ele é conciso. 
— Desculpe. — Eu me contorço, e ele me faz sentir como uma criança
errante. Eu tento novamente. — Você teve que sacrificar uma vida em família
por seu trabalho?
 — Eu tenho uma família. Eu tenho um irmão e uma irmã e pais
amorosos. Eu não estou interessado em estender minha família além disto. 
— Você é gay, Sr. Grey?
Ele inala bruscamente, e eu me encolho, mortificada. Merda.  Por que
eu não empreguei algum tipo de filtro antes de eu ler em voz alta a
pergunta? Como eu posso dizer a ele que eu estou só lendo as perguntas? 
 Maldita Kate e sua curiosidade! 
— Não Anastásia, eu não sou. — Ele levanta suas sobrancelhas, um
brilho frio em seus olhos. Ele não parece contente. 
 — Eu peço desculpas. Isto está hum… escrito aqui. — É a primeira vez
que ele disse meu nome. Meu batimento cardíaco acelera, e minhas
bochechas estão aquecendo novamente. Nervosamente, eu coloco meu
cabelo solto atrás da minha orelha. 
 Ele dobra sua cabeça para um lado. 
— Estas não suas próprias perguntas?
 O sangue drena de minha cabeça. Oh não. 
— Éee… não. Kate, a Srta. Kavanagh, ela compilou as perguntas.  
 — Vocês são colegas no jornal estudantil? — Oh Merda.  Eu não tenho
nada a ver com o jornal estudantil. É a atividade extracurricular dela, não
minha. Meu rosto está em chamas. 
 — Não. Ela é minha companheira de quarto.  
 Ele esfrega seu queixo em deliberação calma, seus olhos cinza me
avaliando. 
— Você se voluntariou para fazer esta entrevista? — Ele pergunta, sua
voz mortalmente calma. 
 Espere, quem deveria estar entrevistando quem? Seus olhos queimam
em cima de mim, e eu sou obrigada a responder com a verdade. 
 — Eu fui sorteada. Ela não está bem. — Minha voz é fraca e
apologética. 
 — Isso explica muita coisa.  Há uma batida na porta, e a loira Numero Dois entra. 
 — Sr. Grey, perdoe-me por interromper, mas sua próxima reunião será
em dois minutos. 
 — Nós não terminamos aqui, Andrea. Por favor, cancele minha
próxima reunião. 
 Andrea fica boquiaberta, sem saber o que falar.  Ela parece perdida.
Ele vira a cabeça lentamente para encará-la e levanta sua sobrancelha. Ela
ruboriza escarlate. Oh bem. Ainda bem que eu não sou a única.  
 — Muito bem, Sr. Grey, — ela murmura, depois saí. Ele franze a testa,
e volta sua atenção para mim. 
 — Onde nós estávamos, Senhorita Steele?
Oh, nós voltamos a “Srta. Steele” agora. 
 — Por favor, não gostaria de atrapalhar suas obrigações.
— Eu quero saber sobre você. Eu acho que isto é justo. — Seus olhos
cinza estão acesos de curiosidade. Duas vezes merda. Onde ele está indo
com isto? Ele coloca seus cotovelos nos braços da cadeira e coloca seus
dedos na frente de sua boca. Sua boca tão… dispersiva. Eu engulo seco. 
 — Não existe muito para saber, — eu digo, ruborizando novamente. 
 — Quais são seus planos depois que você se formar?
 Eu encolho os ombros, seu interesse me desconcerta. Ir para Seattle
com Kate, achar um lugar, achar um emprego.  Eu realmente não pensei além
do meus exames finais. 
 — Eu não fiz quaisquer planos, Sr. Grey. Eu só preciso passar nos
meus exames finais. 
Para o qual eu devia estar estudando no momento, em lugar de me
sentar em seu palaciano ostentoso, seu escritório estéril, sentindo-me
desconfortável sob seu penetrante olhar. 
 — Nós temos um excelente programa de estágio aqui, — ele diz
calmamente. Eu levanto minhas sobrancelhas em surpresa. Ele está me
oferecendo um emprego? 
 18

 — Oh. Eu vou pensar nisto, — eu murmuro, completamente confusa.
— Ainda que eu não tenha certeza se me encaixaria aqui. — Oh não. Eu
estou refletindo em voz alta novamente. 
 — Por que você diz isto? — Ele dobra sua cabeça para um lado,
intrigado, uma sugestão de um sorriso toca seus lábios.  
 — É óbvio, não é? — Eu não tenho coordenação, sou desleixada e não
sou loira. 
 — Não para mim, — ele murmura. Seu olhar é intenso, todo o humor
tinha desaparecido, e estranhos músculos profundos em minha barriga
apertam de repente. Eu desvio meus olhos do seu olhar minucioso e olho
cegamente para baixo em meus dedos atados. O que está acontecendo?  Eu
tenho que sair, agora. Eu me inclino para frente para recuperar o gravador. 
 — Você gostaria que eu mostrasse ao redor? — Ele pergunta.  19

— Eu estou certa que você está extremamente ocupado, Sr. Grey, e eu
tenho uma longa viagem.
 — Você vai dirigindo de volta para a WSU7
 em Vancouver? — Ele soa
surpreso, ansioso até. Ele olha para fora da janela. Está começado a chover.
— Bem, é melhor você dirigir com cuidado. — Seu tom é severo, autoritário.
Por que ele deveria se importar? — Você conseguiu tudo o que precisa? —
Ele adiciona. 
 — Sim senhor, — eu respondo, embalando o gravador em minha
mochila. Seus olhos se estreitam, como estivesse pensando. 
 — Obrigada pela entrevista, Sr. Grey. 
— O prazer foi todo meu, — ele diz, cortês como sempre. 
 Quando eu me ergo, ele se levanta e estende sua mão. 
 — Até a próxima, Senhorita Steele. — E isso soa como um desafio, ou
uma ameaça, eu não estou certa de qual. Eu franzo a testa. Quando será
que nós vamos encontrarmos novamente? Eu aperto sua mão mais uma vez,
surpresa que esta estranha corrente entre nós ainda está lá. Deve ser meus
nervos. 
 — Sr. Grey. — Despeço-me dele com um movimento de cabeça. 
Ele se dirige a porta com graça e agilidade.  E abre a porta totalmente.
 — Só assegurando que você passe pela porta, Senhorita Steele. — Ele
me dá um pequeno sorriso. 
 Obviamente, ele está referindo-se a minha entrada nada elegante, mais
cedo em seu escritório. Eu coro. 
 — Muito amável de sua parte, Sr. Grey, — lhe digo bruscamente. 
Seu sorriso se alarga. Eu estou contente que você me ache divertida, eu penso
furiosa interiormente, caminhando para o hall de entrada. Eu fico surpresa
quando ele me segue. Tanto Andrea, quanto Olivia me olham, igualmente
surpresas. 
 — Você tem um casaco? — Grey pergunta. 
 — Sim. — Olivia salta e recupera minha jaqueta, que Grey tira dela
antes que ela possa dar para mim. Ele a segura e me sentindo ridiculamente
tímida, eu coloco os ombros nela. 
 Grey coloca suas mãos por um momento em meus ombros. Eu ofego
com o contato. Se ele nota minha reação, ele não dá pistas. Seu longo dedo
indicador pressiona o botão chamando o elevador, e nós permanecemos
esperando, eu sem jeito, e ele sereno e frio. 
 As portas se abrem, e eu me apresso desesperada para escapar. Eu
realmente preciso sair daqui.   Quando eu viro para olhá-lo, ele está
debruçando contra a entrada ao lado do elevador com uma mão na parede.
Ele é realmente muito, muito bonito. Seus flamejantes olhos cinza olhando
para mim. Desconcerta-me.
 — Anastásia, — ele diz como uma despedida. 
                                                          
7
  WSU – Washington State University – Universidade Estadual de Washington — Christian, — eu respondo. E misericordiosamente, as portas
fecham. 

KEEP
CALM
AND GO
TO THE
PLAYROOM.
 Sinopse
Quando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian
Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente
dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a
despeito da enigmática reserva de Grey, está desesperadamente atraída por
ele. Incapaz de resistir à beleza discreta, à timidez e ao espírito independente
de Ana, Grey admite que também a deseja — mas em seus próprios termos.
Chocada e ao mesmo tempo seduzida pelas estranhas preferências de
Grey, Ana hesita. Por trás da fachada de sucesso — os negócios
multinacionais, a vasta fortuna, a amada família —, Grey é um homem
atormentado por demônios do passado e consumido pela necessidade de
controle. Quando eles embarcam num apaixonado e sensual caso de amor,
Ana não só descobre mais sobre seus próprios desejos, como também sobre
os segredos obscuros que Grey tenta manter escondidos…
39 – O FINAL FELIZ

1 Então houve uma combinação de coisas lá no final, mas o que realmente pegou fogo foi...
Bella 1 Edward estava explicando. Nossa família e os dois convidados que restaram na grande sala
dos Cullen enquanto a floresta ficava escura do lado de fora das grandes janelas.
Vladimir e Stefan sumiram antes que acabássemos de celebrar. Eles estavam muito
decepcionados pela forma como as coisas acabaram, mas Edward disse que eles gostaram tanto
da covardia dos Volturi que isso quase redimiu a frustração deles.
Benjamin e Tia foram rápidos em seguir Amun e Kebi, ansiosos por deixá1los saber o
desfecho do conflito; eu tinha certeza que os veríamos novamente – Benjamin e Tia, pelo menos.
Nenhum dos nômades ficou por muito tempo. Peter e Charlotte tiveram uma breve conversa com
Jasper, e foram embora também.
As Amazonas reunidas estavam ansiosas pra voltar pra casa também – elas tiveram
dificuldades em ficar longe de sua amada floresta – apesar delas estarem mais relutantes para ir
embora do que alguns outros.
1 Você deve trazer a criança para me ver 1 Zafrina insistiu. 1 Prometa1me, jovem.
Nessie tinha colocado a mão em meu pescoço, implorando também.
1 É claro, Zafrina 1 eu concordei.
1 Seremos grandes amigas, minha Nessie 1 a mulher selvagem declarou antes de ir embora
com suas irmãs. 
O clã Irlandês continuou o êxodo.
1 Muito bem, Siobhan 1 Carlisle parabenizou enquanto eles diziam adeus.
1 Ah, o poder do pensamento positivo 1 ela respondeu sarcasticamente, revirando os olhos. E
então ela ficou séria. 1 É claro, isso não está acabado. Os Volturi não vão perdoar o que aconteceu
aqui.
Foi Edward quem respondeu isso. 1 Eles foram seriamente abalados; a sua confiança está
estremecida. Mas, sim, eu tenho certeza que eles irão se recuperar do golpe algum dia. E então...
1 Os olhos dele estreitaram. 1 Eu imagino que eles tentarão nos pegar separadamente.
1 Alice nos avisará quando eles atacarem 1 Siobhan disse com uma voz segura. 1 E vamos
nos juntar novamente. Talvez chegue o tempo em que o nosso mundo esteja completamente livre
dos Volturi.
1 Esse dia pode chegar 1 Carlisle replicou. 1 Se chegar, estaremos juntos.
1 Sim, meu amigo, estaremos 1 Siobhan concordou. 1 E como poderemos falhar quando eu
quero o contrário? 1 Ela deixou escapar uma risada alta.
1 Exatamente 1 Carlisle disse. Ele e Siobhan se abraçaram, e então ele balançou a mão de
Liam. 1 Tente encontrar Alistair e dizer o que aconteceu. Eu odiaria pensar nele escondido embaixo
de uma pedra pela próxima década.
Siobhan riu de novo. Maggie abraçou Nessie e eu, e então o clã Irlandês se foi. Os Denali
foram os últimos a partir, Garrett com eles – como estaria de agora em diante, eu tinha certeza. A
atmosfera de celebração era demais para Tanya e Kate. Elas precisavam ficar de luto por sua irmã
perdida. 
Huilen e Nahuel foram os únicos a ficar, apesar de eu ter achado que esses dois iriam
embora com as Amazonas. Carlisle estava profundamente fascinado numa conversa com Huilen;
Nahuel estava sentado atrás dela, escutando Edward contar o resto da história sobre nosso
conflito como só ele sabia.
1 Alice deu à Aro a desculpa que ele precisava para escapar da luta. Se ele não estivesse tão
aterrorizado de medo de Bella, ele provavelmente teria ido em frente com seu plano original.
1 Aterrorizado? 1 Eu disse ceticamente. 1 Por mim?
Ele sorriu pra mim com uma cara que eu não reconhecia inteiramente – era carinhosa, mas
também surpresa e até exasperada. 1 Quando você vai se ver claramente? 1 ele perguntou
suavemente. Então ele falou mais alto, para os outros e para mim também. 1 Os Volturi não lutam
uma luta justa há cerca de dois mil e quinhentos anos. E eles nunca, nunca lutaram numa em que eles estivessem em desvantagem. Especialmente desde que eles ganharam Jane e Alec, eles só se
envolveram em assassinatos sem oponentes.
1 Vocês deviam ver como nós parecíamos para eles! Geralmente, Alec corta todo o sentido e
sentimento de suas vítimas enquanto eles passam pela charada do conselho. Dessa forma,
ninguém pode correr quando é dada a sentença. Mas lá estávamos nós, prontos, esperando, em
número maior que o deles, com nossos próprios dons enquanto os dons deles eram tornados
inúteis por Bella. Aro sabia que com Zafrina ao nosso lado, os cegos seriam eles quando a batalha
começasse. Eu tenho certeza que o nosso número seria severamente dizimado, mas eles tinham
certeza que o deles também seria. Havia até uma possibilidade deles perderem. Eles nunca
tiveram que lidar com essa possibilidade antes. Hoje eles não lidaram bem com isso.
1 É difícil se sentir confiante estando cercado de lobos do tamanhos de cavalos 1 Emmett riu,
dando um murro no braço de Jake.
Jacob deu um sorriso pra ele.
1 Foram os lobos que os pararam pra começo de história 1 eu disse.
1 Com certeza foram 1 Jacob concordou.
1 Absolutamente 1 Edward concordou. 1 Isso foi outra coisa que eles nunca viram.
Verdadeiras Crianças da Lua raramente andam em bandos, e eles nunca tem muito controle sobre
si mesmos. Dezesseis lobos arregimentados foram uma surpresa que eles não esperavam. Caius
na verdade morre de medo de lobos. Ele quase perdeu uma luta contra um há uns milhares de
anos atrás e nunca esqueceu.
1 Então existem lobisomens de verdade? 1 Eu perguntei. 1 Com lua cheia e balas de prata e
isso tudo?
Jacob bufou. 1 De verdade. Isso faz de mim imaginário?
1 Você sabe o que eu quero dizer.
1 Lua cheia, sim 1 Edward disse. 1 Balas de prata, não – isso foi só mais um daqueles mitos
que os humanos inventaram para sentir que tinham uma chance de vitória. Já não restam muitos
deles. Caius fez que os caçassem até a quase extinção.
1 E você nunca mencionou isso porque...?
1 O assunto nunca apareceu.
Eu rolei os olhos, e Alice riu, se inclinando para a frente – ela estava enfiada debaixo do
outro braço de Edward – pra piscar para mim.
Eu encarei de volta.
Eu a amava insanamente, é claro. Mas agora que eu tinha uma chance de me dar conta de
que ela realmente estava em casa, de que a fuga dela foi apenas um ardil porque Edward tinha
que acreditar que ela havia nos abandonado, eu estava começando a me sentir bastante irritada
com ela. Alice tinha umas explicações para dar.
Alice suspirou. 1 Tire isso do seu peito, Bella.
1 Como você pôde fazer isso comigo, Alice?
1 Foi necessário.
1 Necessário! 1 Eu explodi. 1 Você me deixou totalmente convencida de que todos íamos
morrer! Eu fiquei um caco por semanas!
1 Podia ter sido dessa forma 1 ela disse calmamente. 1 Nesse caso você precisava estar
preparada para salvar Nessie.
Instintivamente, eu abracei Nessie – agora adormecida no meu colo – com mais força em
meus braços.
1 Mas você também sabia que havia outras formas 1 eu acusei. 1 Você sabia que havia
esperança. Será que te ocorreu que você poderia ter me contado tudo? Eu sei que Edward tinha
que pensar que era o fim da linha por causa de Aro, mas você podia ter contado a mim.
Ela olhou especulativamente pra mim por um momento. 1 Eu acho que não 1 ela disse. 1
Você simplesmente não é uma atriz tão boa.
1 O que isso tem a ver com as minhas habilidades em atuação?
1 Oh, Bella, abaixa um pouco o tom. Você tem idéia de como foi complicado arrumar isso tudo? Eu nem podia ter certeza de que Nahuel existia – tudo que eu sabia era que eu estaria
procurando uma coisa que eu não conseguia ver! Tente imaginar procurar um ponto cego – não é
a coisa mais fácil que eu já fiz. Além do mais, precisávamos mandar de volta as testemunhas mais
importantes, como se já não estivéssemos com pressa suficiente. E então manter os olhos abertos
o tempo todo pro caso de vocês decidirem me mandar mais instruções. Em algum ponto você vai
ter que me contar exatamente o que há no Rio. Antes disso tudo, e tinha que tentar ver os
truques que os Volturi podiam inventar e dar a vocês as pequenas pistas que podia sobre a
estratégias deles, e eu tinha apenas algumas horas para traçar as possibilidades. Acima de tudo,
eu tinha que ter certeza de que vocês todos acreditassem que eu os havia abandonado, porque
Aro tinha que ter certeza de que vocês não tinham mais nada escondido na manga, ou ele não
teria se comprometido do jeito que fez. E se você acha que eu não me senti uma babaca –
1 Okay, okay! 1 Eu interrompi. 1 Desculpa! Eu sei que foi difícil pra você também. É só que...
bem, eu senti sua falta feito louca, Alice. Não faça isso comigo de novo.
A risada alegre de Alice ecoou pela sala, e todos nós sorrimos ao ouvir aquela música de
novo. 1 Eu senti sua falta também, Bella. Então me perdoe, e tente se contentar em ser a super1
heroína do dia.
Agora todo mundo riu, e eu escondi meu rosto no cabelo de Nessie, envergonhada.
Edward voltou a analisar todas as mudanças de intenção e controle que aconteceram na
clareira hoje, declarando que foi o meu escudo que fez os Volturi correrem com os rabos entre as
pernas. O jeito que todo mundo olhou pra mim me fez sentir desconfortável. Até Edward. Edward
como se eu tivesse crescido cem metros no curso da manhã. Eu tentei ignorar seus olhares
impressionados, mantendo meus olhos no rosto de Nessie e na expressão de Jacob que não havia
mudado. Para ele eu seria só Bella, e isso era um alívio pra mim.
O olhar mais difícil de ignorar também era o que mais me confundia.
Eu não era como essa meio1humana, meio1vampira como Nahuel havia se acostumado a
pensar em mim. Até onde ele sabia, eu saía por aí detendo ataques de vampiros todos os dias e a
cena de hoje não era nada incomum. Mas o rapaz nunca tirou os olhos de mim. Ou talvez ele
estivesse olhando para Nessie. Isso também me deixou desconfortável.
Ele não podia estar inconsciente do fato de que Nessie era a única fêmea de sua espécie que
não era sua meia irmã.
Eu não achava que essa idéia já tinha ocorrido a Jacob. Eu meio que esperava que não
ocorresse tão logo. Eu já tive brigas suficientes por algum tempo.
Eventualmente, os outros ficaram sem perguntas para Edward, e a discussão se dissolveu
em um monte de conversas menores.
Eu me senti estranhamente cansada. Não sonolenta, é claro, mas exatamente como se o dia
tivesse sido longo o suficiente. Eu queria um pouco de paz, um pouco de normalidade. Eu queria
Nessie na cama dela; queria as paredes da minha própria casinha ao meu redor.
Eu olhei para Edward e por um momento senti que consegui ler a mente dele.
Eu podia ver que ele se sentia da mesma forma. Pronto para um pouco de paz. 
1 Devemos levar Nessie...
1 Essa provavelmente é uma boa idéia 1 ele concordou rapidamente. 1 Eu tenho certeza que
ela não dormiu bem noite passada, com todos aqueles roncos.
Ele sorriu para Jacob.
Jacob revirou os olhos e então bocejou. 1 Já faz um tempo que eu não durmo numa cama.
Eu aposto que meu pai vai ficar vem feliz por me ter embaixo do teto dele de novo.
Eu toquei a bochecha dele. 1 Obrigada, Jacob.
1 Quando quiser, Bella. Mas você já sabe disso.
Ele levantou, se esticou, e beijou o topo da cabeça de Nessie, e depois o topo da minha.
Finalmente, ele deu um murro no ombro de Edward. 1 Vejo vocês amanhã, pessoal. Eu acho que
as coisas vão ficar bem tediosas agora, não vão?
1 Eu espero fervorosamente que sim 1 Edward disse.
Nós levantamos quando ele foi embora; eu equilibrei meu peso cuidadosamente para que Nessie não fosse balançada. Eu estava profundamente agradecida por vê1la dormindo tão
profundamente. Tanto peso havia sido colocado em seus pequenos ombros. Estava na hora dela
conseguir ser criança de novo – protegida e segura. Mais alguns anos de infância.
A idéia de paz e segurança me lembrou de alguém que não sentia isso o tempo todo.
1 Oh, Jasper? 1 Eu perguntei enquanto nos virávamos para a porta.
Jasper estava esmagado entre Alice e Esme, de alguma forma parecendo mais adequado à
imagem da família que o normal. 1 Sim, Bella?
1 Eu estou curiosa – porque J. Jenks fica rígido de medo só de ouvir o seu nome?
Jasper gargalhou. 1 Foi só por causa da minha experiência que alguns relacionamentos de
trabalho são mais motivados pelo medo do que pelo ganho monetário.
Eu fiz uma careta, prometendo a mim mesma que ia tomar a frente desses relacionamentos
de negócios de agora em diante e poupar J. Jenks do ataque do coração que com certeza já
estava à caminho.
Nós fomos beijados, abraçados e nossa família nos desejou boa noite. A única coisa estranha
foi Nahuel, que ficou olhando atentamente para nós, como se quisesse poder nos seguir.
Quando estávamos do outro lado do rio, nós andamos apenas um pouco mais rápido que a
velocidade dos humanos, sem pressa, de mãos dadas. Eu estava cansada de me sentir no fim da
linha, e eu só queria passar o tempo. Edward devia sentir o mesmo.
1 Eu devo dizer, estou completamente impressionado com Jacob agora 1 Edward me disse.
1 Os lobos causam um grande impacto, não é?
1 Não foi isso que eu quis dizer. Nenhuma vez hoje ele pensou no fato de que, de acordo
com Nahuel, Nessie será complemente madura em seis anos e meio.
Eu considerei isso por um minuto. 1 Ele não a vê desse jeito. Ele não tem pressa pra que ela
cresça. Ele só quer que ela seja feliz.
1 Eu sei. Como eu disse, impressionante. Dizer isso vai contra a correnteza, mas ela podia
escolher coisa pior.
Eu fiz uma careta. 1 Eu não vou pensar nisso por mais aproximadamente seis anos e meio.
Edward riu e então suspirou. 1 É claro, parece que ele vai ter um pouco de competição com
que se preocupar quando o momento chegar.
Minha careta se intensificou. 1 Eu percebi. Eu estou agradecida a Nahuel por hoje, mas
aquela observação toda foi meio estranha. Não me importa se ela é a única meio vampira que não
é parente dele.
1 Oh, ele não estava olhando pra ela – ele estava olhando pra você.
Isso era o que parecia... mas isso não fazia sentido. 1 Porque ele faria isso?
1 Porque você está viva 1 ele disse baixinho.
1 Eu me perdi.
1 Toda a vida dele 1 ele explicou, 1 e ele é cinqüenta anos mais velho que eu1
1 Decrépito 1 eu inseri.
Ele me ignorou. 1 Ele sempre pensou em si mesmo como uma criação maléfica, um
assassino por natureza. Todas as suas irmãs mataram suas mães também, mas elas não acharam
nada disso. Joham as criou para pensar nos humanos como animais, enquanto eles eram deuses.
Mais Nahuel foi ensinado por Huilen, e Huilen amava sua irmã mais do que a ninguém mais. Isso
definiu toda a perspectiva dele. E, de algumas formas, ele sinceramente se odiava.
1 Isso é tão triste 1 eu sussurrei.
1 E então ele viu nós três – e ele se deu conta pela primeira vez que só porque ele é meio
mortal, isso não significa que ele herdou o mau. Ele olha pra mim e vê... o que seu pai devia ter
sido.
1 Você é realmente ideal em todos os sentidos.
Ele bufou e ficou sério de novo. 1 Ele olha pra você e vê a vida que sua mãe devia ter tido.
1 Pobre Nahuel 1 eu murmurei, e então suspirei porque eu sabia que nunca mais ia conseguir
pensar mal dele depois disso, não importava o quanto os olhares dele me deixassem
desconfortável.  1 Não fique triste por ele. Ele está feliz agora. Hoje, ele finalmente começou a se perdoar.
Eu sorri pela felicidade de Nahuel, e então pensei que o dia de hoje pertencia à felicidade.
Apesar do sacrifício de Irina ser uma sombra escura contra a luz branca, evitando que o momento
fosse perfeito, a alegria era impossível de negar. A vida pela qual eu lutei estava a salvo de novo.
Minha família estava reunida. Minha filha tinha um futuro se esticando sem fim à sua frente.
Amanhã eu ia ver meu pai, ele veria que o medo nos meus olhos havia sido substituído por
alegria, e ele ficaria feliz também.
De repente, eu tive certeza que não o encontraria lá sozinho. Eu não fui tão observadora
quanto podia ter sido nas últimas semanas, mas nesse momento era como se eu soubesse o
tempo todo que Sue estaria com Charlie – a mãe do lobisomem com o pai da vampira – e ele não
estaria mais sozinho. Eu sorri largamente com esse novo insight.
Mas a onda mais significante dessa maré de felicidade era o fato mais certo: Eu estava com
Edward. Pra sempre.
Não que eu quisesse repetir as últimas semanas, mas eu tinha que admitir que isso me fez
apreciar mais que nunca o que tenho.
A cabana era um lugar de perfeita paz na noite azul prateada. Nós carregamos Nessie para a
sua cama e a deitamos gentilmente. Ela sorriu enquanto dormia.
Eu tirei o presente de Aro para mim do pescoço e o atirei num canto do quarto dela. Ela
brincaria com ele se quisesse; ela gostava de coisas brilhantes.
Edward e eu caminhamos lentamente para fora do quarto, passando os braços ao redor um
do outro. 
1 Uma noite para comemorações 1 ele murmurou, e ele colocou a mão embaixo do meu
queixo para erguer meus lábios aos dele.
1 Espere 1 eu hesitei, me afastando.
Ele olhou pra mim confuso. Como regra geral, eu não me afastava. Okay, era mais que uma
regra geral. Essa era a primeira vez.
1 Eu quero tentar uma coisa 1 eu o informei, sorrindo um pouco da expressão desnorteada
dele.
Eu coloquei minhas mãos nos lados do rosto dele e fechei os olhos com concentração.
Eu não fiz isso muito bem quando Zafrina tentou me ensinar antes, mas eu sabia que meu
escudo estava melhor agora. Eu entendi a parte que havia lutado contra a separação de mim, o
instinto automático de se auto1proteger acima de tudo. Ainda não era nem de perto tão fácil
quanto proteger outras pessoas comigo mesma. Eu senti o elástico recuar novamente enquanto o
escudo lutava para me proteger. Eu tive que me esforçar para afastá1lo inteiramente de mim; todo
meu foco foi necessário.
1 Bella! 1 Edward murmurou chocado.
Então eu soube que estava funcionando, então eu me concentrei ainda mais, trazendo à
tona as memórias especiais que eu havia guardado para esse momento, deixando1as fluírem em
meu pensamento, e com alguma sorte as dele também. 
Algumas das memórias não eram claras – memórias humanas nubladas, vistas através de
olhos fracos e ouvida por ouvidos fracos: a primeira vez que eu vi o rosto dele... o jeito que eu me
senti quando ele me abraçou na clareira... o som da sua voz na escuridão da minha consciência
que ia embora quando ele me salvou de James... o rosto dele enquanto ele esperava embaixo de
um berço de flores para casar comigo... todos os momentos preciosos na ilha... suas mãos frias
tocando o nosso bebê pela minha pele...
E as memórias penetrantes, perfeitamente lembradas: seu rosto quando eu abri meus olhos
para minha nova vida, o amanhecer sem fim da imortalidade... aquele beijo... aquela primeira
noite...
Seus lábios, repentinamente ferozes sobre os meus, quebraram minha concentração.
Com um resfôlego, eu perdi o controle do peso relutante que eu estava segurando longe de
mim mesma. Ele bateu de volta como um elástico repuxado, protegendo meus pensamentos de
novo. 1 Oops, perdi! 1 eu suspirei.
1 Eu ouvi você 1 ele respirou. 1 Como? Como você fez isso?
1 Idéia de Zafrina. Nós praticamos algumas vezes.
Ele estava deslumbrado. Ele piscou duas vezes e balançou a cabeça.
1 Agora você sabe 1 eu disse levemente, e ergui os ombros. 1 Ninguém jamais amou alguém
tanto quanto eu amo você.
1 Você está quase certa. 1 Ele sorriu, e seus olhos ainda estavam um pouco mais arregalados
que o normal. 1 Eu só sei de uma exceção.
1 Mentiroso.
Ele começou a me beijar de novo, mas aí parou abruptamente.
1 Você consegue fazer de novo? 1 ele se perguntou.
Eu fiz uma careta. 1 É muito difícil.
Ele esperou, sua expressão ansiosa.
1 Eu não consigo manter se estiver mesmo que seja um pouco distraída 1 eu o avisei.
1 Eu serei bonzinho 1 ele prometeu.
Eu entortei os lábios, meus olhos estreitando. Então eu sorri.
Eu pressionei minhas mãos ao rosto dele de novo, expulsei o escudo da minha mente, e
então comecei exatamente de onde eu havia parado – com a memória clara feito cristal da
primeira noite da minha vida... me prendendo aos detalhes.
Eu ri sem fôlego quando o beijo urgente dele interrompeu meus esforços de novo.
1 Maldição 1 ele rugiu, beijando esfomeadamente a linha da minha mandíbula.
1 Temos bastante tempo para trabalhar nisso 1 eu o lembrei.
1 Pra sempre e pra sempre e pra sempre 1 ele murmurou.
1 Isso parece exatamente certo pra mim.
E então nós continuamos em êxtase nesse pequeno, mas perfeito pedaço do nosso para
sempre.

FOREVER
38 – PODER

1 Chelsea está tentando quebrar nossas defesas 1 Edward sussurrou. 1 Mas ela não consegue
encontra1las. Ela não consegue nos sentir aqui... 1 Os olhos dele viraram pra mim. 1 Você está
fazendo isso?
Eu sorri severamente pra ele. 1 Isso é tudo culpa minha.
Edward saiu de perto de mim de repente, sua mão se lançando para Carlisle. Ao mesmo
tempo, eu senti um golpe muito mais forte no escudo onde ele se esticava ao redor de Carlisle.
Não era doloroso, mas também não era agradável.
1 Carlisle? Você está bem? 1 Edward respirou freneticamente.
1 Sim. Porque?
1 Jane 1 Edward respondeu.
No momento que ele disse seu nome, uma dúzia de ataques concentrados nos atacou em
um segundo, atingindo todo o escudo elástico, mirados em doze diferentes pontos brilhantes. Eu
me mexi, pra ter certeza de que o escudo continuava sem danos. Não parecia que Jane tinha sido
capaz de perfurá1lo. Eu olhei ao redor rapidamente; todos estavam bem.
1 Incrível 1 Edward disse.
1 Porque eles não estão esperando pela decisão? 1 Tanya assobiou.
1 Procedimento normal 1 Edward respondeu bruscamente. 1 Eles geralmente tiram a
capacidade dos que estão sob julgamento para que eles não fujam.
Eu olhei através do escudo para Jane, que estava encarando o meu grupo com furiosa
descrença. Eu tinha certeza, além de mim, que ela nunca havia visto ninguém continuar de pé
durante seus violentos golpes. 
Isso provavelmente não era muito maduro. Mas eu me dei conta que Aro levaria cerca de
meio segundo para adivinhar – se é que ele já não havia – que o meu escudo era mais poderoso
do que Edward havia imaginado; eu tinha um grande alvo na minha testa e já não havia nenhuma
necessidade de manter a extensão do que eu podia fazer em segredo. Então eu abri um sorriso
enorme, convencido, direto pra Jane.
Os olhos dela se estreitaram, e eu senti outra pontada de pressão, dessa vez dirigida a mim.
Eu abri mais os lábios, mostrando os dentes.
Jane rosnou tão alto que mais pareceu um grito. Todo mundo deu um salto, até a
disciplinada guarda. Todos menos os anciões, que nem sequer olharam pra cima de sua
conferência. Seu gêmeo agarrou seu braço quando ela se preparava para saltar. Os Romenos
começaram a rir com obscura antecipação.
1 Eu te disse que essa é nossa hora 1 Vladimir disse a Stefan.
1 Olha só para o rosto da bruxa 1 Stefan riu.
Alec bateu no ombro da irmã para tranqüilizá1la, e então passou o braço dela por baixo do
dele. Ele virou o rosto pra nós, perfeitamente calmo, completamente angelical.
Eu esperei por alguma pressão, algum sinal do seu ataque, mas não senti nada. Ele
continuou a olhar na nossa direção, seu rosto perfeitamente composto. Ele estava atacando? Ele
estava ultrapassando meu escudo? Eu era a única que ainda conseguia vê1lo? Eu apertei a mão de
Edward.
1 Você está bem? 1 Eu resfoleguei.
1 Sim 1 ele sussurrou.
1 Alec está tentando?
Edward balançou a cabeça. 1 O dom dele é mais lento que o de Jane. É assustador. Irá nos
tocar em alguns segundos.
Aí eu vi, quando eu tinha uma idéia do que eu estava procurando.
Uma estranha névoa estava atravessando a neve, praticamente invisível contra o branco. Me
fez lembrar de uma miragem – uma pequena deformidade na vista, algo como um vislumbre. Eu
empurrei meu escudo para a frente de Carlisle e o resto da linha de frente, com medo de ficar
perto demais da névoa quando ela se aproximasse. E se ela passasse direto pela minha proteção intangível? Devíamos correr?
Um estrondo baixo murmurou no chão a nossos pés, e uma rajada de vendo fez a neve voar
em pingos repentinos entre a nossa posição e a dos Volturi. Benjamin também tinha visto a
assustadora ameaça, e agora ele tentava afastar a névoa de nós. A neve deixava fácil de ver pra
onde ele jogava o vento, mas mesmo assim a névoa não reagiu. Era como o ar soprando uma
sombra sem causar danos; a sombra era imune.
A formação triangular dos anciões finalmente se quebrou quando, com um gemido
atormentador, uma fissura profunda, estreita, em formato de zigue zague, se abriu no meio da
clareira. A terra sob meus pés balançou um momento. A neve caiu no buraco, mas a névoa passou
direto por ele, tão intocado pela gravidade quanto pelo vento.
Aro e Caius olharam a terra se abrindo com os olhos arregalados. Marcus olhou na mesma
direção sem emoção.
Eles não falaram; eles também esperaram, enquanto a névoa se aproximava de nós. O
vento soprou mais alto, mas não mudou o curso da névoa. Agora Jane estava sorrindo.
E então a névoa atingiu a parede.
Eu pude sentir assim que ela tocou meu escudo – ela era densa, tinha um gosto doce que
me deixava saciada. Isso me fez lembrar do efeito leve dormente que Novocaína deixava na minha
língua. 
A névoa se curvou pra cima, procurando uma brecha, uma fraqueza. Não encontrou
nenhuma. Os dedos da neblina em movimento se mexeram para cima e para os lados, tentando
encontrar uma forma de entrar, e no processo, ilustrando o incrível tamanho da tela protetora.
Houve ruídos nos desfiladeiros dos dois lados de Benjamin.
1 Muito bem, Bella! 1 Benjamin torceu numa voz baixa.
Meu sorriso retornou.
Eu podia ver os olhos estreitos de Alec, dúvida em seu rosto pela primeira vez enquanto a
névoa dele rodeava os cantos do meu escudo sem causar danos.
E então eu soube que conseguiria. Obviamente, eu seria a prioridade número um, a primeira
a morrer, mas enquanto eu segurasse, nós estávamos a mais um pé de igualdade com os Volturi.
Nós ainda tínhamos Benjamin e Zafrina; eles não tinham absolutamente nenhum poder super1
natural. Enquanto eu agüentasse.
1 Eu vou ter que me concentrar 1 eu sussurrei pra Edward. 1 Quando chegar a hora do mano
a mano, será mais difícil manter o escudo ao redor das pessoas certas.
1 Eu vou mantê1los longe de você.
1 Não. Você tem que pegar Demetri. Zafrina os manterá longe de mim.
Zafrina balançou a cabeça solenemente. 1 Ninguém tocará essa jovem 1 ela prometeu a
Edward.
1 Eu mesma iria atrás de Jane e Alec, mas eu posso fazer mais daqui.
1 Jane é minha 1 Kate assobiou. 1 Ela precisa sentir o gosto do seu próprio remédio.
1 E Alec me deve muitas vidas, mas eu vou acertar as contas 1 Vladimir rosnou do outro
lado. 1 Ele é meu.
1 Eu só quero Caius 1 Tanya disse uniformemente.
Os outros também começaram a dividir oponentes, mas foram rapidamente interrompidos.
Aro, olhando calmamente para a névoa ineficaz de Alec, finalmente falou.
1 Antes de voltarmos 1 ele começou. 
Eu balancei a cabeça com raiva. Eu estava cansada dessa charada. A sede de sangue estava
me iniciando de novo, e eu lamentei não poder ajudar mais os outros ficando em pé direito. Eu
queria lutar.
1 Deixe1me lembra1los 1 Aro continuou. 1 que qualquer que seja a decisão do conselho aqui,
não há necessidade de violência aqui.
Edward rosnou uma risada obscura.
Aro o encarou tristemente. 1 Será uma perda lastimável para a sua espécie perder qualquer
um de vocês. Mas você, especialmente, jovem Edward, e sua companheira recém nascida. Os Volturi ficariam felizes em receber muitos de vocês em nosso grupo. Bella, Benjamin, Zafrina,
Kate. Existem muitas escolhas à sua frente. Considerem1nas.
A tentativa de Chelsea de nos atacar flutuou sem potência pelo meu escudo. O olhar de Aro
passou por cima das nossas cabeças, procurando algum sinal de hesitação. Pela expressão dele,
ele não encontrou nenhuma.
Eu sabia que ele estava desesperado para ficar com Edward e eu, para nos aprisionar da
mesma forma que queria escravizar Alice. Mas essa luta era grande demais. Se eu vivesse, ele não
venceria. Eu estava violentamente feliz por ser forte o suficiente para não dar a ele uma chance de
me matar.
1 Vamos votar, então 1 ele disse com aparente relutância.
Caius falou com ansiosa pressa. 1 Essa criança é um risco desconhecido. Não há razão de
permitir que tal risco exista. Ela deve ser destruída, junto com todos que a protegem. 1 Ele sorriu
em expectativa.
Eu lutei com um grito de desafio em resposta ao seu sorriso cruel. 
Marcus ergueu os olhos sem se importar, parecendo olhar através de nós enquanto votava.
1 Eu não vejo nenhum perigo imediato. A criança é segura por enquanto. Nós sempre
podemos reavaliar mais tarde. Vamos viver em paz. 1 A voz dele era mais fraca que os suspiros
leves de seu irmão.
Ninguém da guarda relaxou suas posições preparadas pelas palavras de discordância. O
sorriso antecipatório de Caius não se esvaiu. Foi como se Marcus nem tivesse falado.
1 Eu devo dar o voto de decisão, aparentemente 1 Aro meditou. 1 De repente, Edward
enrijeceu ao meu lado. 1 Sim! 1 Ele assobiou.
Eu arrisquei uma olhada pra ele. seu rosto brilhava com uma expressão de triunfo que eu
não compreendi – era a expressão que um anjo da destruição devia usar enquanto o mundo
queimava. Linda e assustadora.
Houve uma baixa reação da guarda, um murmúrio inquieto.
1 Aro? 1 Edward chamou, praticamente gritou, vitória indisfarçada em sua voz.
Aro hesitou por um segundo, acessando esse novo humor antes de responder
cautelosamente. 1 Sim, Edward? Você tem algo mais...?
1 Talvez 1 Edward disse agradado, controlando sua inesperada excitação. 1 Primeiro, eu
poderia esclarecer um ponto?
1 Certamente 1 Aro disse, erguendo as sobrancelhas, nada agora além de um educado
interesse em seu tom. Meus dentes se prenderam; Aro nunca era mais perigoso do que quando
era gracioso. 
1 O perigo que você prevê vir da minha filha – isso se baseia inteiramente em nossa
inabilidade de saber como ela se desenvolverá? Essa é a raiz do problema?
1 Sim, amigo Edward 1 Aro concordou. 1 Se pudéssemos saber... ter certeza de que,
enquanto cresce, ela será capaz de se manter longe do mundo humano – sem colocar em perigo a
segurança da nossa obscuridade... 1 Ele parou, erguendo os ombros.
1 Então, se pudéssemos ter certeza 1 Edward sugeriu, 1 exatamente de como ela crescerá...
não há absolutamente nenhuma necessidade para um conselho?
1 Se houver alguma forma de ter absoluta certeza 1 Aro concordou, sua voz suave levemente
mais estridente. Ele não podia ver onde Edward o estava levando.
Eu também não. 1 Então, sim, não há questão a debater.
1 E nos separaríamos em paz, bons amigos mais uma vez? 1 Edward perguntou com uma
pontada de ironia.
Ainda mais estridente. 1 É claro, meu jovem amigo. Nada me agradaria mais.
Edward gargalhou exultantemente. 1 Então eu tenho algo mais a oferecer.
Os olhos de Aro se estreitaram. 1 Ela é absolutamente única. Seu futuro só pode ser
adivinhado.
1 Não absolutamente único 1 Edward discordou. 1 Raro, certamente, mas não único.
Eu senti o choque, a repentina esperança começando a viver, enquanto ela ameaçava me distrair. A névoa de aparência doentia ainda rodeava os cantos do meu escudo. E, enquanto eu
lutava para me concentrar, eu senti de novo a forte, penetrante pressão contra minha proteção.
1 Aro, você pediria a Jane pra parar de atacar a minha esposa? 1 Edward pediu cortesmente.
1 Ainda estamos discutindo as evidências.
Aro ergueu a mão. 1 Paz, meus queridos. Vamos ouvi1lo.
A pressão desapareceu. Jane mostrou os dentes para mim; eu não pude evitar sorrir de
volta pra ela.
1 Porque você não se junta a nós, Alice? 1 Edward chamou alto.
1 Alice 1 Esme sussurrou chocada.
Alice!
Alice! Alice! Alice!
1 Alice – Alice 1 outras vozes murmuraram ao meu redor.
1 Alice 1 Aro respirou.
Alívio e violenta alegria me invadiram. Toda a minha força de vontade foi necessária para
manter o escudo onde ele estava. A névoa de Alec ainda testava, procurando uma fraqueza – Jane
veria se eu deixasse buracos.
E então eu os ouvi correndo pela floresta, voando, fechando a distância tão rapidamente
quanto podiam sem diminuir os esforços com o silêncio.
Ambos os lados estavam em expectativa. As testemunhas Volturi fizeram careta com uma
confusão fresca.
E então Alice dançou clareira adentro vindo do sul, e eu me senti como se a alegria de vê1la
de novo fosse me derrubar. Jasper estava apenas a centímetros dela, seus olhos penetrantes
ferozes. Perto, logo atrás deles, corriam três estranhos; a primeira era uma mulher alta,
musculosa, com cabelos escuros – obviamente Kachiri. Ela tinha os mesmos membros alongados e
feições das outras Amazonas, até mais pronunciadas no caso dela.
A próxima era uma mulher pequena com uma pele tom de oliva com uma longa trança de
cabelo preto batendo em suas costas. Seus olhos vermelhos passaram nervosamente pelo
confronto à sua frente.
O último era um jovem homem... não tão fluido ou rápido em sua corrida. A pele dele era de
um marrom impossivelmente rico, escuro. Os olhos dele passaram pela reunião, eles tinham eram
de um marrom meio amarelado. O seu cabelo era preto e também estava numa trança, como o da
mulher, apesar de não ser tão longo.
Ele era lindo.
Enquanto ele se aproximava de nós, um novo som mandou ondas de choque à multidão que
observava – o som de outro coração batendo, acelerado pelo esforço.
Alice se aproximou levemente dos cantos da névoa que começava a se dissipar do meu
escudo e parou sinuosamente ao lado de Edward. Eu me inclinei para tocar seu braço, assim como
Edward, Esme, Carlisle. Não havia tempo para outras boas vindas. Jasper e os outros a seguiram
para dentro do escudo.
Toda a guarda observou, especulação em seus olhos, enquanto os recém chegados
atravessaram a barreira invisível sem esforço. Os encapuzados, Felix e os outros como ele,
focaram seus olhos repentinamente esperançosos em mim. Eles não tinham certeza do que o meu
escudo repelia, mas agora estava claro que não pararia um ataque físico. Assim que Aro desse a
ordem, uma guerra relâmpago começaria, eu como único objeto. Eu me perguntei quantos deles
Zafrina seria capaz de cegar, e o quanto isso seguraria. Tempo suficiente para que Kate e Vladimir
tirassem Jane e Alec da equação? Isso era tudo o que eu podia pedir.
Edward, apesar de absorvido na direção do seu golpe, enrijeceu furiosamente em resposta
aos pensamentos deles. Ele se controlou e falou com Aro novamente.
1 Nesses últimos dias Alice esteve procurando sua própria testemunha 1 ele disse ao ancião.
1 E ela não voltou com as mãos vazias. Alice, porque você não apresenta a testemunha que você
trouxe?
Caius rosnou. 1 A hora das testemunhas já passou! Dê o seu voto, Aro! Aro ergueu um dedo para silenciar seu irmão, seus olhos grudados no rosto de Alice.
Alice deu um passo à frente levemente e apresentou os estranhos. 1 Essa é Huilen e esse é
seu sobrinho, Nahuel.
Ouvindo a voz dela... era como se ela nunca tivesse ido embora.
Os olhos de Caius se apertaram quando ele ouviu o grau de parentesco existente entre os
recém chegados. As testemunhas Volturi rosnaram entre si. O mundo dos vampiros estava
mudando, e todos podiam sentir isso.
1 Fale, Huilen 1 Aro comandou. 1 Nos dê o testemunho que você foi trazida para sustentar.
A mulher pequena olhou nervosamente para Alice. Alice balançou a cabeça encorajando, e
Kachiri pôs a longa mão no ombro da pequena vampira.
1 Eu sou Huilen 1 a mulher anunciou num inglês claro mas com um sotaque estranho.
Enquanto ela continuava, ficou aparente que ela havia se preparado para contar essa história, que
ela havia praticado. Parecia uma história de crianças bem conhecida. 1 A um século e meio atrás,
eu vivia com o meu povo, os Mapuche. Minha irmã era Pire. Nossos pais deram a ela o nome das
neves das montanhas por causa de sua pele clara. E ela era muito bonita – bonita demais. Ela veio
até mim um dia e me contou que um anjo tinha a encontrado na floresta, que havia visitado1a à
noite. Eu avisei ela. 1 Huilen balançou a cabeça pesarosamente. 1 Como se os machucados na pele
dele não fossem aviso suficiente. Eu sabia que era o Libishomen das nossas lendas, mas ela não
me ouviu. Ela estava enfeitiçada. Quando teve certeza ela me contou que um filho do seu anjo
escuro estava crescendo dentro dela. Eu não tentei desencorajar seu plano de fugir – eu sabia que
até nosso pai e nossa mãe concordariam que a criança precisava ser destruída, e Pire com ela. Eu
fui com ela até as partes mais profundas da floresta. Ela procurou por seu anjo demoníaco mas
não encontrou nada. Eu cuidei dela, cacei por ela quando suas forças faltaram. Ela comia animais
crus, bebendo seu sangue. Eu não precisava de mais informações sobre o que ela carregava na
barriga. Eu esperava salvar a vida dela antes de matar o monstro. Mas ela amava a criança dentro
dela. Ela o chamou Nahuel, como um gato selvagem, quando ele cresceu, ficando forte, e quebrou
seus ossos – e ela ainda o amava. Eu não pude salvá1la. A criança a rasgou por dentro para
escapar, e ela morreu rapidamente, implorando o tempo inteiro para que eu cuidasse de Nahuel.
Era seu derradeiro desejo – e eu concordei. 1 Ele me mordeu, no entanto, quando eu tentei
levanta1lo do corpo dela. Eu engatinhei na floresta para morrer. Eu não cheguei longe – a dor era
demais. Mas ele me encontrou; a criança recém nascida engatinhou pela mata baixa até o meu
lado e esperou por mim. Quando a dor acabou, ele estava enroscado ao meu lado, dormindo. Eu
cuidei dele até que ele fosse capaz de caçar sozinho. Nós caçamos nos vilarejos ao nosso redor da
nossa floresta, ficando sozinhos. Nós nunca nos afastamos tanto de casa, mas Nahuel queria ver a
criança daqui.
Huilen fez uma mesura com a cabeça quando terminou sua história e se moveu para trás até
estar parcialmente escondida atrás de Kachiri.
Os lábios de Aro entortaram. Ele observou o jovem de pele escura.
1 Nahuel, você tem um século e meio de idade? 1 ele questionou.
1 Dê ou tire uma década 1 ele respondeu com uma voz clara, lindamente cálida. O sotaque
dele mal podia ser notado. 1 Nós não ficamos contando.
1 E você atingiu a maturidade com que idade?
1 Cerca de sete anos depois do meu nascimento, mais ou menos, meu crescimento estava
completo.
1 Você não mudou desde então?
Nahuel ergueu os ombros. 1 Não que eu tenha reparado.
Eu senti um tremor passar pelo corpo de Jacob. Eu ainda não queria pensar sobre isso. Eu
esperaria até o perigo ter passado e eu poder me concentrar.
1 E sua dieta? 1 Aro pressionou, parecendo interessado a despeito de si mesmo.
1 Em maioria sangue, mas um pouco de comida humana também. Eu posso sobreviver de
ambos.
1 Você foi capaz de criar um imortal? 1 Aro gesticulou para Huilen, sua voz abruptamente intensa. Eu foquei novamente no meu escudo; talvez ele estivesse procurando uma nova desculpa.
1 Sim, mas nenhum dos outros pode.
Um murmúrio chocado atravessou os três grupos.
As sobrancelhas de Aro subiram. 1 Os outros?
1 Minhas irmãs 1 Nahuel ergueu os ombros novamente.
Aro o encarou selvagemente um momento antes de compor seu rosto.
1 Talvez você nos conte o resto de sua história, pois parece haver mais.
Nahuel fez uma careta. 
1 Meu pai veio procurar por mim alguns anos depois da morte de minha mãe. 1 Seu lindo
rosto de distorceu um pouco. 1 Ele ficou feliz em me encontrar. 1 O tom de Nahuel sugeriu que o
sentimento não era mútuo. 1 Ele tinha duas filhas, mas não filhos. Ele esperava que eu me
juntasse a ele, como minhas irmãs. Eu fiquei surpreso por não estar sozinho. Minhas irmãs não
eram venenosas, mas se isso tem a ver com o sexo ou com a sorte... quem sabe? Eu já tinha a
minha família com Huilen, e eu não estava interessado – ele entortou a palavra – em mudar isso.
eu o vejo de vez em quando. Eu tenho uma irmã nova; ela atingiu a maturidade há cerca de dez
anos.
1 Qual o nome do seu pai? 1 Caius perguntou através dos dentes apertados.
1 Joham 1 Nahuel respondeu. 1 Ele se considera um cientista. Ele acha que está criando uma
nova super1raça. 1 Ele não tentou disfarçar o tom enojado de sua voz.
Caius olhou para mim. 1 Sua filha, ela é venenosa? 1 Ele quis saber duramente.
1 Não 1 eu respondi. A cabeça de Nahuel havia levantado na pergunta de Aro, e seus olhos
amarelados se viravam para se cravar em meu rosto.
Caius olhou para Aro para confirmar, mas Aro estava absorvido em seus próprios
pensamentos. Seus lábios entortaram e ele encarou Carlisle, e então Edward, e em fim seus olhou
pousaram em mim.
Caius rosnou. 1 Nós damos conta da aberração aqui e seguimos para o sul 1 ele apressou
Aro.
Aro me olhou nos olhos por um momento longo, tenso. Eu não fazia idéia do que ele estava
procurando, ou o que ele havia encontrado, mas depois de me medir naquele momento, algo em
seus rosto mudou, uma breve mudança no formato de sua boca e seus olhos, e eu soube que Aro
tinha tomado sua decisão. 
1 Irmão 1 ele disse suavemente para Caius. 1 Não aparenta haver perigo. Esse é um
desenvolvimento incomum, mas eu não vejo ameaça. Essas crianças meio vampiras são muito
como nós, aparentemente.
1 Este é o seu voto? 1 Caius quis saber.
1 É.
Caius fez uma careta. 1 E esse Joham? Esse imortal tão interessado em experiências?
1 Talvez devêssemos falar com ele 1 Aro concordou.
1 Parem Joham se vocês quiserem 1 Nahuel disse calmamente. 1 Mas deixem minhas irmãs
em paz. Elas são inocentes.
Aro balançou a cabeça, sua expressão solene. Então ele virou de volta para seus guardas
com um cálido sorriso.
1 Queridos 1 ele chamou. 1 Não lutamos hoje.
A guarda balançou a cabeça em uníssono e saiu de sua posição. A névoa desapareceu
rapidamente, mas eu mantive meu escudo no lugar. Talvez isso fosse outro truque.
Eu analisei suas expressões quando Aro virou de volta para nós. Seu rosto estava tão
benigno como sempre, mas diferente de antes, eu senti um estranho vazio por trás daquela
fachada. Como se o plano dele tivesse se acabado. Caius estava claramente infeliz, mas agora sua
raiva estava virada pra dentro; ele estava resignado. Marcus parecia... entediado; não havia outra
palavra pra isso. A guarda estava impassiva e disciplinada de novo; não havia indivíduos entre
eles, apenas um inteiro. Eles estavam em formação, prontos para ir embora. As testemunhas dos
Volturi ainda estavam sendo cautelosas; um após o outro, eles foram embora, desaparecendo na floresta. Enquanto seu número diminuía, os que restavam iam se apressando. Logo, todos eles
haviam desaparecido. 
Aro ergueu a mão para nós, quase apologético. Atrás dele, a maior parte da guarda, com
Caius, Marcus, e as silenciosas, misteriosas esposas, já estavam indo embora rapidamente, sua
formação precisa novamente. Apenas três que pareciam ser seus guardas pessoas ficaram com
ele.
1 Eu fico muito feliz que isso tenha se resolvido sem violência 1 ele disse docemente. 1 Meu
amigo, Carlisle – como eu fico agradado em chamá1lo de amigo de novo! Eu espero que não haja
ressentimentos. Eu espero que você compreenda o fardo pesado que nosso dever põe sobre
nossos ombros.
1 Deixe em paz, Aro 1 Carlisle disse rigidamente. 1 Por favor lembre1se que ainda temos uma
anonimidade a proteger aqui, e evite que sua guarda cace nessa região.
1 É claro, Carlisle 1 Aro o assegurou. 1 Eu lamento merecer sua desaprovação, meu querido
amigo. Talvez, com o tempo, você me perdoe.
1 Talvez, com o tempo, quando você se provar nosso amigo de novo.
Aro fez uma mesura com a cabeça, a imagem do arrependimento, e andou para trás por um
momento antes de se virar. Nós observamos em silêncio enquanto os últimos quatro Volturi
desapareciam nas árvores.
Ficou muito quieto. Eu não baixei meu escudo.
1 Está realmente acabado? 1 Eu cochichei para Edward.
O sorriso dele era enorme. 1 Sim. Eles desistiram. 1 Como todos os valentões, eles são
covardes embaixo daquela pose. 1 Ele gargalhou.
Alice riu com ele. 1 Sério, gente. Eles não vão voltar. Todos podem relaxar agora.
Houve outro minuto de silêncio. 
1 Por toda a falta de sorte 1 Stefan murmurou.
Então a ficha caiu.
Gritos de alegria surgiram. Rosnados ensurdecedores encheram a clareira. Maggie saltou nas
costas de Siobhan. Rosalie e Emmett se beijaram de novo – por mais tempo e mais ardentemente
dessa vez. Benjamin e Tia estavam trancados nos braços um do outros, assim como Carmen e
Eleazar. Esme agarrou Alice e Jasper num abraço apertado. Carlisle estava agradecendo
calidamente aos Sul americanos recém chegados que haviam nos salvado. Kachiri ficou muito
perto de Zafrina e Senna, as pontas de seus dedos se tocando. Garrett tirou Kate do chão e a
rodou num círculo. Stefan cuspiu na neve. Vladimir apertou os dentes com uma expressão
amargurada.
E eu meio que escalei o lobo ruivo para arrancar minha filha de suas costas e então a apertei
contra meu peito. Os braços de Edward estavam ao nosso redor no mesmo segundo.
1 Nessie, Nessie, Nessie 1 eu cantarolei.
Jacob deu uma risada meio latida e bateu na parte de trás da minha cabeça com o nariz.
1 Cala a boca 1 eu murmurei.
1 Eu vou ficar com vocês? 1 Nessie quis saber.
1 Pra sempre 1 eu prometi pra ela.
Nós tínhamos a eternidade. E Nessie ficaria bem e saudável e forte. Como o meio humano
Nahuel, em cento e cinqüenta anos, ela ainda seria jovem. E todos nós ficaríamos juntos.
Felicidade se expandiu dentro de mim – tão extrema, tão violenta, que eu não tinha certeza
se sobreviveria.
1 Pra sempre 1 Edward ecoou no meu ouvido.
Eu não podia falar mais. Eu levantei minha cabeça e beijei ele com uma paixão que
provavelmente podia incendiar a floresta.
Eu não teria reparado. 

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