Hora de ler
Para aqueles que dividem o computador, e gostam de ler livros pelo celular, aqui é o lugar!!
domingo, 17 de fevereiro de 2013
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
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Capítulo 04
49
Que droga! Beije-me! Eu imploro, mas não me movo. Eu estou
paralisada por causa de uma necessidade estranha, desconhecida,
completamente cativada por ele. Eu estou olhando fixamente para a boca
perfeitamente esculpida de Christian Grey, hipnotizada e ele está olhando
para mim, seu olhar encoberto, seus olhos escurecidos.
Ele respira mais rápido que o habitual e eu parei completamente de
respirar. Eu estou em seus braços.
Beije-me, por favor. Ele fecha seus olhos, respira fundo e sacode
brevemente sua cabeça como se respondesse minha pergunta muda.
Quando ele abre seus olhos novamente, é com algum novo propósito, uma
vontade de aço.
— Anastásia, você deveria me evitar. Eu não sou homem para você...
— ele sussurra.
O quê? De onde veio isso? Seguramente, eu é quem deveria decidir.
Eu franzo minha testa para ele e balanço minha cabeça diante da rejeição.
— Respire, Anastásia, respire. Eu vou ficar ao seu lado e irei te soltar
agora — ele quietamente diz e se afasta suavemente.
A adrenalina corre por meu corpo, não sei se por causa do ciclista ou
da proximidade inebriante de Christian, mas estou fraca e arrepiada. NÃO!
Minha mente grita quando ele se afasta e sinto-me roubada. Ele tem suas
mãos em meus ombros, segurando-me o comprimento de um braço,
analisando minhas reações cuidadosamente. E a única coisa que eu posso
pensar é que eu queria ter sido beijada, fiz isto malditamente óbvio e ele não
quis. Ele não me quer. Ele realmente não me quer. Eu realmente estraguei o
café da manhã.
— Estou bem. — eu respiro, achando minha voz. — Obrigada, — eu
murmuro cheia de humilhação. Como eu podia ter interpretado mal a
situação entre nós? Eu preciso me afastar dele.
— Pelo que? — Ele franze a testa. Suas mãos não saem de mim.
— Por me salvar. — eu sussurro.
— Aquele idiota estava indo na direção errada. Eu estou contente que
eu estava aqui. Eu estremeço só de pensar no que poderia ter acontecido
com você. Você quer vir e se sentar no hotel um pouco? — Ele me solta, suas
mãos ao seu lado e eu na sua frente me sento uma idiota.
Com uma sacudida, procuro clarear minha cabeça. Eu só quero ir
embora. Todas as minhas esperanças inarticuladas foram esmagadas. Ele
não me quer. O que eu estava pensando? Eu brigo comigo mesma. O quê
Christian Grey poderia querer comigo? Meu subconsciente zomba de mim. Eu
me abraço e me viro em direção à rua e noto com alívio que o homenzinho
verde do sinal de trânsito apareceu. Rapidamente atravesso a rua,
consciente de que Christian Grey está logo atrás de mim. Fora do hotel, eu
giro brevemente para enfrentá-lo, mas não posso olhar em seus olhos. 50
— Obrigada pelo chá e por ter concordado com as fotos. — eu
murmuro.
— Anastásia… eu… — Ele para e a angústia em sua voz exige minha
atenção, então eu o olho, de má vontade. Seus olhos cinzas são como o
deserto, enquanto ele corre a mão pelo cabelo. Ele parece destruído,
frustrado e todo o seu controle evaporou.
— O quê, Christian? — Eu fico irritada porque ele não fala.
— Nada.
Eu só quero ir embora. Eu preciso levar meu frágil e ferido orgulho
para longe e de alguma maneira curá-lo.
— Boa sorte em seus exames, — ele murmura.
Huh? Isto é por que ele parece tão desolado? Este é o seu grande
fora? Desejar-me sorte em meus exames?
— Obrigada. — Eu não posso disfarçar o sarcasmo em minha voz. —
Adeus, Sr. Grey. — Eu giro nos meus saltos, fico vagamente espantada
quando não tropeço, e sem dar a ele um segundo olhar, eu desapareço em
direção à garagem subterrânea.
Uma vez na escuridão do concreto frio da garagem, iluminada com
sua luz fluorescente e deserta, eu me debruço contra a parede e ponho
minha cabeça em minhas mãos. O que eu estava pensando? Indesejada e
sem permissão sinto as lágrimas chegarem. Por que eu estou chorando? Eu
afundo no chão, brava comigo por esta reação insensata. Apoio-me em meus
joelhos e me fecho ainda mais em mim mesma. Eu desejo sumir. Talvez esta
dor absurda possa ficar menor ainda se eu sumir.
Coloco minha cabeça sobre meus joelhos e eu deixo as lágrimas
irracionais caírem desenfreadas. Eu estou chorando por algo que nunca tive.
Que ridículo. Lamentando por algo que nunca... – minhas esperanças
esmigalhadas, meus sonhos despedaçados e minhas expectativas frustradas.
Eu nunca fui rejeitada. Certo…eu sempre fui a última a ser escolhida
no basquete ou no vôlei – mas eu entendi que – correr e fazer qualquer outra
coisa ao mesmo tempo, como saltar ou lançar uma bola não é minha praia.
Eu sou uma negação em qualquer campo esportivo.
Romanticamente, no entanto, eu nunca me expus. Uma vida inteira
de inseguranças.
Eu sou muito pálida, muito fraca, muito desprezível, sem
coordenação, minha lista longa de culpas continuam. Então eu sempre
tenho sido aquela que repelia os admiradores. Houve aquele sujeito em
minha classe de química que gostou de mim, mas ninguém nunca havia
despertado meu interesse – ninguém exceto o maldito Christian Grey. Talvez
eu deva ser mais amável com caras como Paul Clayton e José Rodriguez, no
entanto eu acredito que por nenhum deles teria chorado num canto escuro.
Talvez tudo o que eu necessite seja dar um bom grito. 51
Pare! Pare Agora! - Meu subconsciente está metaforicamente gritando
comigo, braços dobrados, apoiando-se em uma perna e batendo seu pé em
frustração. Entre o carro, vá para casa, vá estudar. Esqueça ele… Agora! E
pare como toda essa porcaria de auto-piedade.
Eu respiro bem fundo e levanto. Componha-se Steele. Eu vou para o
carro de Kate, enxugando minhas lágrimas ao mesmo tempo. Eu não irei
mais pensar nele. Eu simplesmente posso encarar este incidente como uma
experiência e me concentrar nos meus exames.
Kate está sentada na mesa de jantar, com o notebook, quando eu
chego. Seu sorriso de boas vindas some quando ela me vê.
— Ana, o que aconteceu?
Ai, não... A inquisição de Katerine Kavanagh. Eu sacudo minha
cabeça para ela, como se dissesse — fique fora disso — mas eu poderia
perfeitamente estar lidando com um cego, surdo e mudo.
— Você andou chorando. — Ela tem um dom excepcional para
enunciar o que é malditamente óbvio, algumas vezes. — O que aquele
bastardo fez para você? — ela fala por entre os dentes, e seu rosto, Jesus! ela
está apavorada.
— Nada, Kate. — Este é realmente o problema. O pensamento traz
um sorriso torto à minha face.
— Então, por que você estava chorando? Você nunca chora. — Ela
disse, sua voz se suavizando. Ela fica parada, seus olhos verdes brilhando de
preocupação. Ela coloca seus braços ao meu redor e me abraça.
Eu preciso dizer alguma coisa para ela me deixar em paz.
— Eu quase fui atropelada por uma bicicleta. — Era o melhor que eu
podia fazer e isso a distraiu imediatamente...dele.
— Jesus, Ana! Você está bem? Está machucada? — Ela me segura na
distância dos braços estendidos e faz uma verificação visual de mim.
— Não, Christina me salvou. — eu sussurro. — Mas foi apavorante.
— Eu não estou surpresa. Como foi o café da manhã? Eu sei que
você odeia café.
— Eu tomei chá. Foi legal, nada de mais para contar. Eu não sei por
que ele me convidou.
— Ele gosta de você Ana. — Ela abaixou seus braços.
— Não mais. Eu não irei mais vê-lo. — Sim, eu consigo lidar com
isso.
— Ah é?
Droga. Ela ficou curiosa. Eu vou para a cozinha para que ela não
consiga ver meu rosto. 52
— Sim... Ele está fora do meu nível Kate. — Eu digo tão secamente
quanto eu consigo.
— O que você quer dizer com isso?
— Ora, Kate, é óbvio. — Eu giro para encará-la na porta da cozinha.
— Não para mim. — Ela diz. — Está bem, ele tem mais dinheiro que
você, mas até ai, ele tem mais dinheiro que muita gente nos Estados Unidos.
— Kate, ele... — Eu dou de ombros.
— Ana, pelo amor de Deus! Quantas vezes eu vou ter de te dizer?
Você é realmente linda! — ela me interrompe. Ah não! Esse discurso de novo
não!
— Kate, por favor. Eu preciso estudar. — Eu a corto. Ela franze a
testa.
— Você quer ler o artigo? Eu já acabei. José tirou fotos maravilhosas!
Será que eu preciso de uma lembrança visual da beleza de Christian
eu – não- te- quero Grey?
— Claro. — Eu coloco um sorriso no rosto, como se fosse mágica e
vou até o notebook. E lá está ele, olhando para mim em preto e branco,
olhando para mim e encontrando minhas falhas.
— Eu finjo ler o artigo, o tempo todo olhando para seu olhar cinzento,
procurando na foto alguma pista o porquê dele não ser o homem para mim –
em suas próprias palavras. E subitamente, fica extremamente óbvio. Ele é
bonito demais. Nós estamos em polos diferentes, em mundos diferentes. Eu
tenho a visão de mim mesma como Ícarus, voando perto demais do sol,
queimando e caindo como resultado do meu desejo. As palavras dele fazem
sentido. Ele não é homem para mim.
Foi isso o que ele quis dizer e faz com que a rejeição dele seja mais
fácil de aceitar...Quase. Mas eu posso viver com isso. Eu entendo.
— Está muito bom Kate. — eu digo. — Vou estudar. — Eu não vou
mais pensar nele. Eu prometo para mim mesma e abrindo minhas anotações
de revisão, começo a ler.
É apenas quando eu estou na cama, tentando dormir, que eu me
permito deixar meus pensamentos voltarem para minha estranha manhã.
Eu fico voltando à citação “eu não namoro” e eu fico zangada por não ter
descoberto esta informação mais cedo, quando eu estava em seus braços
mentalmente implorando com cada fibra do meu ser para que ele me
beijasse. Ele já havia dito e repetido. Eu viro de lado. Estranhamente eu me
pergunto se ele seria celibatário. Eu fecho meus olhos e começo a divagar.
Talvez ele esteja se guardando. “Bem, não para você.” Meu subconsciente
sonolento me dá um último golpe e me joga na terra dos sonhos.
E esta noite eu sonho com olhos cinzentos, folhas caídas no leite, e
eu estou em lugares escuros, com uma luz estranha e eu não sei se estou
correndo para alguma coisa ou de alguma coisa... Não está claro.Eu abaixo minha caneta. Acabei. Meu exame final acabou. Eu sinto
o sorriso do gato de Cheschire19
se espalhar pelo meu rosto. Provavelmente
esta é a primeira vez, esta semana, que eu sorrio. É sexta feira, e nós iremos
celebrar hoje à noite, realmente celebrar. Acho que irei ficar realmente
bêbada. Eu nunca fiquei bêbada antes. Eu olho o pavilhão esportivo
procurando por Kate e ela ainda está escrevendo furiosamente, cinco
minutos antes de acabar. É isso, o fim da minha vida acadêmica. Nunca
mais eu irei sentar em fileiras de ansiedade, isolada, como uma estudante.
Por dentro estou fazendo piruetas, sabendo perfeitamente que é o único
lugar onde posso fazê-las graciosamente. Kate para de escrever e larga a
caneta. Ela procura por mim e eu vejo o seu sorriso do gato de Alice,
também.
Nós voltamos para casa em seu Mercedes, nos recusando a discutir a
prova final. Kate está mais preocupada com o que irá usar esta noite. E eu
estou ocupada procurando pelas chaves na minha bolsa.
— Ana, tem um pacote para você!
Kate está parada nos degraus em frente à porta, com um pacote na
mão. Estranho. Eu não fiz nenhum pedido ultimamente na Amazon.
Kate me entrega o pacote e pega as chaves para abrir a porta da
frente. Está endereçado a Senhorita Anastásia Steele. Não há endereço ou
nome de quem enviou. Talvez seja da minha mãe ou de Ray.
— Provavelmente deve ser dos meus pais.
— Abra! — Kate diz, excitada, enquanto se dirige até a cozinha para
pegar nosso “Champagnhe de comemoração de exames finais”.
Eu abro o pacote e dentro eu acho uma caixa dourada com três livros
semi parecidos, recobertos com um pano antigo, cheirando a hortelã e um
cartão branco. Escrito nele, com uma letra cursiva e negra, está: 53
“Por que você não me avisou que havia perigo? Porque você não me
avisou? As damas sabem contra o que devem se proteger, porque há
romances que contam sobre esses truques.”
20
Eu reconheço a citação de Tess of the D´Urbervilles. Eu estou pasma
com a ironia de que eu passei três horas escrevendo sobre a novela de
Thomas Hardy no meu exame final. Talvez não haja ironia, talvez seja
deliberado. Eu inspeciono os livros mais de perto, os três volumes. Eu abro a
primeira contracapa. Escrito em uma letra antiga está:
‘London: Jack R. Osgood, McIlvaine and Co., 1891.’
19
O Gato de Cheshire é um gato fictício, personagem do livro Alice no país das maravilhas de Lewis Carrol. Ele se
caracteriza por seu sorriso pronunciado e sua capacidade de aparecer e desaparecer.
20
HARDY, Thomas. Tess of the D’Urbervilles. 1891. Maiores informações: http://rosebud-rosebud.blogspot.com.br/2006/09/tess-of-durbervilles.html
54
Puta merda! São as primeiras edições! Eles devem ter custado uma
fortuna e eu sei, quase que mediatamente, quem os mandou. Kate esta
recostada nos meus ombros olhando os livros. Ela pega o cartão.
— Primeira edição. — eu sussurro.
— Não! — os olhos de Kate estão abertos com descrença. — Grey?
Eu confirmo.
— Não consigo pensar em mais ninguém.
— O que significa o que está escrito no cartão?
— Eu não faço nenhuma ideia. Eu acho que é um aviso.
Honestamente ele vive me alertando. Eu não faço ideia do por que. Não é
como se eu estivesse tentando derrubar a porta dele. — eu franzo a testa.
— Eu sei que você não quer falar sobre ele, Ana, mas ele está
seriamente interessado em você. Com ou sem avisos.
Eu não deixei de pensar em Christian Grey na última semana. Está
bem ... Então seus olhos cinzentos continuam assombrando meus sonhos e
eu sei que vai levar uma eternidade para expurgar a sensação de estar em
seus braços e esquecer seu cheiro. Por que ele me mandou isso?
Ele me disse que eu não era para ele.
— Eu achei um Tess primeira edição para vender em Nova York por
$14.000,00. Mas o seu está em melhores condições. Deve ter sido mais caro.
— Kate estava consultando seu bom amigo Google.
— Esta citação, Tess fala para sua mãe depois que Alex D´Urberville a
seduz.
— Eu sei.
Kate fica inspirada. — O que ele está tentando te dizer?
— Eu não sei e eu não me importo. Eu não posso aceitar isso dele.
Eu vou mandá-los de volta com alguma citação desconcertante de alguma
parte obscura do livro.
— A parte em que Angel Clare diz Foda-se? — Kate pergunta com a
cara mais sonsa do mundo.
— Sim, esta parte. — eu rio. Eu amo Kate, ela é leal e sempre me
apoia. Eu embrulho os livros e os deixo na mesa de jantar. Kate me dá uma
taça de champagne.
— Ao final dos exames e a uma nova vida em Seattle. — Ela sorri.
— Ao fim dos exames, nossa nova vida em Seattle e aos excelentes
resultados que teremos! — Nós brindamos e bebemos.
O bar estava barulhento e agitado, cheio de futuros formandos
prontos para ficarem imprestáveis. José se juntou a nós. Ele só se formará
daqui a um ano, mas ele está no clima de comemorar e nos ajuda a entrar 55
no espírito de nossa nova liberdade pagando margaritas para todos nós.
Enquanto eu bebo a minha quinta, percebo que talvez não seja uma boa
ideia misturá-la com champagne.
— E agora Ana? — José grita para que eu posso ouvi-lo com todo o
barulho.
— Eu e Kate estamos nos mudando para Seattle. Os pais dela
compraram um apartamento em um condomínio fechado para ela.
— Dios Mio! Como a outra parte vive! Mas você vai vir para minha
exposição?
— Claro que sim, José, eu não perderia por nada do mundo! — Eu
sorrio e ele coloca seu braço em meus ombros e me puxa para perto.
— Vai significar muito para mim Ana se você estiver lá. — Ele
sussurra em minha orelha. — Mais uma margarita?
— José Luis Rodrigues, você está tentando me deixar bêbada? Porque
eu acho que está funcionando. — eu rio — Eu acho melhor beber uma
cerveja. Eu vou pegar uma jarra para nós.
— Mais bebida Ana! — Kate grita.
Kate tem a constituição de um touro. Ela está com seu braço jogado
em Levi, um dos quatro estudantes ingleses que estudaram conosco e seu
fotógrafo costumeiro do jornal dos estudantes. Ele desistiu de tirar fotos da
bebedeira ao seu redor. Ele tem olhos apenas para Kate. Ela está com uma
camiseta de seda, tipo babydoll, jeans justos e saltos altos, cabelos para
cima, com alguns fios descendo por seu rosto, como gavinhas, deslumbrante
como sempre. Eu, por outro lado, sou mais uma garota de usar all-star,
jeans e camiseta, mas eu estou usando a minha melhor calça jeans. Eu saio
do abraço de José e vou para a mesa. Opa. Sinto minha cabeça rodar. Eu
tenho de segurar nas costas da cadeira. Coquetéis a base de tequila não são
uma boa ideia.
Eu vou para o bar e decido que é melhor ir ao banheiro já que ainda
estou de pé. “Bem pensado, Ana”. Eu cambaleio para fora da multidão.
Claro, há uma fila, mas ao menos está quieto e fresco no corredor. Eu pego
meu celular para aliviar a espera tediosa da fila. Humm para quem eu liguei
por último? Será eu foi para José? Antes disso há um número que eu não
reconheço. Ah sim. Grey, eu acho que este é o número dele. Eu rio. Eu não
faço ideia de que horas são, talvez eu o acorde. Talvez ele possa me dizer por
que me mandou os livros e aquela mensagem misteriosa. Se ele deseja que
eu me mantenha afastada, ele deveria me deixar em paz. Eu contenho um
soluço bêbado e aperto o botão para chamar o número dele de novo.
Ele atende no segundo toque.
— Anastacia? — ele parece surpreso de receber minha ligação. Bem,
francamente, eu estou surpresa por ter ligado para ele também. Então meu
cérebro atrapalhado registra...Como ele sabe que sou eu? 56
— Por que você me mandou aqueles livros? – eu cuspo as palavras
para ele.
—Anastacia, você está bem? Você soa estranha. — sua voz está cheia
de preocupação.
— Não sou a estranha, é você. — eu o acuso. Pronto. Eu disse a ele
com uma coragem nascida do álcool.
— Anastacia, você andou bebendo?
— O que isso te interessa?
— Estou curioso. Onde você está?
— Em um bar.
— Que bar?
— Um bar em Portland.
— Como você vai para casa?
— Eu dou um jeito. — Esta conversa não está sendo como eu pensei.
— Em que bar você está?
— Por que você mandou os livros, Christian?
— Anastacia, onde você está? Diga-me agora! — seu tom é ditatorial,
como sempre um maníaco por controle. Eu o imagino como um antigo
diretor de cinema, usando calças de equitação, segurando um antigo
megafone em uma mão e um chicote na outra. A imagem me faz rir alto.
— Você é tão dominante. — eu rio.
— Ana, me ajude, onde, cacete, você está?
Christian Grey está amaldiçoando comigo. Eu rio de novo.
— Eu estou em Portland...Bem longe de Seattle.
— Onde em Portland?
— Boa noite Christian.
— Ana!
Eu desligo. Ha! E ele não me respondeu sobre os livros. Eu franzo a
testa. Não cumpri minha missão. Eu realmente estou bêbada. – Minha
cabeça está girando terrivelmente enquanto eu avanço na fila. Bem, o
objetivo de hoje era ficar bêbada. Eu consegui. Então assim que é –
provavelmente não é uma experiência que irei repetir. A fila anda e agora é a
minha vez. Eu olho sem ver o pôster atrás da porta do banheiro que enaltece
as virtudes do sexo seguro. Puta merda, eu acabei de ligar para Christian
Grey? Merda. Meu telefone toca e eu pulo. Eu grito com a surpresa.
— Oi. — eu murmuro timidamente. Eu não reconheci quem era.
— Eu estou indo te buscar. — ele diz e desliga. Apenas Christian
Grey poderia soar calmo e ameaçador ao mesmo tempo.
Puta merda! Eu puxo meu jeans para cima. Meu coração dispara.
Vindo me buscar? Ah não! Eu não vou vomitar….não…estou bem. Ele está
apenas mexendo com a minha cabeça. Eu não disse a ele onde eu estava.
Ele não pode me achar aqui. Além disso, ele está a horas de Seattle e eu terei 57
ido embora há muito tempo quando ele chegar. Eu lavo minhas mãos e olho
meu rosto no espelho.
Eu estou levemente corada e ligeiramente sem foco. Hmmm....tequila.
Eu espero no bar, pelo que parece uma eternidade pela jarra de
cerveja e eventualmente retorno para a mesa.
— Você demorou. — Kate me repreende. — Onde você estava?
— Eu estava na fila do banheiro.
José e Levi estavam tendo um debate acalorado sobre o time local de
baseball. José parou o que estava falando para colocar cerveja para todos
nós e tomei um longo gole.
— Kate, acho melhor eu parar um pouco e ir lá fora tomar um pouco
de ar.
— Ana, você é muito fraca para bebida.
— Eu volto em cinco minutos.
Eu abri caminho pela multidão novamente. Eu estou começando a
sentir náuseas, minha cabeça gira desconfortavelmente e eu mal consigo
ficar em pé. Mais instável do que de costume. Respirando o ar frio da noite
no estacionamento me faz perceber o quão bêbada eu estou.
Minha visão foi afetada e eu estou vendo tudo dobrado, como nas
reprises de Tom e Jerry. Eu acho que vou passar mal. Porque eu me deixei
ficar nesse estado?
— Ana! — José se junta a mim. — Você está bem?
— Eu acho que eu bebi demais. — sorrio fracamente para ele.
— Eu também. — ele murmura e seus olhos escuros me olham
intensamente. — Você precisa de uma mão? — ele pergunta e se aproxima,
colocando seus braços ao meu redor.
— José, eu estou bem, pode me soltar. — eu tento me afastar dele,
debilmente.
— Ana, por favor... — ele sussurra, e agora eu estou entre seus
braços, sendo puxada mais para perto..
— José, o que você está fazendo?
— Ana, você sabe que eu gosto de você, por favor...
Ele coloca uma de suas mãos em minhas costas, me prendendo
contra ele e a outra está no meu rosto, indo para atrás da minha cabeça.
Puta merda...ele vai me beijar.
— Não, José, pare! — Eu o empurro, mas ele é todo músculos e força
e eu não consigo me livrar dele. Sua mão escorreu para o meu cabelo e ele
segura minha cabeça em posição.
— Por favor Ana, carinho — ele sussurra contra os meus lábios. Seu
hálito é suave e doce, margaritas e cerveja. Ele gentilmente espalha beijos
pelo meu queixo até minha boca. Eu estou apavorada, bêbada e
completamente fora de controle. O sentimento é sufocante. — José, não! — eu suplico. — Eu não quero isso! Você é meu amigo e
eu acho que vou vomitar.
— Eu acredito que a dama disse não.
Uma voz sombria soa suavemente. Puta merda! Christian Grey está
aqui. Como? José me larga.
— Grey. — Ele responde laconicamente.
Eu olho ansiosa para Christian. Ele olha de forma ameaçadora para
José. Ele está furioso. Droga. Meu estômago se manifesta e eu me dobro,
meu corpo não consegue mais tolerar o álcool e eu vômito espetacularmente
no chão.
— Ugh! Dios mio Ana! — José pula para trás com nojo. Grey pega
meu cabelo e o levanta para evitar o vômito e gentilmente me leva em direção
ao canteiro de flores na borda do estacionamento. Eu noto, com uma grande
gratidão, que está relativamente escuro.
— Se você for vomitar novamente, faça isso aqui. Eu seguro você. —
Ele coloca um de seus braços em meus ombros, enquanto o outro segura
meu cabelo para ficar longe do meu rosto. Eu tento desajeitadamente
empurrá-lo, mas eu vomito novamente... e novamente...ai! merda!
Por quanto tempo isso irá durar? Mesmo quando meu estômago está
58
vazio e nada mais acontece, arrepios horríveis descem pelo meu corpo. Eu
juro silenciosamente que eu nunca mais vou beber de novo. Isto é muito
apavorante para por em palavras. Finalmente, para.
Minhas mãos estão apoiadas nos tijolos do canteiro, mal me
sustentando. Vomitar profusamente é exaustivo. Grey tira uma de suas
mãos de mim e me passa um lenço. Apenas ele poderia ter um lenço de linha
com monograma, recentemente lavado. CTG. Eu não sabia que ainda se
podia comprar desses lenços. Vagamente eu me pergunto o que significa o T
enquanto eu limpo minha boca. Eu não consigo olhar para ele. Estou
afogada na minha vergonha, com nojo de mim mesma. Eu gostaria de ser
engolida pelas azaléias que estão no canteiro e estar em qualquer lugar,
menos aqui. José ainda está pairando na porta do bar, olhando para nós. Eu
gemo e ponho as mãos na cabeça. Este tem de ser o pior momento da minha
existência. Minha cabeça ainda está girando enquanto eu tento lembrar um
momento pior – e eu só consigo me lembrar da rejeição de Christian – e este
tem muito mais sombras escuras em termos de humilhação. Eu arrisco
olhar para ele. Ele está olhando para mim, sua face composta, não me
deixando perceber nada. Eu me viro para olhar José que parece estar bem
envergonhado e, como eu, intimidado por Grey. Eu o encaro. Eu tenho
poucas opções de palavras para o meu suposto amigo, nenhuma delas que
eu possa repetir na frente de Christian Grey, presidente executivo. “Ana,
quem você está enganando? Eu simplesmente te vi vomitando pelo chão e nas
flores. Não há nada mais desagradável em termos de educação feminina.” 59
Eu vejo você lá dentro. — José murmura, mas nós dois o ignoramos e
ele entra no prédio. Eu estou por minha conta com Grey. Dupla droga. O que
eu devo dizer a ele?
Desculpe-se pelo telefonema.
Eu sinto muito. — eu murmuro, olhando para o lenço, que eu
amasso furiosamente com meus dedos. Tão macio.
Pelo que você está se desculpando Anastacia?
Oh Droga! Ele quer seu maldito pedaço de carne.
— Pelo telefonema, estando bêbada. Ah! A lista é interminável. — eu
murmuro, sentindo meu rosto ficar vermelho. “Por favor, eu posso morrer
agora?”
— Todos nós já passamos por isso, talvez não de forma tão dramática
como você. — ele disse secamente. — Isto é sobre conhecer seus limites,
Anastacia. Eu quero dizer, eu sou a favor de romper os limites, mas talvez
isso seja muito brando. Você tem por hábito este tipo de comportamento?
Minha cabeça está zunindo como excesso de álcool e irritação. O que
diabos isto tem a ver com ele? Eu não o convidei para vir até aqui. Ele soa
como um homem de meia idade dando bronca em uma criança. Parte de
mim deseja dizer que se eu quiser ficarei bêbada todas as noites e esta é a
minha decisão e ela nada tem a ver com ele – mas eu não sou corajosa o
suficiente. Não agora que eu vomitei na frente dela. Por que ele está parado
ali?
— Não. — eu digo de forma contrita. — eu nunca fiquei bêbada antes
e agora eu desejo nunca mais ficar.
Eu não consigo entender por que ele está aqui. Eu começo a me
sentir fraca. Ele nota minha tontura e me segura antes que eu caia e me
levanta em seus braços, me segurando perto de seu peito como se eu fosse
uma criança.
— Vamos lá, eu te levo para casa. — ele murmura.
— Eu preciso avisar Kate. — “Minha nossa Senhora! Estou nos braços
dele de novo!”
— Meu irmão pode dizer a ela.
— O que?
— Meu irmão Elliot está falando com a senhorita Kavanagh.
— Anh? Eu não entendo.
— Ele estava comigo quando você telefonou.
— Em Seattle?
— Não, eu estou no Heathman.
Ainda? Por que?
— Como você me achou?
— Eu rastreei seu telefone Anastacia. 60
Claro que sim! Mas como isso é possível? Seria legal? Perseguidor,
meu subconsciente sussurra através da nuvem de tequila que ainda flutua
no meu cérebro, mas de alguma maneira, como é ele, eu não me importo.
— Você tem algum casaco ou bolsa?
— Sim, eu vim com os dois. Christian, por favor, eu preciso falar com
Kate. Ela vai ficar preocupada. — Ele pressionou os lábios em uma linha
fina, e acenou concordando.
— Se você precisa.
Ele me coloca no chão e pegando minha mão me leva para dentro do
bar. Eu me sinto fraca, ainda bêbada, embaraçada, exausta, mortificada e
em algum nível absolutamente emocionada. Ele está agarrando minha mão,
tantas emoções confusas! Eu irei precisar de pelo menos uma semana para
processar isso tudo.
É barulhento, cheio e a música tinha começado, então havia uma
multidão na pista de dança. Kate não estava em nossa mesa e José
desapareceu. Levi parecia perdido e largado por sua conta.
— Onde está Kate? — Eu gritei por cima do barulho. Minha cabeça
havia começado a latejar no mesmo compasso da música.
— Dançando. — Ele gritou, e eu podia dizer que ele estava zangado.
Ele olhava Christian com suspeita.
Eu luto com meu casaco preto e coloco minha bolsa pequena pela
cabeça e ela fica de lado, nos meus quadris. Estou pronta para ir, assim que
eu achar Kate.
— Ela está na pista de dança. — Eu toco no braço de Christian, fico
na ponta dos pés e grito em seu ouvido, acariciando seu cabelo com meu
nariz, sentindo seu cheiro limpo e fresco. Ai Meu Deus! Todos esses
proibidos, não familiares sentimentos que eu tentei esconder vieram à tona e
correram por meu corpo drenado. Enrubesci e em algum lugar dentro, bem
dentro de mim meus músculos estalaram deliciosamente.
Ele revirou seus olhos para mim e pegou minha mão, levando-me
para o bar. Ele foi servido imediatamente. Nada de espera para o senhor do
controle Grey. Será que tudo vem tão facilmente assim para ele? Eu não
consigo ouvir o que ele pediu. Ele me entrega um copo grande de água com
gelo.
— Beba. — Ele grita sua ordem para mim.
As luzes se movem, se torcem e piscam para mim no mesmo ritmo da
música, conjurando um estranho jogo de luzes e sombras por todo o bar e
clientela. Elas se alternam em verde, azul, branco e um endemoniado
vermelho. Ele me olha intensamente. Eu tento respirar.
— Todo ele. — Grita.
Ele é tão arrogante. Ele passa uma mão pelos cabelos despenteados.
Ele parece frustrado, zangado. Qual é o problema? Tirando uma garota boba
e bêbada ligando para ele no meio da noite, que o faz pensar que ela precisa 61
ser resgatada. E acontece que ela realmente acaba precisando ser resgatada
de seu amigo amoroso. Então vê-la vomitar violentamente aos seus pés. Oh
Ana....será que você descer tão baixo? Meu subconsciente está
figurativamente com as mãos para cima, como um egípcio e olhando para
mim através de óculos com formato de meia lua. Eu balanço levemente, e ele
coloca sua mão nos meus ombros, me firmando. Eu faço como me foi
mandado e bebo o copo inteiro de água. Eu me sinto enjoada. Tirando o copo
de mim, ele o coloca no bar. Eu noto através da névoa da bebida que ele está
usando uma blusa branca solta, jeans confortável, all-star preto e uma
jaqueta. Sua blusa está desabotoada em cima e eu consigo ver o começo dos
pelos de seu peito. No meu estado grogue, ele parece delicioso.
Ele pega minha mão mais uma vez. Puta merda! Ele está me levando
para a pista de dança. Merda. Eu não danço. Ele pode sentir minha
relutância e sobre as luzes coloridas ele parece divertido, sorrindo
sardonicamente. Ele aperta e me puxa pela mão e eu estou em seus braços
novamente, então ele começa a se mexer, me levando com ele. Cara, ele sabe
dançar. E eu não consigo acreditar que eu o estou seguindo passo por passo.
Talvez seja porque eu estou bêbada. Ele me segura apertado contra ele, seu
corpo colado ao meu... se ele não estivesse me segurando tão apertado, eu
estou certa de que eu já teria caído. No fundo da minha mente, o mantra de
minha mãe ressoa: nunca confie em um homem que sabe dançar.
Ele nos leva através da pista lotada até o outro lado, perto de Kate e
Elliot, o irmão dele. A música é um martelar constante, alta e ardilosa,
dentro e fora da minha cabeça. Eu suspiro. Kate está se movendo. Ela está
dançando loucamente e ela apenas faz isso quando ela realmente gosta de
alguém. Realmente gosta de alguém. Isso significa que amanhã haverá três
de nós para o café da manhã. Kate!
Christian se reclina e grita nos ouvidos de Elliot. Eu não consigo
ouvir o que ele diz. Elliot é alto, com ombros largos, cabelos loiros
encaracolados, um sorriso aberto e olhos brincalhões. Eu não consigo saber
de que cor eles são por causa das luzes. Elliot concorda e puxa Kate para
seus braços, onde ela vai muito contente. Kate! Até mesmo no meu estado
inebriado eu fico chocada. Ela acabou de conhecê-lo. Ela concorda com o
que quer que Elliot tenha dito, olha para mim e acena. Christian nos
impulsiona para fora da pista de dança rapidamente.
Mas eu não consegui falar com ela. Será que está bem? Eu posso ver
que as coisas estão indo bem para os dois. Eu preciso ler sobre como fazer
sexo seguro. No fundo da minha mente, eu espero que ela tenha lido um dos
posters do banheiro. Meus pensamentos colidem pelo meu cérebro, brigando
com meu estado ébrio e confuso. Está tão quente aqui, tão barulhento, tão
colorido – muito brilhante. Minha cabeça começa a rodas, ai, não...e eu
consigo sentir o chão subindo para encontrar o meu rosto, quando eu caio. A última coisa de que me lembro antes de desmaiar nos braços de
Christian Grey é o sonoro epíteto:
— Porra!
Capítulo 04
49
Que droga! Beije-me! Eu imploro, mas não me movo. Eu estou
paralisada por causa de uma necessidade estranha, desconhecida,
completamente cativada por ele. Eu estou olhando fixamente para a boca
perfeitamente esculpida de Christian Grey, hipnotizada e ele está olhando
para mim, seu olhar encoberto, seus olhos escurecidos.
Ele respira mais rápido que o habitual e eu parei completamente de
respirar. Eu estou em seus braços.
Beije-me, por favor. Ele fecha seus olhos, respira fundo e sacode
brevemente sua cabeça como se respondesse minha pergunta muda.
Quando ele abre seus olhos novamente, é com algum novo propósito, uma
vontade de aço.
— Anastásia, você deveria me evitar. Eu não sou homem para você...
— ele sussurra.
O quê? De onde veio isso? Seguramente, eu é quem deveria decidir.
Eu franzo minha testa para ele e balanço minha cabeça diante da rejeição.
— Respire, Anastásia, respire. Eu vou ficar ao seu lado e irei te soltar
agora — ele quietamente diz e se afasta suavemente.
A adrenalina corre por meu corpo, não sei se por causa do ciclista ou
da proximidade inebriante de Christian, mas estou fraca e arrepiada. NÃO!
Minha mente grita quando ele se afasta e sinto-me roubada. Ele tem suas
mãos em meus ombros, segurando-me o comprimento de um braço,
analisando minhas reações cuidadosamente. E a única coisa que eu posso
pensar é que eu queria ter sido beijada, fiz isto malditamente óbvio e ele não
quis. Ele não me quer. Ele realmente não me quer. Eu realmente estraguei o
café da manhã.
— Estou bem. — eu respiro, achando minha voz. — Obrigada, — eu
murmuro cheia de humilhação. Como eu podia ter interpretado mal a
situação entre nós? Eu preciso me afastar dele.
— Pelo que? — Ele franze a testa. Suas mãos não saem de mim.
— Por me salvar. — eu sussurro.
— Aquele idiota estava indo na direção errada. Eu estou contente que
eu estava aqui. Eu estremeço só de pensar no que poderia ter acontecido
com você. Você quer vir e se sentar no hotel um pouco? — Ele me solta, suas
mãos ao seu lado e eu na sua frente me sento uma idiota.
Com uma sacudida, procuro clarear minha cabeça. Eu só quero ir
embora. Todas as minhas esperanças inarticuladas foram esmagadas. Ele
não me quer. O que eu estava pensando? Eu brigo comigo mesma. O quê
Christian Grey poderia querer comigo? Meu subconsciente zomba de mim. Eu
me abraço e me viro em direção à rua e noto com alívio que o homenzinho
verde do sinal de trânsito apareceu. Rapidamente atravesso a rua,
consciente de que Christian Grey está logo atrás de mim. Fora do hotel, eu
giro brevemente para enfrentá-lo, mas não posso olhar em seus olhos. 50
— Obrigada pelo chá e por ter concordado com as fotos. — eu
murmuro.
— Anastásia… eu… — Ele para e a angústia em sua voz exige minha
atenção, então eu o olho, de má vontade. Seus olhos cinzas são como o
deserto, enquanto ele corre a mão pelo cabelo. Ele parece destruído,
frustrado e todo o seu controle evaporou.
— O quê, Christian? — Eu fico irritada porque ele não fala.
— Nada.
Eu só quero ir embora. Eu preciso levar meu frágil e ferido orgulho
para longe e de alguma maneira curá-lo.
— Boa sorte em seus exames, — ele murmura.
Huh? Isto é por que ele parece tão desolado? Este é o seu grande
fora? Desejar-me sorte em meus exames?
— Obrigada. — Eu não posso disfarçar o sarcasmo em minha voz. —
Adeus, Sr. Grey. — Eu giro nos meus saltos, fico vagamente espantada
quando não tropeço, e sem dar a ele um segundo olhar, eu desapareço em
direção à garagem subterrânea.
Uma vez na escuridão do concreto frio da garagem, iluminada com
sua luz fluorescente e deserta, eu me debruço contra a parede e ponho
minha cabeça em minhas mãos. O que eu estava pensando? Indesejada e
sem permissão sinto as lágrimas chegarem. Por que eu estou chorando? Eu
afundo no chão, brava comigo por esta reação insensata. Apoio-me em meus
joelhos e me fecho ainda mais em mim mesma. Eu desejo sumir. Talvez esta
dor absurda possa ficar menor ainda se eu sumir.
Coloco minha cabeça sobre meus joelhos e eu deixo as lágrimas
irracionais caírem desenfreadas. Eu estou chorando por algo que nunca tive.
Que ridículo. Lamentando por algo que nunca... – minhas esperanças
esmigalhadas, meus sonhos despedaçados e minhas expectativas frustradas.
Eu nunca fui rejeitada. Certo…eu sempre fui a última a ser escolhida
no basquete ou no vôlei – mas eu entendi que – correr e fazer qualquer outra
coisa ao mesmo tempo, como saltar ou lançar uma bola não é minha praia.
Eu sou uma negação em qualquer campo esportivo.
Romanticamente, no entanto, eu nunca me expus. Uma vida inteira
de inseguranças.
Eu sou muito pálida, muito fraca, muito desprezível, sem
coordenação, minha lista longa de culpas continuam. Então eu sempre
tenho sido aquela que repelia os admiradores. Houve aquele sujeito em
minha classe de química que gostou de mim, mas ninguém nunca havia
despertado meu interesse – ninguém exceto o maldito Christian Grey. Talvez
eu deva ser mais amável com caras como Paul Clayton e José Rodriguez, no
entanto eu acredito que por nenhum deles teria chorado num canto escuro.
Talvez tudo o que eu necessite seja dar um bom grito. 51
Pare! Pare Agora! - Meu subconsciente está metaforicamente gritando
comigo, braços dobrados, apoiando-se em uma perna e batendo seu pé em
frustração. Entre o carro, vá para casa, vá estudar. Esqueça ele… Agora! E
pare como toda essa porcaria de auto-piedade.
Eu respiro bem fundo e levanto. Componha-se Steele. Eu vou para o
carro de Kate, enxugando minhas lágrimas ao mesmo tempo. Eu não irei
mais pensar nele. Eu simplesmente posso encarar este incidente como uma
experiência e me concentrar nos meus exames.
Kate está sentada na mesa de jantar, com o notebook, quando eu
chego. Seu sorriso de boas vindas some quando ela me vê.
— Ana, o que aconteceu?
Ai, não... A inquisição de Katerine Kavanagh. Eu sacudo minha
cabeça para ela, como se dissesse — fique fora disso — mas eu poderia
perfeitamente estar lidando com um cego, surdo e mudo.
— Você andou chorando. — Ela tem um dom excepcional para
enunciar o que é malditamente óbvio, algumas vezes. — O que aquele
bastardo fez para você? — ela fala por entre os dentes, e seu rosto, Jesus! ela
está apavorada.
— Nada, Kate. — Este é realmente o problema. O pensamento traz
um sorriso torto à minha face.
— Então, por que você estava chorando? Você nunca chora. — Ela
disse, sua voz se suavizando. Ela fica parada, seus olhos verdes brilhando de
preocupação. Ela coloca seus braços ao meu redor e me abraça.
Eu preciso dizer alguma coisa para ela me deixar em paz.
— Eu quase fui atropelada por uma bicicleta. — Era o melhor que eu
podia fazer e isso a distraiu imediatamente...dele.
— Jesus, Ana! Você está bem? Está machucada? — Ela me segura na
distância dos braços estendidos e faz uma verificação visual de mim.
— Não, Christina me salvou. — eu sussurro. — Mas foi apavorante.
— Eu não estou surpresa. Como foi o café da manhã? Eu sei que
você odeia café.
— Eu tomei chá. Foi legal, nada de mais para contar. Eu não sei por
que ele me convidou.
— Ele gosta de você Ana. — Ela abaixou seus braços.
— Não mais. Eu não irei mais vê-lo. — Sim, eu consigo lidar com
isso.
— Ah é?
Droga. Ela ficou curiosa. Eu vou para a cozinha para que ela não
consiga ver meu rosto. 52
— Sim... Ele está fora do meu nível Kate. — Eu digo tão secamente
quanto eu consigo.
— O que você quer dizer com isso?
— Ora, Kate, é óbvio. — Eu giro para encará-la na porta da cozinha.
— Não para mim. — Ela diz. — Está bem, ele tem mais dinheiro que
você, mas até ai, ele tem mais dinheiro que muita gente nos Estados Unidos.
— Kate, ele... — Eu dou de ombros.
— Ana, pelo amor de Deus! Quantas vezes eu vou ter de te dizer?
Você é realmente linda! — ela me interrompe. Ah não! Esse discurso de novo
não!
— Kate, por favor. Eu preciso estudar. — Eu a corto. Ela franze a
testa.
— Você quer ler o artigo? Eu já acabei. José tirou fotos maravilhosas!
Será que eu preciso de uma lembrança visual da beleza de Christian
eu – não- te- quero Grey?
— Claro. — Eu coloco um sorriso no rosto, como se fosse mágica e
vou até o notebook. E lá está ele, olhando para mim em preto e branco,
olhando para mim e encontrando minhas falhas.
— Eu finjo ler o artigo, o tempo todo olhando para seu olhar cinzento,
procurando na foto alguma pista o porquê dele não ser o homem para mim –
em suas próprias palavras. E subitamente, fica extremamente óbvio. Ele é
bonito demais. Nós estamos em polos diferentes, em mundos diferentes. Eu
tenho a visão de mim mesma como Ícarus, voando perto demais do sol,
queimando e caindo como resultado do meu desejo. As palavras dele fazem
sentido. Ele não é homem para mim.
Foi isso o que ele quis dizer e faz com que a rejeição dele seja mais
fácil de aceitar...Quase. Mas eu posso viver com isso. Eu entendo.
— Está muito bom Kate. — eu digo. — Vou estudar. — Eu não vou
mais pensar nele. Eu prometo para mim mesma e abrindo minhas anotações
de revisão, começo a ler.
É apenas quando eu estou na cama, tentando dormir, que eu me
permito deixar meus pensamentos voltarem para minha estranha manhã.
Eu fico voltando à citação “eu não namoro” e eu fico zangada por não ter
descoberto esta informação mais cedo, quando eu estava em seus braços
mentalmente implorando com cada fibra do meu ser para que ele me
beijasse. Ele já havia dito e repetido. Eu viro de lado. Estranhamente eu me
pergunto se ele seria celibatário. Eu fecho meus olhos e começo a divagar.
Talvez ele esteja se guardando. “Bem, não para você.” Meu subconsciente
sonolento me dá um último golpe e me joga na terra dos sonhos.
E esta noite eu sonho com olhos cinzentos, folhas caídas no leite, e
eu estou em lugares escuros, com uma luz estranha e eu não sei se estou
correndo para alguma coisa ou de alguma coisa... Não está claro.Eu abaixo minha caneta. Acabei. Meu exame final acabou. Eu sinto
o sorriso do gato de Cheschire19
se espalhar pelo meu rosto. Provavelmente
esta é a primeira vez, esta semana, que eu sorrio. É sexta feira, e nós iremos
celebrar hoje à noite, realmente celebrar. Acho que irei ficar realmente
bêbada. Eu nunca fiquei bêbada antes. Eu olho o pavilhão esportivo
procurando por Kate e ela ainda está escrevendo furiosamente, cinco
minutos antes de acabar. É isso, o fim da minha vida acadêmica. Nunca
mais eu irei sentar em fileiras de ansiedade, isolada, como uma estudante.
Por dentro estou fazendo piruetas, sabendo perfeitamente que é o único
lugar onde posso fazê-las graciosamente. Kate para de escrever e larga a
caneta. Ela procura por mim e eu vejo o seu sorriso do gato de Alice,
também.
Nós voltamos para casa em seu Mercedes, nos recusando a discutir a
prova final. Kate está mais preocupada com o que irá usar esta noite. E eu
estou ocupada procurando pelas chaves na minha bolsa.
— Ana, tem um pacote para você!
Kate está parada nos degraus em frente à porta, com um pacote na
mão. Estranho. Eu não fiz nenhum pedido ultimamente na Amazon.
Kate me entrega o pacote e pega as chaves para abrir a porta da
frente. Está endereçado a Senhorita Anastásia Steele. Não há endereço ou
nome de quem enviou. Talvez seja da minha mãe ou de Ray.
— Provavelmente deve ser dos meus pais.
— Abra! — Kate diz, excitada, enquanto se dirige até a cozinha para
pegar nosso “Champagnhe de comemoração de exames finais”.
Eu abro o pacote e dentro eu acho uma caixa dourada com três livros
semi parecidos, recobertos com um pano antigo, cheirando a hortelã e um
cartão branco. Escrito nele, com uma letra cursiva e negra, está: 53
“Por que você não me avisou que havia perigo? Porque você não me
avisou? As damas sabem contra o que devem se proteger, porque há
romances que contam sobre esses truques.”
20
Eu reconheço a citação de Tess of the D´Urbervilles. Eu estou pasma
com a ironia de que eu passei três horas escrevendo sobre a novela de
Thomas Hardy no meu exame final. Talvez não haja ironia, talvez seja
deliberado. Eu inspeciono os livros mais de perto, os três volumes. Eu abro a
primeira contracapa. Escrito em uma letra antiga está:
‘London: Jack R. Osgood, McIlvaine and Co., 1891.’
19
O Gato de Cheshire é um gato fictício, personagem do livro Alice no país das maravilhas de Lewis Carrol. Ele se
caracteriza por seu sorriso pronunciado e sua capacidade de aparecer e desaparecer.
20
HARDY, Thomas. Tess of the D’Urbervilles. 1891. Maiores informações: http://rosebud-rosebud.blogspot.com.br/2006/09/tess-of-durbervilles.html
54
Puta merda! São as primeiras edições! Eles devem ter custado uma
fortuna e eu sei, quase que mediatamente, quem os mandou. Kate esta
recostada nos meus ombros olhando os livros. Ela pega o cartão.
— Primeira edição. — eu sussurro.
— Não! — os olhos de Kate estão abertos com descrença. — Grey?
Eu confirmo.
— Não consigo pensar em mais ninguém.
— O que significa o que está escrito no cartão?
— Eu não faço nenhuma ideia. Eu acho que é um aviso.
Honestamente ele vive me alertando. Eu não faço ideia do por que. Não é
como se eu estivesse tentando derrubar a porta dele. — eu franzo a testa.
— Eu sei que você não quer falar sobre ele, Ana, mas ele está
seriamente interessado em você. Com ou sem avisos.
Eu não deixei de pensar em Christian Grey na última semana. Está
bem ... Então seus olhos cinzentos continuam assombrando meus sonhos e
eu sei que vai levar uma eternidade para expurgar a sensação de estar em
seus braços e esquecer seu cheiro. Por que ele me mandou isso?
Ele me disse que eu não era para ele.
— Eu achei um Tess primeira edição para vender em Nova York por
$14.000,00. Mas o seu está em melhores condições. Deve ter sido mais caro.
— Kate estava consultando seu bom amigo Google.
— Esta citação, Tess fala para sua mãe depois que Alex D´Urberville a
seduz.
— Eu sei.
Kate fica inspirada. — O que ele está tentando te dizer?
— Eu não sei e eu não me importo. Eu não posso aceitar isso dele.
Eu vou mandá-los de volta com alguma citação desconcertante de alguma
parte obscura do livro.
— A parte em que Angel Clare diz Foda-se? — Kate pergunta com a
cara mais sonsa do mundo.
— Sim, esta parte. — eu rio. Eu amo Kate, ela é leal e sempre me
apoia. Eu embrulho os livros e os deixo na mesa de jantar. Kate me dá uma
taça de champagne.
— Ao final dos exames e a uma nova vida em Seattle. — Ela sorri.
— Ao fim dos exames, nossa nova vida em Seattle e aos excelentes
resultados que teremos! — Nós brindamos e bebemos.
O bar estava barulhento e agitado, cheio de futuros formandos
prontos para ficarem imprestáveis. José se juntou a nós. Ele só se formará
daqui a um ano, mas ele está no clima de comemorar e nos ajuda a entrar 55
no espírito de nossa nova liberdade pagando margaritas para todos nós.
Enquanto eu bebo a minha quinta, percebo que talvez não seja uma boa
ideia misturá-la com champagne.
— E agora Ana? — José grita para que eu posso ouvi-lo com todo o
barulho.
— Eu e Kate estamos nos mudando para Seattle. Os pais dela
compraram um apartamento em um condomínio fechado para ela.
— Dios Mio! Como a outra parte vive! Mas você vai vir para minha
exposição?
— Claro que sim, José, eu não perderia por nada do mundo! — Eu
sorrio e ele coloca seu braço em meus ombros e me puxa para perto.
— Vai significar muito para mim Ana se você estiver lá. — Ele
sussurra em minha orelha. — Mais uma margarita?
— José Luis Rodrigues, você está tentando me deixar bêbada? Porque
eu acho que está funcionando. — eu rio — Eu acho melhor beber uma
cerveja. Eu vou pegar uma jarra para nós.
— Mais bebida Ana! — Kate grita.
Kate tem a constituição de um touro. Ela está com seu braço jogado
em Levi, um dos quatro estudantes ingleses que estudaram conosco e seu
fotógrafo costumeiro do jornal dos estudantes. Ele desistiu de tirar fotos da
bebedeira ao seu redor. Ele tem olhos apenas para Kate. Ela está com uma
camiseta de seda, tipo babydoll, jeans justos e saltos altos, cabelos para
cima, com alguns fios descendo por seu rosto, como gavinhas, deslumbrante
como sempre. Eu, por outro lado, sou mais uma garota de usar all-star,
jeans e camiseta, mas eu estou usando a minha melhor calça jeans. Eu saio
do abraço de José e vou para a mesa. Opa. Sinto minha cabeça rodar. Eu
tenho de segurar nas costas da cadeira. Coquetéis a base de tequila não são
uma boa ideia.
Eu vou para o bar e decido que é melhor ir ao banheiro já que ainda
estou de pé. “Bem pensado, Ana”. Eu cambaleio para fora da multidão.
Claro, há uma fila, mas ao menos está quieto e fresco no corredor. Eu pego
meu celular para aliviar a espera tediosa da fila. Humm para quem eu liguei
por último? Será eu foi para José? Antes disso há um número que eu não
reconheço. Ah sim. Grey, eu acho que este é o número dele. Eu rio. Eu não
faço ideia de que horas são, talvez eu o acorde. Talvez ele possa me dizer por
que me mandou os livros e aquela mensagem misteriosa. Se ele deseja que
eu me mantenha afastada, ele deveria me deixar em paz. Eu contenho um
soluço bêbado e aperto o botão para chamar o número dele de novo.
Ele atende no segundo toque.
— Anastacia? — ele parece surpreso de receber minha ligação. Bem,
francamente, eu estou surpresa por ter ligado para ele também. Então meu
cérebro atrapalhado registra...Como ele sabe que sou eu? 56
— Por que você me mandou aqueles livros? – eu cuspo as palavras
para ele.
—Anastacia, você está bem? Você soa estranha. — sua voz está cheia
de preocupação.
— Não sou a estranha, é você. — eu o acuso. Pronto. Eu disse a ele
com uma coragem nascida do álcool.
— Anastacia, você andou bebendo?
— O que isso te interessa?
— Estou curioso. Onde você está?
— Em um bar.
— Que bar?
— Um bar em Portland.
— Como você vai para casa?
— Eu dou um jeito. — Esta conversa não está sendo como eu pensei.
— Em que bar você está?
— Por que você mandou os livros, Christian?
— Anastacia, onde você está? Diga-me agora! — seu tom é ditatorial,
como sempre um maníaco por controle. Eu o imagino como um antigo
diretor de cinema, usando calças de equitação, segurando um antigo
megafone em uma mão e um chicote na outra. A imagem me faz rir alto.
— Você é tão dominante. — eu rio.
— Ana, me ajude, onde, cacete, você está?
Christian Grey está amaldiçoando comigo. Eu rio de novo.
— Eu estou em Portland...Bem longe de Seattle.
— Onde em Portland?
— Boa noite Christian.
— Ana!
Eu desligo. Ha! E ele não me respondeu sobre os livros. Eu franzo a
testa. Não cumpri minha missão. Eu realmente estou bêbada. – Minha
cabeça está girando terrivelmente enquanto eu avanço na fila. Bem, o
objetivo de hoje era ficar bêbada. Eu consegui. Então assim que é –
provavelmente não é uma experiência que irei repetir. A fila anda e agora é a
minha vez. Eu olho sem ver o pôster atrás da porta do banheiro que enaltece
as virtudes do sexo seguro. Puta merda, eu acabei de ligar para Christian
Grey? Merda. Meu telefone toca e eu pulo. Eu grito com a surpresa.
— Oi. — eu murmuro timidamente. Eu não reconheci quem era.
— Eu estou indo te buscar. — ele diz e desliga. Apenas Christian
Grey poderia soar calmo e ameaçador ao mesmo tempo.
Puta merda! Eu puxo meu jeans para cima. Meu coração dispara.
Vindo me buscar? Ah não! Eu não vou vomitar….não…estou bem. Ele está
apenas mexendo com a minha cabeça. Eu não disse a ele onde eu estava.
Ele não pode me achar aqui. Além disso, ele está a horas de Seattle e eu terei 57
ido embora há muito tempo quando ele chegar. Eu lavo minhas mãos e olho
meu rosto no espelho.
Eu estou levemente corada e ligeiramente sem foco. Hmmm....tequila.
Eu espero no bar, pelo que parece uma eternidade pela jarra de
cerveja e eventualmente retorno para a mesa.
— Você demorou. — Kate me repreende. — Onde você estava?
— Eu estava na fila do banheiro.
José e Levi estavam tendo um debate acalorado sobre o time local de
baseball. José parou o que estava falando para colocar cerveja para todos
nós e tomei um longo gole.
— Kate, acho melhor eu parar um pouco e ir lá fora tomar um pouco
de ar.
— Ana, você é muito fraca para bebida.
— Eu volto em cinco minutos.
Eu abri caminho pela multidão novamente. Eu estou começando a
sentir náuseas, minha cabeça gira desconfortavelmente e eu mal consigo
ficar em pé. Mais instável do que de costume. Respirando o ar frio da noite
no estacionamento me faz perceber o quão bêbada eu estou.
Minha visão foi afetada e eu estou vendo tudo dobrado, como nas
reprises de Tom e Jerry. Eu acho que vou passar mal. Porque eu me deixei
ficar nesse estado?
— Ana! — José se junta a mim. — Você está bem?
— Eu acho que eu bebi demais. — sorrio fracamente para ele.
— Eu também. — ele murmura e seus olhos escuros me olham
intensamente. — Você precisa de uma mão? — ele pergunta e se aproxima,
colocando seus braços ao meu redor.
— José, eu estou bem, pode me soltar. — eu tento me afastar dele,
debilmente.
— Ana, por favor... — ele sussurra, e agora eu estou entre seus
braços, sendo puxada mais para perto..
— José, o que você está fazendo?
— Ana, você sabe que eu gosto de você, por favor...
Ele coloca uma de suas mãos em minhas costas, me prendendo
contra ele e a outra está no meu rosto, indo para atrás da minha cabeça.
Puta merda...ele vai me beijar.
— Não, José, pare! — Eu o empurro, mas ele é todo músculos e força
e eu não consigo me livrar dele. Sua mão escorreu para o meu cabelo e ele
segura minha cabeça em posição.
— Por favor Ana, carinho — ele sussurra contra os meus lábios. Seu
hálito é suave e doce, margaritas e cerveja. Ele gentilmente espalha beijos
pelo meu queixo até minha boca. Eu estou apavorada, bêbada e
completamente fora de controle. O sentimento é sufocante. — José, não! — eu suplico. — Eu não quero isso! Você é meu amigo e
eu acho que vou vomitar.
— Eu acredito que a dama disse não.
Uma voz sombria soa suavemente. Puta merda! Christian Grey está
aqui. Como? José me larga.
— Grey. — Ele responde laconicamente.
Eu olho ansiosa para Christian. Ele olha de forma ameaçadora para
José. Ele está furioso. Droga. Meu estômago se manifesta e eu me dobro,
meu corpo não consegue mais tolerar o álcool e eu vômito espetacularmente
no chão.
— Ugh! Dios mio Ana! — José pula para trás com nojo. Grey pega
meu cabelo e o levanta para evitar o vômito e gentilmente me leva em direção
ao canteiro de flores na borda do estacionamento. Eu noto, com uma grande
gratidão, que está relativamente escuro.
— Se você for vomitar novamente, faça isso aqui. Eu seguro você. —
Ele coloca um de seus braços em meus ombros, enquanto o outro segura
meu cabelo para ficar longe do meu rosto. Eu tento desajeitadamente
empurrá-lo, mas eu vomito novamente... e novamente...ai! merda!
Por quanto tempo isso irá durar? Mesmo quando meu estômago está
58
vazio e nada mais acontece, arrepios horríveis descem pelo meu corpo. Eu
juro silenciosamente que eu nunca mais vou beber de novo. Isto é muito
apavorante para por em palavras. Finalmente, para.
Minhas mãos estão apoiadas nos tijolos do canteiro, mal me
sustentando. Vomitar profusamente é exaustivo. Grey tira uma de suas
mãos de mim e me passa um lenço. Apenas ele poderia ter um lenço de linha
com monograma, recentemente lavado. CTG. Eu não sabia que ainda se
podia comprar desses lenços. Vagamente eu me pergunto o que significa o T
enquanto eu limpo minha boca. Eu não consigo olhar para ele. Estou
afogada na minha vergonha, com nojo de mim mesma. Eu gostaria de ser
engolida pelas azaléias que estão no canteiro e estar em qualquer lugar,
menos aqui. José ainda está pairando na porta do bar, olhando para nós. Eu
gemo e ponho as mãos na cabeça. Este tem de ser o pior momento da minha
existência. Minha cabeça ainda está girando enquanto eu tento lembrar um
momento pior – e eu só consigo me lembrar da rejeição de Christian – e este
tem muito mais sombras escuras em termos de humilhação. Eu arrisco
olhar para ele. Ele está olhando para mim, sua face composta, não me
deixando perceber nada. Eu me viro para olhar José que parece estar bem
envergonhado e, como eu, intimidado por Grey. Eu o encaro. Eu tenho
poucas opções de palavras para o meu suposto amigo, nenhuma delas que
eu possa repetir na frente de Christian Grey, presidente executivo. “Ana,
quem você está enganando? Eu simplesmente te vi vomitando pelo chão e nas
flores. Não há nada mais desagradável em termos de educação feminina.” 59
Eu vejo você lá dentro. — José murmura, mas nós dois o ignoramos e
ele entra no prédio. Eu estou por minha conta com Grey. Dupla droga. O que
eu devo dizer a ele?
Desculpe-se pelo telefonema.
Eu sinto muito. — eu murmuro, olhando para o lenço, que eu
amasso furiosamente com meus dedos. Tão macio.
Pelo que você está se desculpando Anastacia?
Oh Droga! Ele quer seu maldito pedaço de carne.
— Pelo telefonema, estando bêbada. Ah! A lista é interminável. — eu
murmuro, sentindo meu rosto ficar vermelho. “Por favor, eu posso morrer
agora?”
— Todos nós já passamos por isso, talvez não de forma tão dramática
como você. — ele disse secamente. — Isto é sobre conhecer seus limites,
Anastacia. Eu quero dizer, eu sou a favor de romper os limites, mas talvez
isso seja muito brando. Você tem por hábito este tipo de comportamento?
Minha cabeça está zunindo como excesso de álcool e irritação. O que
diabos isto tem a ver com ele? Eu não o convidei para vir até aqui. Ele soa
como um homem de meia idade dando bronca em uma criança. Parte de
mim deseja dizer que se eu quiser ficarei bêbada todas as noites e esta é a
minha decisão e ela nada tem a ver com ele – mas eu não sou corajosa o
suficiente. Não agora que eu vomitei na frente dela. Por que ele está parado
ali?
— Não. — eu digo de forma contrita. — eu nunca fiquei bêbada antes
e agora eu desejo nunca mais ficar.
Eu não consigo entender por que ele está aqui. Eu começo a me
sentir fraca. Ele nota minha tontura e me segura antes que eu caia e me
levanta em seus braços, me segurando perto de seu peito como se eu fosse
uma criança.
— Vamos lá, eu te levo para casa. — ele murmura.
— Eu preciso avisar Kate. — “Minha nossa Senhora! Estou nos braços
dele de novo!”
— Meu irmão pode dizer a ela.
— O que?
— Meu irmão Elliot está falando com a senhorita Kavanagh.
— Anh? Eu não entendo.
— Ele estava comigo quando você telefonou.
— Em Seattle?
— Não, eu estou no Heathman.
Ainda? Por que?
— Como você me achou?
— Eu rastreei seu telefone Anastacia. 60
Claro que sim! Mas como isso é possível? Seria legal? Perseguidor,
meu subconsciente sussurra através da nuvem de tequila que ainda flutua
no meu cérebro, mas de alguma maneira, como é ele, eu não me importo.
— Você tem algum casaco ou bolsa?
— Sim, eu vim com os dois. Christian, por favor, eu preciso falar com
Kate. Ela vai ficar preocupada. — Ele pressionou os lábios em uma linha
fina, e acenou concordando.
— Se você precisa.
Ele me coloca no chão e pegando minha mão me leva para dentro do
bar. Eu me sinto fraca, ainda bêbada, embaraçada, exausta, mortificada e
em algum nível absolutamente emocionada. Ele está agarrando minha mão,
tantas emoções confusas! Eu irei precisar de pelo menos uma semana para
processar isso tudo.
É barulhento, cheio e a música tinha começado, então havia uma
multidão na pista de dança. Kate não estava em nossa mesa e José
desapareceu. Levi parecia perdido e largado por sua conta.
— Onde está Kate? — Eu gritei por cima do barulho. Minha cabeça
havia começado a latejar no mesmo compasso da música.
— Dançando. — Ele gritou, e eu podia dizer que ele estava zangado.
Ele olhava Christian com suspeita.
Eu luto com meu casaco preto e coloco minha bolsa pequena pela
cabeça e ela fica de lado, nos meus quadris. Estou pronta para ir, assim que
eu achar Kate.
— Ela está na pista de dança. — Eu toco no braço de Christian, fico
na ponta dos pés e grito em seu ouvido, acariciando seu cabelo com meu
nariz, sentindo seu cheiro limpo e fresco. Ai Meu Deus! Todos esses
proibidos, não familiares sentimentos que eu tentei esconder vieram à tona e
correram por meu corpo drenado. Enrubesci e em algum lugar dentro, bem
dentro de mim meus músculos estalaram deliciosamente.
Ele revirou seus olhos para mim e pegou minha mão, levando-me
para o bar. Ele foi servido imediatamente. Nada de espera para o senhor do
controle Grey. Será que tudo vem tão facilmente assim para ele? Eu não
consigo ouvir o que ele pediu. Ele me entrega um copo grande de água com
gelo.
— Beba. — Ele grita sua ordem para mim.
As luzes se movem, se torcem e piscam para mim no mesmo ritmo da
música, conjurando um estranho jogo de luzes e sombras por todo o bar e
clientela. Elas se alternam em verde, azul, branco e um endemoniado
vermelho. Ele me olha intensamente. Eu tento respirar.
— Todo ele. — Grita.
Ele é tão arrogante. Ele passa uma mão pelos cabelos despenteados.
Ele parece frustrado, zangado. Qual é o problema? Tirando uma garota boba
e bêbada ligando para ele no meio da noite, que o faz pensar que ela precisa 61
ser resgatada. E acontece que ela realmente acaba precisando ser resgatada
de seu amigo amoroso. Então vê-la vomitar violentamente aos seus pés. Oh
Ana....será que você descer tão baixo? Meu subconsciente está
figurativamente com as mãos para cima, como um egípcio e olhando para
mim através de óculos com formato de meia lua. Eu balanço levemente, e ele
coloca sua mão nos meus ombros, me firmando. Eu faço como me foi
mandado e bebo o copo inteiro de água. Eu me sinto enjoada. Tirando o copo
de mim, ele o coloca no bar. Eu noto através da névoa da bebida que ele está
usando uma blusa branca solta, jeans confortável, all-star preto e uma
jaqueta. Sua blusa está desabotoada em cima e eu consigo ver o começo dos
pelos de seu peito. No meu estado grogue, ele parece delicioso.
Ele pega minha mão mais uma vez. Puta merda! Ele está me levando
para a pista de dança. Merda. Eu não danço. Ele pode sentir minha
relutância e sobre as luzes coloridas ele parece divertido, sorrindo
sardonicamente. Ele aperta e me puxa pela mão e eu estou em seus braços
novamente, então ele começa a se mexer, me levando com ele. Cara, ele sabe
dançar. E eu não consigo acreditar que eu o estou seguindo passo por passo.
Talvez seja porque eu estou bêbada. Ele me segura apertado contra ele, seu
corpo colado ao meu... se ele não estivesse me segurando tão apertado, eu
estou certa de que eu já teria caído. No fundo da minha mente, o mantra de
minha mãe ressoa: nunca confie em um homem que sabe dançar.
Ele nos leva através da pista lotada até o outro lado, perto de Kate e
Elliot, o irmão dele. A música é um martelar constante, alta e ardilosa,
dentro e fora da minha cabeça. Eu suspiro. Kate está se movendo. Ela está
dançando loucamente e ela apenas faz isso quando ela realmente gosta de
alguém. Realmente gosta de alguém. Isso significa que amanhã haverá três
de nós para o café da manhã. Kate!
Christian se reclina e grita nos ouvidos de Elliot. Eu não consigo
ouvir o que ele diz. Elliot é alto, com ombros largos, cabelos loiros
encaracolados, um sorriso aberto e olhos brincalhões. Eu não consigo saber
de que cor eles são por causa das luzes. Elliot concorda e puxa Kate para
seus braços, onde ela vai muito contente. Kate! Até mesmo no meu estado
inebriado eu fico chocada. Ela acabou de conhecê-lo. Ela concorda com o
que quer que Elliot tenha dito, olha para mim e acena. Christian nos
impulsiona para fora da pista de dança rapidamente.
Mas eu não consegui falar com ela. Será que está bem? Eu posso ver
que as coisas estão indo bem para os dois. Eu preciso ler sobre como fazer
sexo seguro. No fundo da minha mente, eu espero que ela tenha lido um dos
posters do banheiro. Meus pensamentos colidem pelo meu cérebro, brigando
com meu estado ébrio e confuso. Está tão quente aqui, tão barulhento, tão
colorido – muito brilhante. Minha cabeça começa a rodas, ai, não...e eu
consigo sentir o chão subindo para encontrar o meu rosto, quando eu caio. A última coisa de que me lembro antes de desmaiar nos braços de
Christian Grey é o sonoro epíteto:
— Porra!
33
Capítulo 03
Kate está em êxtase.
— Mas o que ele estava fazendo na Clayton? — Sua curiosidade escoa
pelo telefone. Eu estou nas profundezas da sala de estoque, tentando manter
minha voz casual.
— Ele passou por aqui.
— Eu acho que isto é uma coincidência enorme, Ana. Você não acha
que ele estava ai para ver você?
Ela especula. Meu coração bater forte com a possibilidade, mas a
alegria dura pouco. A triste e decepcionante realidade é maçante, ele esteve
aqui a negócios.
— Ele veio visitar a divisão de agricultura da universidade. Ele está
financiando algumas pesquisas, — eu murmuro. 34
— Oh sim. Ele deu ao departamento uma doação de $2.5 milhões de
Grant.
13
Uou.
— Como você sabe disto?
— Ana, eu sou uma jornalista, e eu escrevi um perfil sobre o cara. É
meu trabalho saber disto.
— Ok, Carla Bernstein,
14
fique fria. Então você quer as fotos?
— Claro que eu quero. A questão é, quem vai fazê-las e onde.
— Nós podemos perguntar-lhe onde. Ele disse que vai ficar na área.
— Você pode contatá-lo?
— Eu tenho seu número de telefone celular.
Kate ofega.
— O mais rico, mais esquivo, mais enigmático solteiro do Estado de
Washington, apenas lhe deu seu número de telefone celular.
— Ah… sim.
— Ana! Ele gosta de você. Não há dúvida sobre isto. — Seu tom é
enfático.
— Kate, ele está apenas tentando ser agradável. — Mas mesmo
quando eu digo as palavras, eu sei que elas não são verdade.
— Christian Grey não é agradável. Ele é educado, talvez. E uma
pequena voz sussurra silenciosa, talvez Kate esteja certa. Fico arrepiada
com a ideia de que talvez, apenas talvez, ele possa gostar de mim. Afinal, ele
disse que estava contente por Kate não ter feito à entrevista. Eu abraço a
mim mesma com uma silenciosa alegria, balançando-me de um lado para
outro, acolhendo a possibilidade de que ele possa gostar de mim por um
breve momento. Kate me traz de volta para o agora.
— Eu não sei como vamos conseguir fazer as fotos. Levi, o nosso
fotógrafo regular, não pode. Ele foi para casa em Idaho Falls pelo fim de
semana. Ele vai ficar puto por perder uma oportunidade para fotografar um
dos principais empresários da América.
— Humm… Que tal José?
— Grande ideia! Você pergunta a ele, ele faz qualquer coisa por você.
Então chame Grey e descubra onde ele nos encontrará. — Kate é
irritantemente arrogante sobre José.
— Eu acho que você deveria chamá-lo.
— Quem, José?— Kate ridiculariza.
— Não, Grey.
—Ana, você é a única que tem um relacionamento.
13
Referencia a nota de cinquenta dólares que tem a foto do presidente dos USA Ulisses Grant
14
Fazendo uma brincadeira com o nome de Carl Bernstein que em parceria com Bob Woodward,
trabalhando como repórter para o Washington Post, desvendou a história do caso Watergate 35
— Relacionamento — Eu bufo para ela, minha voz subindo várias
oitavas. — Eu mal conheço o cara.
— Pelo menos você o conheceu, — ela diz amargamente. — E ele parece
querer conhecer você melhor. Ana, apenas ligue para ele, — ela estala e
desliga. Ela é tão mandona às vezes. Eu faço uma careta para meu celular,
mostrando minha língua para ele.
Eu estou deixando uma mensagem para José, quando Paul entra na
sala de estoque procurando por lixas.
— Nós estamos meio ocupados lá fora, Ana, — ele diz sem
animosidade.
— Sim, hum, desculpe, — eu murmuro, voltando-me para sair.
— Então, como é que você conheceu Christian Grey? — A voz de Paul
tenta se mostrar indiferente, mas é pouco convincente.
— Eu tive que entrevistá-lo para nosso jornal estudantil. Kate não
estava bem. — Eu encolho os ombros, tentando soar casual, mas também
sou pouco convincente.
— Christian Grey na Clayton. Vá entender, — Paul bufa, pasmo. Ele
agita sua cabeça como se para limpá-la. — E então, quer sair para beber ou
algo assim hoje à noite?
Sempre que ele está em casa ele me convida para sair, e eu sempre
digo não. É um ritual. Eu nunca considerei uma boa ideia sair com o irmão
do chefe, e além disso, Paul é muito atraente como todo jovem americano da
casa ao lado, mas ele não é nenhum herói literário, nem esforçando muito
minha imaginação. Grey é? Meu subconsciente pergunta-me, sua
sobrancelha levantada no sentido figurado.
Eu o esbofeteio.
— Você não tem um jantar de família ou algo assim com seu irmão?
— Isto é amanhã.
— Talvez alguma outra hora, Paul. Eu preciso estudar hoje à noite. Eu
tenho meus exames finais na semana que vem.
— Ana, um dia destes, você dirá sim, — ele sorri quando eu escapo
para a loja.
— Mas eu fotógrafo lugares, Ana, não pessoas, — José geme.
— José, por favor? — Eu imploro. Segurando meu celular, eu marcho
pela sala de estar de nosso apartamento, desviando a vista da janela para a
luz noturna desvanecendo.
— Dê-me o telefone. — Kate agarra o telefone de mim, lançando seu
sedoso cabelo, loiro avermelhado acima de seu ombro.
— Escute aqui, José Rodriguez, se você quiser que nosso jornal cubra
a abertura de seu show, você vai fazer estas fotos para nós amanhã,
capiche? — Kate pode ser terrivelmente dura.
— Ótimo. Ana vai ligar de volta informando o local e horário. Nós
vemos você amanhã. — Ela fecha meu celular com um estalo. 36
— Feito. Tudo que nós precisamos fazer agora é decidir onde e quando.
Ligue para ele. — Ela aponta o telefone para mim. Meu estômago revira.
— Ligue para Grey, agora!
Eu faço uma careta para ela e alcanço no meu bolso de trás o cartão
de negócios dele. Eu tomo uma profunda e firme respiração, e com dedos
trêmulos, eu disco o número.
Ele responde no segundo toque. Sua voz é tranquila e fria.
— Grey.
— Haa… Sr. Grey? É Anastásia Steele. — Eu não reconheço minha
própria voz, eu estou muito nervosa. Há uma breve pausa. Por dentro eu
estou tremendo.
— Senhorita Steele. Como é bom ouvi-la. — Sua voz muda. Ele fica
surpreso, eu acho, e ele soa tão… morno, sedutor até. Minha respiração
entala, e eu ruborizo. De repente estou consciente de que Katherine
Kavanagh está olhando fixamente para mim, boquiaberta, e eu vou para a
cozinha para evitar seu minucioso olhar indesejável.
— Haa, nós gostaríamos de fazer a sessão de fotos para o artigo. —
Respire, Ana, respire.
Meus pulmões absorvem uma respiração apressada. — Amanhã, se
estiver tudo bem. Onde seria conveniente para você, senhor?
Eu quase posso ouvir seu sorriso de esfinge pelo telefone.
— Eu vou estar no Heathman em Portland. Digamos nove e meia,
amanhã de manhã?
— Certo, nós veremos você lá. — Eu estou irradiante e sem fôlego, como uma
criança, não uma mulher adulta que pode votar e beber legalmente no
Estado de Washington.
— Eu espero ansiosamente por isto, Senhorita Steele. — Eu visualizo o
brilho perverso em seus olhos cinza. Como ele consegue fazer com que sete
pequenas palavras, garantam tantas promessas tentadoras? Eu desligo.
Kate está na cozinha, e ela está olhando fixamente para mim com um olhar
de completa e total consternação em seu rosto.
— Anastásia Rose Steele. Você gosta dele! Eu nunca vi ou ouvi você
tão, tão… afetada por alguém antes. Você está realmente corada.
— Oh Kate, você sabe que eu ruborizo o tempo todo. É quase uma
profissão. Não seja tão ridícula, — eu saio dessa rapidamente. Ela pisca para
mim com surpresa, eu raramente fico com raiva, e se fico, rapidamente eu
deixo para lá. — Eu apenas o acho… intimidante, isto é todo.
— Heathman, nada mal, — Kate murmura. — Eu darei um telefonema
para o gerente e negociarei um espaço para as fotos.
— Eu vou fazer o jantar. Depois eu preciso estudar. — Eu não posso
esconder minha irritação com ela, quando eu abro um dos armários para
fazer o jantar. 37
Eu estou inquieta está noite, não paro de me mover e dar voltas e
voltas na cama. Sonhando com olhos cinza, macacões, pernas longas, dedos
longos, e um local muito escuro e inexplorado. Eu desperto duas vezes na
noite, meu coração batendo muito rápido. Oh, se não conseguir dormir,
amanha vou estar com uma cara estupenda, eu me repreendo. Eu esmurro
meu travesseiro e tento me ajeitar.
O Heathman está situado no coração do centro da cidade de Portland.
Seu impressionante edifício de pedras marrom foi concluído bem antes da
crise da década de 20. José, Travis e eu estamos viajando no meu Fusca, e
Kate está em seu CLK, uma vez que não cabemos todos em meu carro.
Travis é amigo e gopher
15
de José, e eu estou aqui para ajudar com a
iluminação. Kate conseguiu adquirir o uso de um quarto livre de encargos,
pela manhã no Heathman, em troca de um crédito no artigo. Quando ela
explica na recepção, que estamos aqui para fotografar o CEO Christian Grey,
nós somos imediatamente conduzidos para uma suíte. Apenas uma suíte de
tamanho regular, no entanto, já que aparentemente o Sr. Grey está
ocupando a maior do edifício. Um executivo de marketing muito interessado
nos mostra à suíte, ele é extremamente jovem e está muito nervoso por
alguma razão.
Eu suspeito que seja a beleza de Kate e seu ar autoritário que o
desarmou, porque ele faz o que ela quer. Os quartos são elegantes, discretos,
e opulentamente mobiliado.
São nove horas. Nós temos meia hora para nos instalar. Kate vai de
um lado para o outro.
— José, eu acho que nós vamos fotografar contra aquela parede, você
concorda? — Ela não espera por sua resposta. — Travis, limpe as cadeiras.
Ana, você pode pedir ao serviço de quarto para trazer algumas bebidas? E
deixe Grey saber onde estamos.
Sim, Senhora. Ela é tão dominadora. Eu desvio meu olhar, mas faço o
que me é pedido.
Meia hora mais tarde, Christian Grey entra em nossa suíte.
Puta merda! Ele está vestindo uma camisa branca, aberta no
colarinho, e calças de flanela cinza que pendem de seus quadris. Seus
cabelos incontroláveis ainda estão úmidos do banho. Minha boca fica seca só
ao olhar para ele… ele é tão estupidamente quente. Grey entra na suíte
acompanhado de um homem que aparenta ter seus trinta e poucos anos,
com um corte militar, com um acentuado terno escuro e gravata, que fica em
silencio no canto. Seus olhos cor de avelã nos observa impassível.
— Senhorita Steele, nos encontramos novamente. — Grey estende a
mão, e eu a agito, piscando rapidamente.
15
Gopher é um protocolo de redes de computadores que foi desenhado para distribuir, procurar e ter
acesso a documentos na Internet. Uma maneira de dizer que a pessoa é um pau para toda obra, ou de grande
ajuda. 38
Oh cara… ele realmente é bastante… uau. Quando eu toco em sua
mão, eu sinto aquela deliciosa corrente atravessando-me diretamente,
iluminando-me, fazendo-me ruborizar, e eu tenho certeza que minha
respiração irregular deve ser audível.
— Sr. Grey, esta é Katherine Kavanagh, — eu murmuro, acenando
com uma mão em direção a Kate que avança, olhando-o diretamente nos
olhos.
— A tenaz senhorita Kavanagh. Como vai? — Ele lhe dá um pequeno
sorriso, olhando genuinamente divertido. — Eu acredito que você está se
sentindo melhor? Anastásia disse que você estava indisposta na semana
passada.
— Eu estou bem, obrigada, Sr. Grey. — Ela agita sua mão com
firmeza, sem pestanejar.
Eu me lembro que Kate esteve nas melhores escolas particulares de
Washington. Sua família tem dinheiro, e ela cresceu confiante e segura de
seu lugar no mundo. Ela não engole nenhum desaforo. Eu a admiro.
— Obrigada por ter tempo para fazer isto. — Ela lhe dá um educado,
sorriso profissional.
— É um prazer, — ele responde, voltando seu olhar cinza para mim, e
eu ruborizo novamente. Maldição.
— Este é José Rodriguez, nosso fotógrafo, — eu digo, sorrindo para
José, que sorri com carinho de volta para mim. Seus olhos são frios quando
ele olha de mim para Grey.
— Sr. Grey,— ele movimenta a cabeça.
— Sr. Rodriguez, — A expressão de Grey muda completamente quando
ele avalia José.
— Onde você me quer? — Grey pergunta a ele. Seu tom soa vagamente
ameaçador. Mas Katherine não está disposta a deixar José executar um
show.
— Sr. Grey, se você puder se sentar aqui, por favor? Tenha cuidado
com os cabos de iluminação. E depois, nós vamos fazer algumas de pé
também. — Ela o direciona para uma cadeira instalada contra a parede.
Travis liga as luzes, momentaneamente ofuscando Grey, e murmura
uma desculpa.
Então, Travis e eu recuamos e assistimos como José passa a tirar
fotos. Ele tira várias fotos apoiadas, pedindo para Grey virar-se de um jeito,
de outro, mover seu braço, então, abaixá-lo novamente. Movendo o tripé,
José tira muitas outras, enquanto Grey se senta e posa, pacientemente e
naturalmente por mais ou menos vinte minutos. Meu desejo se realizou: Eu
posso ficar aqui de pé e admirar Grey bem de perto. Duas vezes nossos olhos
se fitam, e eu tenho que afastar o meu para longe de seu olhar nublado.
— Já é o suficiente sentando. — Katherine comanda novamente. — De
pé, Sr. Grey? — Ela pergunta. Ele se levanta, e Travis corre para remover a cadeira. O dispositivo da
Nikon de José começa a clicar novamente.
— Eu acho que temos o suficiente, — José anuncia cinco minutos
mais tarde.
— Ótimo, — diz Kate. — Obrigada novamente, Sr. Grey. — Ela o
cumprimento, assim como José.
— Eu espero ansiosamente ler o artigo, Senhorita Kavanagh, — Grey
murmura, e se vira para mim, aguardando à porta. — Você me acompanha,
Senhorita Steele? — Ele pergunta.
— Claro, — eu digo, completamente arrebatada. Eu olho ansiosamente
para Kate, que encolhe os ombros para mim. Eu noto que José está
carrancudo atrás dela.
— Bom dia para vocês todos, — diz Grey enquanto ele abre a porta,
abrindo caminho para me permitir sair primeiro.
Que inferno… o que é isto? O que ele quer? Eu paro no corredor do
hotel, remexendo-me nervosamente quando Grey sai do quarto, seguido pelo
Senhor “Corte de Recruta” em seu terno acentuado.
— Eu ligo para você, Taylor, — ele murmura para o “Corte de Recruta”.
Taylor caminha pelo corredor abaixo, e Grey vira seu olhar cinzento
queimando para mim. Merda… eu fiz algo errado?
— Gostaria de saber se você se juntaria a mim para o café da manhã.
Meu coração dispara em minha boca. Um encontro? Christian Grey
está me convidando para um encontro. Ele está perguntando se você quer um
café. Talvez ele pense que você não acordou ainda, meu subconsciente
resmunga para mim em um humor irônico novamente. Eu limpo minha
garganta tentando controlar meus nervos.
— Eu tenho que levar todo mundo para casa, — eu murmuro, me
desculpando, torcendo minhas mãos e os dedos na minha frente.
— TAYLOR, — ele chama, fazendo-me saltar. Taylor, que tinha
retrocedido pelo corredor abaixo, se vira e volta em direção a nós.
— Eles vão para a universidade? — Grey pergunta, sua voz suave e
inquiridora. Eu movimento a cabeça, muito atordoada para falar.
— Taylor pode levá-los. Ele é meu motorista. Nós temos um grande
4x4 aqui, então ele poderá levar o equipamento também.
— Sr. Grey? — Taylor pergunta quando ele nos alcança,
permanecendo distante.
— Por favor, você pode conduzir o fotógrafo, seu assistente, e a
Senhorita Kavanagh para casa?
— Certamente, senhor, — Taylor responde.
— Pronto. Agora você pode juntar-se a mim para o café? — Grey sorri
como se tivesse concluído um negócio.
Eu olho feio para ele.40
— Aah, Sr. Grey, é, isto realmente… olhe, Taylor não tem que levá-los
para casa. — Eu lanço um breve olhar para Taylor, que permanece
estoicamente impassível. — Eu trocarei de veículo com Kate, se você me der
um momento.
Grey sorri deslumbrante, desprotegido, natural, exibindo todos os seus
dentes, um sorriso glorioso. Oh meu Deus… e ele abre a porta da suíte para
que eu possa entrar. Eu passo ao redor dele para entrar no quarto,
encontrando Katherine em uma profunda discussão com José.
— Ana, eu acho que ele definitivamente gosta de você, — ela diz sem
qualquer preâmbulo. José me olha com desaprovação. — Mas eu não confio
nele, — ela adiciona. Eu levanto minha mão na esperança de que ela pare de
falar. Por algum milagre, ela o faz.
— Kate, se você levar o fusca, eu posso levar seu carro?
— Por quê?
— Christian Grey me convidou para tomar café com ele.
Ela fica boquiaberta. Kate emudece! Eu saboreio o momento. Ela me
agarra pelo braço e me arrasta para o quarto que fica fora da sala de estar
da suíte.
— Ana, há algo sobre ele. — Seu tom é cheio de advertência. — Ele é
magnífico, eu concordo, mas eu acho que ele é perigoso. Especialmente para
alguém como você.
— O que você quer dizer, com alguém como eu? — Eu exijo, afrontada.
— Uma inocente como você, Ana. Você sabe o que eu quero dizer, —
ela fala um pouco irritada. Eu ruborizo.
— Kate, é apenas um café. Eu estou começando meus exames finais
esta semana, e eu preciso estudar, então eu não vou demorar muito.
Ela franze seus lábios como se considerando meu pedido. Finalmente,
ela pesca as chaves do carro do bolso e entrega-as para mim. Eu entrego as
minhas.
— Eu vejo você mais tarde. Não demore muito, ou eu vou enviar uma
busca e salvamento.
— Obrigada. — Eu a abraço.
Eu saio da suíte para encontrar Christian Grey esperando, encostado
contra a parede, parecendo com um modelo em uma pose para alguma
brilhante revista top de linha.
— Ok, vamos tomar café, — eu murmuro, ruborizando como uma
beterraba vermelha.
Ele sorri.
— Depois de você, Senhorita Steele. — Ele se ergue, levantando a mão
para que eu vá primeiro.
Eu faço meu caminho pelo corredor abaixo, meus joelhos trêmulos,
meu estômago cheio de borboletas,
16
e meu coração em minha boca, batendo
16
Expressão idiomática americana que se refere a estar com o estomago doendo de nervosismo. 41
em um ritmo dramático desigual. Eu vou tomar um café com Christian Grey...
e eu odeio café.
Nós caminhamos juntos pelo largo corredor do hotel para os
elevadores. O que eu devo dizer a ele? Minha mente de repente paralisa com
apreensão. Sobre o que nós vamos conversar?
O que na Terra eu tenho em comum com ele? Sua voz suave e morna
me surpreende de meu devaneio.
— Quanto tempo você e Katherine Kavanagh se conhecem?
Oh, uma pergunta fácil para começar.
— Desde nosso primeiro ano. Ela é uma boa amiga.
— Humm, — ele responde, reservado. O que ele está pensando?
Nos elevadores, ele aperta o botão de chamada, e a campainha toca
quase que imediatamente. As portas deslizam abertas, revelando um jovem
casal em um amasso apaixonado do lado de dentro. Surpresos e
envergonhados, eles se separam, olhando culpados em todas as direções,
menos na nossa. Grey e eu entramos no elevador.
Eu estou lutando para manter uma expressão séria, então eu olho
para o chão, sentindo minhas bochechas ficando vermelhas. Quando eu
espio para Grey através de meus cílios, ele tem a sugestão de um sorriso em
seus lábios, mas é muito difícil de dizer. O jovem casal não diz nada, e nós
viajamos até o andar térreo em um silêncio constrangedor. Nós nem sequer
temos uma inútil música ambiente para nos distrair.
As portas abrem e, para minha surpresa, Grey toma minha mão,
apertando-a com seus dedos longos e frios. Eu sinto o choque correr por
mim, e meus já rápidos batimentos aceleram. Quando ele me leva para fora
do elevador, nós podemos ouvir as risadinhas suprimidas do casal que
estoura atrás de nós. Grey sorri.
— O que tem os elevadores? — Ele murmura.
Nós cruzamos o extenso saguão movimentado do hotel, em direção à
entrada, mas, Grey evita a porta giratória e, eu me pergunto se isto é porque
ele teria que largar minha mão.
Do lado de fora, está um ameno domingo de maio. O sol está brilhando
e o tráfico está limpo. Grey vira à esquerda e anda até a esquina, onde nós
paramos, esperando pelas luzes de pedestres do cruzamento mudar. Ele
ainda está segurando minha mão. Eu estou na rua, e Christian Grey está
segurando minha mão. Ninguém jamais segurou minha mão. Eu me sinto
tonta, e eu estou formigando por toda parte. Eu tento sufocar o ridículo
sorriso que ameaça repartir meu rosto em dois. Tente ficar fria, Ana, meu
subconsciente implora. O homem verde aparece, e nós andamos novamente.
Nós caminhamos quatro quarteirões, antes de alcançarmos a Cafeteria
de Portland, onde Grey me libera para segurar a porta aberta, para que eu
possa entrar. 42
— Por que você não escolhe uma mesa, enquanto eu pego as bebidas.
O que você gostaria? — Ele pergunta, cortês como sempre.
— Eu quero… um, English Breakfast tea,
17
em saquinho.
Ele levanta suas sobrancelhas.
— Café não?
— Eu não gosto de café.
Ele sorri.
— Ok, chá em saquinho. Açúcar?18
Por um momento, eu fico atordoada, pensando que está me chamando
carinhosamente, mas felizmente meu subconsciente entra em ação com
lábios franzidos. Não, estúpida, se você quer açúcar?
— Não obrigada. — Eu olho para baixo para meus dedos atados.
— Alguma coisa para comer?
— Não obrigada. — Eu sacudo minha cabeça, e ele anda para o balcão.
Eu disfarçadamente olho para ele sob meus cílios, enquanto ele está
na fila de espera para ser servido. Eu poderia observá-lo o dia todo… ele é
alto, de ombros largos, esbelto e a forma como suas calças pendem de seus
quadris… Oh meu Deus. Algumas vezes ele corre seus longos e graciosos
dedos por seus agora, cabelos secos, mas ainda desordenado. Humm… eu
gostaria de fazer isto. O pensamento vem espontaneamente em minha
mente, e meu rosto incendeia. Eu mordo meu lábio e olho para minhas mãos
novamente, não gostando para onde meus pensamentos rebeldes estão se
dirigindo.
— Um centavo por seus pensamentos? — Grey está de volta,
assustando-me.
Eu fico roxa. Eu estava apenas pensando em correr meus dedos por
seus cabelos e perguntando-me se pareceria suave ao toque. Eu balanço
minha cabeça. Ele está carregando uma bandeja, que ele coloca sobre a
pequena mesa redonda de carvalho envernizada. Ele me entrega uma xícara
e um pires, um pequeno bule, e um pratinho contendo um solitário
saquinho de chá impresso “Twinings English Breakfast”, meu favorito. Ele
carrega um café que ostenta um maravilhoso padrão de folhas impresso no
leite. Como eles fazem isto? Eu me pergunto à toa. Ele também comprou um
bolinho de mirtilo para si mesmo. Pondo de lado a bandeja, ele se senta do
meu lado oposto e cruza suas longas pernas. Ele parece tão confortável, tão
à vontade com seu corpo, eu o invejo. E aqui estou eu, toda desengonçada e
descoordenada, incapaz de conseguir ir de A até B sem cair de cara no chão.
— Seus pensamentos? — Ele solicita.
— Este é meu chá favorito. — Minha voz é calma, ofegante. Eu
simplesmente não posso acreditar que eu estou sentada em frente a
17
English Breakfast tea – famosa marca de chá.
18
No original em inglês está escrito sugar, que pode significar também uma maneira carinhosa de chamar a
outra pessoa 43
Christian Grey, em uma cafeteria em Portland. Ele franze a testa. Ele sabe
que eu estou escondendo algo. Eu coloco o saquinho de chá no bule e quase
que imediatamente o pesco novamente com minha colher de chá. Quando eu
coloco o saquinho usado de volta no pratinho, ele dobra sua cabeça olhando
pra mim interrogativamente.
— Eu gosto de meu chá preto e fraco, — eu murmuro como uma
explicação.
— Entendo. Ele é seu namorado?
Uou… O que?
— Quem?
— O fotógrafo. José Rodriguez.
Eu rio nervosa, mas curiosa. O que deu a ele aquela impressão?
— Não. José é um bom amigo, apenas isto. Por que você pensou que
ele fosse meu namorado?
— O modo como você sorriu para ele, e ele para você. — Seu olhar
cinza mantém o meu. Ele é tão enervante. Eu quero desviar o olhar, mas eu
estou presa, encantada.
— Ele é mais como da família, — eu sussurro.
Grey acena ligeiramente com a cabeça, aparentemente satisfeito com a
minha resposta, e eu olho para baixo para seu bolinho de mirtilo. Seus
longos dedos habilmente descascam o papel, e eu assisto fascinada.
— Você quer um? — Ele pergunta, e aquele secreto sorriso divertido,
está de volta.
— Não obrigada. — Eu franzo a testa e olho para baixo, para minhas
mãos novamente.
— E o garoto que eu conheci ontem na loja. Ele não é seu namorado?
— Não. Paul é apenas um amigo. Eu disse a você ontem. — Oh, isto
está ficando ridículo. — Por que você pergunta?
— Você parece ficar nervosa ao redor dos homens.
Puta merda, isto é pessoal. Eu fico nervosa apenas ao seu redor, Grey.
— Eu acho você intimidante. — Eu fico escarlate, mas mentalmente eu
dou tapinhas em minhas costas pela minha franqueza, e olho para minhas
mãos novamente. Eu ouço seu profundo suspiro.
— Você deve me achar intimidante, — ele acena concordando. — Você
é muito honesta. Por favor, não olhe para baixo. Eu gosto de ver seu rosto.
Oh. Eu olho para ele, e ele me dá um sorriso encorajador, mas irônico.
— Isto me dá algum tipo de pista do que você pode estar pensando, —
ele inspira. — Você é um mistério, Senhorita Steele.
Misteriosa? Eu?
— Não existe nada misterioso em mim.
— Eu penso que você é muito auto-suficiente, — ele murmura.
Eu sou? Uau… como vou administrar isto? Isto é desconcertante. Eu,
auto-suficiente? 44
De jeito nenhum.
— Exceto quando você ruboriza, claro, o que acontece frequentemente.
Eu só gostaria de saber por que você estava corada. — Ele joga um pequeno
pedaço de bolinho em sua boca, e começa a mastigá-lo lentamente, sem tirar
seus olhos de mim. Como se fosse uma sugestão, e eu ruborizo. Merda!
— Você sempre faz este tipo de observações pessoais?
— Eu não percebi que fosse. Eu ofendi você? — Ele parece surpreso.
— Não, — eu respondo honestamente.
— Bom.
— Mas você é muito arrogante, — eu retalio calmamente.
Ele levanta as sobrancelhas e, se não me engano, ele ruboriza
ligeiramente também.
— Eu estou acostumado a fazer as coisas do meu jeito, Anastásia, —
ele murmura. — Com todas as coisas.
— Eu não duvido disso. Por que você não me pediu para chamá-lo por
seu primeiro nome? — Eu fico surpresa por minha audácia. Por que esta
conversa se tornou tão séria? Isto não está indo do modo como eu pensei
que fosse. Eu não posso acreditar que eu estou me sentindo tão antagônica
com ele.
É como se ele estivesse tentando me advertir.
— As únicas pessoas que usam meu nome de batismo são a minha
família e alguns amigos íntimos. Este é o modo que eu gosto.
Oh. Ele ainda não disse, “Chame-me Christian”. Ele é um maníaco por
controle, não existe nenhuma outra explicação, e parte de mim está
pensando que, talvez, teria sido melhor se Kate o entrevistasse. Dois
maníacos por controle, juntos. Mais claro que ela é quase loira, loira
morango, como todas as mulheres em seu escritório. E ela é bonita, meu
subconsciente me lembra. Eu não gosto da ideia de Christian e Kate. Eu
tomo um gole de meu chá, e Grey come outro pequeno pedaço de seu
bolinho.
— Você é filha única? — Ele pergunta.
Uou… ele continua a mudar de direção.
— Sim.
— Fale-me sobre seus pais.
Por que ele quer saber disto? É tão enfadonho.
— Minha mãe vive na Geórgia com seu novo marido Bob. Meu
padrasto vive em Montesano.
— Seu pai?
— Meu pai morreu quando eu era um bebê.
— Eu sinto muito, — ele murmura e um incomodado olhar fugaz,
atravessa seu rosto.
— Eu não me lembro dele.
— E sua mãe se casou de novo? 45
Eu bufo.
— Você pode dizer isto.
Ele franze a testa para mim.
— Você não está indo muito longe, não é? — Ele diz secamente,
coçando seu queixo, como se estivesse pensamento profundamente.
— Nem você.
— Você já me entrevistou uma vez, e eu me lembro de algumas
questões bastante comprometedoras. — Ele sorri afetuosamente para mim.
Puta merda. Ele está lembrando a pergunta do “gay”. Mais uma vez,
eu fico mortificada. Daqui a anos, eu sei, vou precisar de terapia intensiva
para não sentir vergonha toda vez que eu recordar este momento. Eu começo
a murmurar sobre minha mãe, qualquer coisa para bloquear esta memória.
— Minha mãe é maravilhosa. Ela é uma romântica incurável. Ela
atualmente está casada com seu quarto marido.
Christian levanta as sobrancelhas em surpresa.
— Eu sinto falta dela, — eu continuo. — Ela tem Bob agora. Eu só
espero que ele possa vigiá-la e juntar os pedaços, quando seus esquemas
desmiolados não saírem como planejado. — Eu ternamente sorrio. Eu não
vejo minha mãe por um longo tempo. Christian observa-me atentamente,
tomando goles ocasionais de seu café. Eu realmente não devia olhar para
sua boca. É inquietante. Aqueles lábios.
— Você se entende com seu padrasto?
— Claro. Eu cresci com ele. Ele é o único pai que eu conheci.
— E como ele é?
— Ray? Ele é… reservado.
— Só isto? — Grey pergunta, surpreso.
Eu encolho os ombros. O que este homem espera? A história da minha
vida?
— Reservado como sua enteada, — Grey sugere de imediato.
Eu me abstenho afastando meu olhar dele.
— Ele gosta de futebol, especialmente futebol europeu, e de boliche, e
pesca com mosca, e fazer móveis. Ele é um carpinteiro. Ex- fuzileiro. — Eu
suspiro.
— Você viveu com ele?
— Sim. Minha mãe encontrou o Terceiro Marido, quando eu tinha
quinze anos. Eu fiquei com Ray.
Ele franze a testa como se não entendesse.
— Você não quis viver com sua mãe? — Ele pergunta.
Eu ruborizo. Isto não é realmente de sua conta.
— Terceiro Marido vivia no Texas. Minha casa estava em Montesano. E
você sabe... minha mãe era recém- casada. — Eu paro. Minha mãe nunca
falou sobre o ser terceiro marido. Onde Grey está querendo ir com isso? Isto
não é de sua conta. Dois podem jogar este jogo. 46
— Fale-me sobre seus pais, — eu pergunto.
Ele encolhe os ombros.
— Meu papai é um advogado, minha mãe é pediatra. Eles vivem em
Seattle.
Oh… ele teve uma educação cara. E eu me pergunto sobre um casal
bem sucedido que adota três crianças, e uma delas se transforma em um
belo homem que assume o mundo dos negócios e o conquista sozinho. O que
o levou a ser deste modo? Seus pais devem estar orgulhosos.
— O que seus irmãos fazem?
— Elliot está na construção, e minha irmã mais nova está em Paris,
estudando arte culinária com algum renomado chefe de cozinha francês. —
Seus olhos nublam com irritação. Ele não quer falar sobre sua família ou ele
mesmo.
— Eu ouvi dizer que Paris é adorável, — eu murmuro. Por que ele não
quer conversar sobre sua família? É porque ele é adotado?
— É bonita. Você já esteve lá? — Ele pergunta, sua irritação
esquecida.
— Eu nunca deixei o continente dos EUA. — Então, agora nós
voltamos para banalidades. O que ele está escondendo?
— Você gostaria de ir?
— Para Paris? — Eu bufo. Isto me desequilibra, quem não gostaria de
ir para Paris? — É claro, — eu concedo. — Mas é a Inglaterra que eu
realmente gostaria de visitar.
Ele dobra sua cabeça para um lado, correndo seu dedo indicador por
seu lábio inferior… oh meu.
— Por quê?
Eu pisco rapidamente. Concentre-se, Steele.
— É a casa de Shakespeare, Austen, as irmãs de Brontë, Thomas
Hardy. Eu gostaria de ver os lugares que inspiraram estas pessoas a
escrever livros tão maravilhosos.
Toda esta conversa de grandes nomes literários, faz-me lembrar de que
eu devia estar estudando. Eu olhar para meu relógio.
— É melhor eu ir. Eu tenho que estudar.
— Para seus exames?
— Sim. Eles começam na terça-feira.
— Onde está o carro da senhorita Kavanagh?
— No estacionamento do hotel.
— Eu vou levá-la de volta.
— Obrigado pelo chá, Sr. Grey.
Ele sorri com seu estranho sorriso “eu tenho um grande segredo”.
— Você é bem-vinda, Anastásia. O prazer é todo meu. Venha, — ele
comanda, e segura minha mão com a sua. Eu seguro-a, confusa, e o sigo
para fora da cafeteria. 47
Nós andamos de volta para o hotel, e eu gostaria de dizer que estamos
em um silêncio sociável. Ele pelo menos parece em sua habitual
tranquilidade, introspectivo. Quanto a mim, estou desesperadamente
tentando avaliar como foi nosso café da manhã. Eu sinto como se eu tivesse
sido entrevistada para uma posição, mas não estou certa para que.
— Você sempre usa calça jeans? — Ele pergunta inesperadamente.
— Geralmente.
Ele movimenta a cabeça. Nós voltamos ao cruzamento, do outro lado
da estrada do hotel. Minha mente está se recuperando. Que pergunta
estranha… E estou ciente que nosso tempo juntos é limitado. É isto. Isto é
tudo, e eu estraguei tudo completamente, eu sei. Talvez ele tenha alguém.
— Você tem uma namorada? — Eu deixo escapar. Puta merda, eu
acabei de dizer isto em voz alta?
Seus lábios dão um meio sorriso, e ele olha para mim.
— Não, Anastásia. Eu não sou do tipo que namora, — ele suavemente
diz.
Oh… o que isso quer dizer? Ele é gay? Oh, talvez ele seja, merda! Ele
deve ter mentido para mim em sua entrevista. E por um momento, eu acho
que ele vai seguir com alguma explicação, alguma pista para esta declaração
enigmática, mas ele não o faz. Eu tenho que ir. Eu tenho que tentar
organizar meus pensamentos. Eu tenho que ficar longe dele. Eu caminho
adiante, e tropeço, tropeço de cabeça na calçada.
— Merda, Ana! — Grey grita.
Ele puxa a minha mão com tanta força, que eu caio para trás contra ele,
enquanto um ciclista que passa a toda velocidade, quase me acertando, indo
pelo caminho errado nesta rua de mão única.
Tudo acontece tão rápido, que em um minuto estou caindo, no
próximo eu estou em seus braços, e ele está me segurando firmemente
contra seu tórax. Eu inalo seu cheiro limpo, cheiro vital. Ele cheira a roupa
limpa e fresca, e a algum sabonete caro. Oh meu Deus, é inebriante. Eu inalo
profundamente.
— Você está bem? — Ele sussurra. Ele está com um braço ao meu
redor, apertando-me junto a ele, enquanto os dedos de sua outra mão,
suavemente rastreia meu rosto sondando, examinando-me. Seu polegar
escova meu lábio inferior e eu ouço sua respiração ofegante. Ele está
olhando fixamente em meus olhos, e eu seguro seu ansioso olhar,
queimando por um momento ou talvez para sempre… mas eventualmente,
minha atenção é atraída para sua bonita boca. Oh meu Deus. E pela
primeira vez em meus vinte e um anos, eu quero ser beijada. Eu quero sentir
sua boca na minha.
Capítulo 03
Kate está em êxtase.
— Mas o que ele estava fazendo na Clayton? — Sua curiosidade escoa
pelo telefone. Eu estou nas profundezas da sala de estoque, tentando manter
minha voz casual.
— Ele passou por aqui.
— Eu acho que isto é uma coincidência enorme, Ana. Você não acha
que ele estava ai para ver você?
Ela especula. Meu coração bater forte com a possibilidade, mas a
alegria dura pouco. A triste e decepcionante realidade é maçante, ele esteve
aqui a negócios.
— Ele veio visitar a divisão de agricultura da universidade. Ele está
financiando algumas pesquisas, — eu murmuro. 34
— Oh sim. Ele deu ao departamento uma doação de $2.5 milhões de
Grant.
13
Uou.
— Como você sabe disto?
— Ana, eu sou uma jornalista, e eu escrevi um perfil sobre o cara. É
meu trabalho saber disto.
— Ok, Carla Bernstein,
14
fique fria. Então você quer as fotos?
— Claro que eu quero. A questão é, quem vai fazê-las e onde.
— Nós podemos perguntar-lhe onde. Ele disse que vai ficar na área.
— Você pode contatá-lo?
— Eu tenho seu número de telefone celular.
Kate ofega.
— O mais rico, mais esquivo, mais enigmático solteiro do Estado de
Washington, apenas lhe deu seu número de telefone celular.
— Ah… sim.
— Ana! Ele gosta de você. Não há dúvida sobre isto. — Seu tom é
enfático.
— Kate, ele está apenas tentando ser agradável. — Mas mesmo
quando eu digo as palavras, eu sei que elas não são verdade.
— Christian Grey não é agradável. Ele é educado, talvez. E uma
pequena voz sussurra silenciosa, talvez Kate esteja certa. Fico arrepiada
com a ideia de que talvez, apenas talvez, ele possa gostar de mim. Afinal, ele
disse que estava contente por Kate não ter feito à entrevista. Eu abraço a
mim mesma com uma silenciosa alegria, balançando-me de um lado para
outro, acolhendo a possibilidade de que ele possa gostar de mim por um
breve momento. Kate me traz de volta para o agora.
— Eu não sei como vamos conseguir fazer as fotos. Levi, o nosso
fotógrafo regular, não pode. Ele foi para casa em Idaho Falls pelo fim de
semana. Ele vai ficar puto por perder uma oportunidade para fotografar um
dos principais empresários da América.
— Humm… Que tal José?
— Grande ideia! Você pergunta a ele, ele faz qualquer coisa por você.
Então chame Grey e descubra onde ele nos encontrará. — Kate é
irritantemente arrogante sobre José.
— Eu acho que você deveria chamá-lo.
— Quem, José?— Kate ridiculariza.
— Não, Grey.
—Ana, você é a única que tem um relacionamento.
13
Referencia a nota de cinquenta dólares que tem a foto do presidente dos USA Ulisses Grant
14
Fazendo uma brincadeira com o nome de Carl Bernstein que em parceria com Bob Woodward,
trabalhando como repórter para o Washington Post, desvendou a história do caso Watergate 35
— Relacionamento — Eu bufo para ela, minha voz subindo várias
oitavas. — Eu mal conheço o cara.
— Pelo menos você o conheceu, — ela diz amargamente. — E ele parece
querer conhecer você melhor. Ana, apenas ligue para ele, — ela estala e
desliga. Ela é tão mandona às vezes. Eu faço uma careta para meu celular,
mostrando minha língua para ele.
Eu estou deixando uma mensagem para José, quando Paul entra na
sala de estoque procurando por lixas.
— Nós estamos meio ocupados lá fora, Ana, — ele diz sem
animosidade.
— Sim, hum, desculpe, — eu murmuro, voltando-me para sair.
— Então, como é que você conheceu Christian Grey? — A voz de Paul
tenta se mostrar indiferente, mas é pouco convincente.
— Eu tive que entrevistá-lo para nosso jornal estudantil. Kate não
estava bem. — Eu encolho os ombros, tentando soar casual, mas também
sou pouco convincente.
— Christian Grey na Clayton. Vá entender, — Paul bufa, pasmo. Ele
agita sua cabeça como se para limpá-la. — E então, quer sair para beber ou
algo assim hoje à noite?
Sempre que ele está em casa ele me convida para sair, e eu sempre
digo não. É um ritual. Eu nunca considerei uma boa ideia sair com o irmão
do chefe, e além disso, Paul é muito atraente como todo jovem americano da
casa ao lado, mas ele não é nenhum herói literário, nem esforçando muito
minha imaginação. Grey é? Meu subconsciente pergunta-me, sua
sobrancelha levantada no sentido figurado.
Eu o esbofeteio.
— Você não tem um jantar de família ou algo assim com seu irmão?
— Isto é amanhã.
— Talvez alguma outra hora, Paul. Eu preciso estudar hoje à noite. Eu
tenho meus exames finais na semana que vem.
— Ana, um dia destes, você dirá sim, — ele sorri quando eu escapo
para a loja.
— Mas eu fotógrafo lugares, Ana, não pessoas, — José geme.
— José, por favor? — Eu imploro. Segurando meu celular, eu marcho
pela sala de estar de nosso apartamento, desviando a vista da janela para a
luz noturna desvanecendo.
— Dê-me o telefone. — Kate agarra o telefone de mim, lançando seu
sedoso cabelo, loiro avermelhado acima de seu ombro.
— Escute aqui, José Rodriguez, se você quiser que nosso jornal cubra
a abertura de seu show, você vai fazer estas fotos para nós amanhã,
capiche? — Kate pode ser terrivelmente dura.
— Ótimo. Ana vai ligar de volta informando o local e horário. Nós
vemos você amanhã. — Ela fecha meu celular com um estalo. 36
— Feito. Tudo que nós precisamos fazer agora é decidir onde e quando.
Ligue para ele. — Ela aponta o telefone para mim. Meu estômago revira.
— Ligue para Grey, agora!
Eu faço uma careta para ela e alcanço no meu bolso de trás o cartão
de negócios dele. Eu tomo uma profunda e firme respiração, e com dedos
trêmulos, eu disco o número.
Ele responde no segundo toque. Sua voz é tranquila e fria.
— Grey.
— Haa… Sr. Grey? É Anastásia Steele. — Eu não reconheço minha
própria voz, eu estou muito nervosa. Há uma breve pausa. Por dentro eu
estou tremendo.
— Senhorita Steele. Como é bom ouvi-la. — Sua voz muda. Ele fica
surpreso, eu acho, e ele soa tão… morno, sedutor até. Minha respiração
entala, e eu ruborizo. De repente estou consciente de que Katherine
Kavanagh está olhando fixamente para mim, boquiaberta, e eu vou para a
cozinha para evitar seu minucioso olhar indesejável.
— Haa, nós gostaríamos de fazer a sessão de fotos para o artigo. —
Respire, Ana, respire.
Meus pulmões absorvem uma respiração apressada. — Amanhã, se
estiver tudo bem. Onde seria conveniente para você, senhor?
Eu quase posso ouvir seu sorriso de esfinge pelo telefone.
— Eu vou estar no Heathman em Portland. Digamos nove e meia,
amanhã de manhã?
— Certo, nós veremos você lá. — Eu estou irradiante e sem fôlego, como uma
criança, não uma mulher adulta que pode votar e beber legalmente no
Estado de Washington.
— Eu espero ansiosamente por isto, Senhorita Steele. — Eu visualizo o
brilho perverso em seus olhos cinza. Como ele consegue fazer com que sete
pequenas palavras, garantam tantas promessas tentadoras? Eu desligo.
Kate está na cozinha, e ela está olhando fixamente para mim com um olhar
de completa e total consternação em seu rosto.
— Anastásia Rose Steele. Você gosta dele! Eu nunca vi ou ouvi você
tão, tão… afetada por alguém antes. Você está realmente corada.
— Oh Kate, você sabe que eu ruborizo o tempo todo. É quase uma
profissão. Não seja tão ridícula, — eu saio dessa rapidamente. Ela pisca para
mim com surpresa, eu raramente fico com raiva, e se fico, rapidamente eu
deixo para lá. — Eu apenas o acho… intimidante, isto é todo.
— Heathman, nada mal, — Kate murmura. — Eu darei um telefonema
para o gerente e negociarei um espaço para as fotos.
— Eu vou fazer o jantar. Depois eu preciso estudar. — Eu não posso
esconder minha irritação com ela, quando eu abro um dos armários para
fazer o jantar. 37
Eu estou inquieta está noite, não paro de me mover e dar voltas e
voltas na cama. Sonhando com olhos cinza, macacões, pernas longas, dedos
longos, e um local muito escuro e inexplorado. Eu desperto duas vezes na
noite, meu coração batendo muito rápido. Oh, se não conseguir dormir,
amanha vou estar com uma cara estupenda, eu me repreendo. Eu esmurro
meu travesseiro e tento me ajeitar.
O Heathman está situado no coração do centro da cidade de Portland.
Seu impressionante edifício de pedras marrom foi concluído bem antes da
crise da década de 20. José, Travis e eu estamos viajando no meu Fusca, e
Kate está em seu CLK, uma vez que não cabemos todos em meu carro.
Travis é amigo e gopher
15
de José, e eu estou aqui para ajudar com a
iluminação. Kate conseguiu adquirir o uso de um quarto livre de encargos,
pela manhã no Heathman, em troca de um crédito no artigo. Quando ela
explica na recepção, que estamos aqui para fotografar o CEO Christian Grey,
nós somos imediatamente conduzidos para uma suíte. Apenas uma suíte de
tamanho regular, no entanto, já que aparentemente o Sr. Grey está
ocupando a maior do edifício. Um executivo de marketing muito interessado
nos mostra à suíte, ele é extremamente jovem e está muito nervoso por
alguma razão.
Eu suspeito que seja a beleza de Kate e seu ar autoritário que o
desarmou, porque ele faz o que ela quer. Os quartos são elegantes, discretos,
e opulentamente mobiliado.
São nove horas. Nós temos meia hora para nos instalar. Kate vai de
um lado para o outro.
— José, eu acho que nós vamos fotografar contra aquela parede, você
concorda? — Ela não espera por sua resposta. — Travis, limpe as cadeiras.
Ana, você pode pedir ao serviço de quarto para trazer algumas bebidas? E
deixe Grey saber onde estamos.
Sim, Senhora. Ela é tão dominadora. Eu desvio meu olhar, mas faço o
que me é pedido.
Meia hora mais tarde, Christian Grey entra em nossa suíte.
Puta merda! Ele está vestindo uma camisa branca, aberta no
colarinho, e calças de flanela cinza que pendem de seus quadris. Seus
cabelos incontroláveis ainda estão úmidos do banho. Minha boca fica seca só
ao olhar para ele… ele é tão estupidamente quente. Grey entra na suíte
acompanhado de um homem que aparenta ter seus trinta e poucos anos,
com um corte militar, com um acentuado terno escuro e gravata, que fica em
silencio no canto. Seus olhos cor de avelã nos observa impassível.
— Senhorita Steele, nos encontramos novamente. — Grey estende a
mão, e eu a agito, piscando rapidamente.
15
Gopher é um protocolo de redes de computadores que foi desenhado para distribuir, procurar e ter
acesso a documentos na Internet. Uma maneira de dizer que a pessoa é um pau para toda obra, ou de grande
ajuda. 38
Oh cara… ele realmente é bastante… uau. Quando eu toco em sua
mão, eu sinto aquela deliciosa corrente atravessando-me diretamente,
iluminando-me, fazendo-me ruborizar, e eu tenho certeza que minha
respiração irregular deve ser audível.
— Sr. Grey, esta é Katherine Kavanagh, — eu murmuro, acenando
com uma mão em direção a Kate que avança, olhando-o diretamente nos
olhos.
— A tenaz senhorita Kavanagh. Como vai? — Ele lhe dá um pequeno
sorriso, olhando genuinamente divertido. — Eu acredito que você está se
sentindo melhor? Anastásia disse que você estava indisposta na semana
passada.
— Eu estou bem, obrigada, Sr. Grey. — Ela agita sua mão com
firmeza, sem pestanejar.
Eu me lembro que Kate esteve nas melhores escolas particulares de
Washington. Sua família tem dinheiro, e ela cresceu confiante e segura de
seu lugar no mundo. Ela não engole nenhum desaforo. Eu a admiro.
— Obrigada por ter tempo para fazer isto. — Ela lhe dá um educado,
sorriso profissional.
— É um prazer, — ele responde, voltando seu olhar cinza para mim, e
eu ruborizo novamente. Maldição.
— Este é José Rodriguez, nosso fotógrafo, — eu digo, sorrindo para
José, que sorri com carinho de volta para mim. Seus olhos são frios quando
ele olha de mim para Grey.
— Sr. Grey,— ele movimenta a cabeça.
— Sr. Rodriguez, — A expressão de Grey muda completamente quando
ele avalia José.
— Onde você me quer? — Grey pergunta a ele. Seu tom soa vagamente
ameaçador. Mas Katherine não está disposta a deixar José executar um
show.
— Sr. Grey, se você puder se sentar aqui, por favor? Tenha cuidado
com os cabos de iluminação. E depois, nós vamos fazer algumas de pé
também. — Ela o direciona para uma cadeira instalada contra a parede.
Travis liga as luzes, momentaneamente ofuscando Grey, e murmura
uma desculpa.
Então, Travis e eu recuamos e assistimos como José passa a tirar
fotos. Ele tira várias fotos apoiadas, pedindo para Grey virar-se de um jeito,
de outro, mover seu braço, então, abaixá-lo novamente. Movendo o tripé,
José tira muitas outras, enquanto Grey se senta e posa, pacientemente e
naturalmente por mais ou menos vinte minutos. Meu desejo se realizou: Eu
posso ficar aqui de pé e admirar Grey bem de perto. Duas vezes nossos olhos
se fitam, e eu tenho que afastar o meu para longe de seu olhar nublado.
— Já é o suficiente sentando. — Katherine comanda novamente. — De
pé, Sr. Grey? — Ela pergunta. Ele se levanta, e Travis corre para remover a cadeira. O dispositivo da
Nikon de José começa a clicar novamente.
— Eu acho que temos o suficiente, — José anuncia cinco minutos
mais tarde.
— Ótimo, — diz Kate. — Obrigada novamente, Sr. Grey. — Ela o
cumprimento, assim como José.
— Eu espero ansiosamente ler o artigo, Senhorita Kavanagh, — Grey
murmura, e se vira para mim, aguardando à porta. — Você me acompanha,
Senhorita Steele? — Ele pergunta.
— Claro, — eu digo, completamente arrebatada. Eu olho ansiosamente
para Kate, que encolhe os ombros para mim. Eu noto que José está
carrancudo atrás dela.
— Bom dia para vocês todos, — diz Grey enquanto ele abre a porta,
abrindo caminho para me permitir sair primeiro.
Que inferno… o que é isto? O que ele quer? Eu paro no corredor do
hotel, remexendo-me nervosamente quando Grey sai do quarto, seguido pelo
Senhor “Corte de Recruta” em seu terno acentuado.
— Eu ligo para você, Taylor, — ele murmura para o “Corte de Recruta”.
Taylor caminha pelo corredor abaixo, e Grey vira seu olhar cinzento
queimando para mim. Merda… eu fiz algo errado?
— Gostaria de saber se você se juntaria a mim para o café da manhã.
Meu coração dispara em minha boca. Um encontro? Christian Grey
está me convidando para um encontro. Ele está perguntando se você quer um
café. Talvez ele pense que você não acordou ainda, meu subconsciente
resmunga para mim em um humor irônico novamente. Eu limpo minha
garganta tentando controlar meus nervos.
— Eu tenho que levar todo mundo para casa, — eu murmuro, me
desculpando, torcendo minhas mãos e os dedos na minha frente.
— TAYLOR, — ele chama, fazendo-me saltar. Taylor, que tinha
retrocedido pelo corredor abaixo, se vira e volta em direção a nós.
— Eles vão para a universidade? — Grey pergunta, sua voz suave e
inquiridora. Eu movimento a cabeça, muito atordoada para falar.
— Taylor pode levá-los. Ele é meu motorista. Nós temos um grande
4x4 aqui, então ele poderá levar o equipamento também.
— Sr. Grey? — Taylor pergunta quando ele nos alcança,
permanecendo distante.
— Por favor, você pode conduzir o fotógrafo, seu assistente, e a
Senhorita Kavanagh para casa?
— Certamente, senhor, — Taylor responde.
— Pronto. Agora você pode juntar-se a mim para o café? — Grey sorri
como se tivesse concluído um negócio.
Eu olho feio para ele.40
— Aah, Sr. Grey, é, isto realmente… olhe, Taylor não tem que levá-los
para casa. — Eu lanço um breve olhar para Taylor, que permanece
estoicamente impassível. — Eu trocarei de veículo com Kate, se você me der
um momento.
Grey sorri deslumbrante, desprotegido, natural, exibindo todos os seus
dentes, um sorriso glorioso. Oh meu Deus… e ele abre a porta da suíte para
que eu possa entrar. Eu passo ao redor dele para entrar no quarto,
encontrando Katherine em uma profunda discussão com José.
— Ana, eu acho que ele definitivamente gosta de você, — ela diz sem
qualquer preâmbulo. José me olha com desaprovação. — Mas eu não confio
nele, — ela adiciona. Eu levanto minha mão na esperança de que ela pare de
falar. Por algum milagre, ela o faz.
— Kate, se você levar o fusca, eu posso levar seu carro?
— Por quê?
— Christian Grey me convidou para tomar café com ele.
Ela fica boquiaberta. Kate emudece! Eu saboreio o momento. Ela me
agarra pelo braço e me arrasta para o quarto que fica fora da sala de estar
da suíte.
— Ana, há algo sobre ele. — Seu tom é cheio de advertência. — Ele é
magnífico, eu concordo, mas eu acho que ele é perigoso. Especialmente para
alguém como você.
— O que você quer dizer, com alguém como eu? — Eu exijo, afrontada.
— Uma inocente como você, Ana. Você sabe o que eu quero dizer, —
ela fala um pouco irritada. Eu ruborizo.
— Kate, é apenas um café. Eu estou começando meus exames finais
esta semana, e eu preciso estudar, então eu não vou demorar muito.
Ela franze seus lábios como se considerando meu pedido. Finalmente,
ela pesca as chaves do carro do bolso e entrega-as para mim. Eu entrego as
minhas.
— Eu vejo você mais tarde. Não demore muito, ou eu vou enviar uma
busca e salvamento.
— Obrigada. — Eu a abraço.
Eu saio da suíte para encontrar Christian Grey esperando, encostado
contra a parede, parecendo com um modelo em uma pose para alguma
brilhante revista top de linha.
— Ok, vamos tomar café, — eu murmuro, ruborizando como uma
beterraba vermelha.
Ele sorri.
— Depois de você, Senhorita Steele. — Ele se ergue, levantando a mão
para que eu vá primeiro.
Eu faço meu caminho pelo corredor abaixo, meus joelhos trêmulos,
meu estômago cheio de borboletas,
16
e meu coração em minha boca, batendo
16
Expressão idiomática americana que se refere a estar com o estomago doendo de nervosismo. 41
em um ritmo dramático desigual. Eu vou tomar um café com Christian Grey...
e eu odeio café.
Nós caminhamos juntos pelo largo corredor do hotel para os
elevadores. O que eu devo dizer a ele? Minha mente de repente paralisa com
apreensão. Sobre o que nós vamos conversar?
O que na Terra eu tenho em comum com ele? Sua voz suave e morna
me surpreende de meu devaneio.
— Quanto tempo você e Katherine Kavanagh se conhecem?
Oh, uma pergunta fácil para começar.
— Desde nosso primeiro ano. Ela é uma boa amiga.
— Humm, — ele responde, reservado. O que ele está pensando?
Nos elevadores, ele aperta o botão de chamada, e a campainha toca
quase que imediatamente. As portas deslizam abertas, revelando um jovem
casal em um amasso apaixonado do lado de dentro. Surpresos e
envergonhados, eles se separam, olhando culpados em todas as direções,
menos na nossa. Grey e eu entramos no elevador.
Eu estou lutando para manter uma expressão séria, então eu olho
para o chão, sentindo minhas bochechas ficando vermelhas. Quando eu
espio para Grey através de meus cílios, ele tem a sugestão de um sorriso em
seus lábios, mas é muito difícil de dizer. O jovem casal não diz nada, e nós
viajamos até o andar térreo em um silêncio constrangedor. Nós nem sequer
temos uma inútil música ambiente para nos distrair.
As portas abrem e, para minha surpresa, Grey toma minha mão,
apertando-a com seus dedos longos e frios. Eu sinto o choque correr por
mim, e meus já rápidos batimentos aceleram. Quando ele me leva para fora
do elevador, nós podemos ouvir as risadinhas suprimidas do casal que
estoura atrás de nós. Grey sorri.
— O que tem os elevadores? — Ele murmura.
Nós cruzamos o extenso saguão movimentado do hotel, em direção à
entrada, mas, Grey evita a porta giratória e, eu me pergunto se isto é porque
ele teria que largar minha mão.
Do lado de fora, está um ameno domingo de maio. O sol está brilhando
e o tráfico está limpo. Grey vira à esquerda e anda até a esquina, onde nós
paramos, esperando pelas luzes de pedestres do cruzamento mudar. Ele
ainda está segurando minha mão. Eu estou na rua, e Christian Grey está
segurando minha mão. Ninguém jamais segurou minha mão. Eu me sinto
tonta, e eu estou formigando por toda parte. Eu tento sufocar o ridículo
sorriso que ameaça repartir meu rosto em dois. Tente ficar fria, Ana, meu
subconsciente implora. O homem verde aparece, e nós andamos novamente.
Nós caminhamos quatro quarteirões, antes de alcançarmos a Cafeteria
de Portland, onde Grey me libera para segurar a porta aberta, para que eu
possa entrar. 42
— Por que você não escolhe uma mesa, enquanto eu pego as bebidas.
O que você gostaria? — Ele pergunta, cortês como sempre.
— Eu quero… um, English Breakfast tea,
17
em saquinho.
Ele levanta suas sobrancelhas.
— Café não?
— Eu não gosto de café.
Ele sorri.
— Ok, chá em saquinho. Açúcar?18
Por um momento, eu fico atordoada, pensando que está me chamando
carinhosamente, mas felizmente meu subconsciente entra em ação com
lábios franzidos. Não, estúpida, se você quer açúcar?
— Não obrigada. — Eu olho para baixo para meus dedos atados.
— Alguma coisa para comer?
— Não obrigada. — Eu sacudo minha cabeça, e ele anda para o balcão.
Eu disfarçadamente olho para ele sob meus cílios, enquanto ele está
na fila de espera para ser servido. Eu poderia observá-lo o dia todo… ele é
alto, de ombros largos, esbelto e a forma como suas calças pendem de seus
quadris… Oh meu Deus. Algumas vezes ele corre seus longos e graciosos
dedos por seus agora, cabelos secos, mas ainda desordenado. Humm… eu
gostaria de fazer isto. O pensamento vem espontaneamente em minha
mente, e meu rosto incendeia. Eu mordo meu lábio e olho para minhas mãos
novamente, não gostando para onde meus pensamentos rebeldes estão se
dirigindo.
— Um centavo por seus pensamentos? — Grey está de volta,
assustando-me.
Eu fico roxa. Eu estava apenas pensando em correr meus dedos por
seus cabelos e perguntando-me se pareceria suave ao toque. Eu balanço
minha cabeça. Ele está carregando uma bandeja, que ele coloca sobre a
pequena mesa redonda de carvalho envernizada. Ele me entrega uma xícara
e um pires, um pequeno bule, e um pratinho contendo um solitário
saquinho de chá impresso “Twinings English Breakfast”, meu favorito. Ele
carrega um café que ostenta um maravilhoso padrão de folhas impresso no
leite. Como eles fazem isto? Eu me pergunto à toa. Ele também comprou um
bolinho de mirtilo para si mesmo. Pondo de lado a bandeja, ele se senta do
meu lado oposto e cruza suas longas pernas. Ele parece tão confortável, tão
à vontade com seu corpo, eu o invejo. E aqui estou eu, toda desengonçada e
descoordenada, incapaz de conseguir ir de A até B sem cair de cara no chão.
— Seus pensamentos? — Ele solicita.
— Este é meu chá favorito. — Minha voz é calma, ofegante. Eu
simplesmente não posso acreditar que eu estou sentada em frente a
17
English Breakfast tea – famosa marca de chá.
18
No original em inglês está escrito sugar, que pode significar também uma maneira carinhosa de chamar a
outra pessoa 43
Christian Grey, em uma cafeteria em Portland. Ele franze a testa. Ele sabe
que eu estou escondendo algo. Eu coloco o saquinho de chá no bule e quase
que imediatamente o pesco novamente com minha colher de chá. Quando eu
coloco o saquinho usado de volta no pratinho, ele dobra sua cabeça olhando
pra mim interrogativamente.
— Eu gosto de meu chá preto e fraco, — eu murmuro como uma
explicação.
— Entendo. Ele é seu namorado?
Uou… O que?
— Quem?
— O fotógrafo. José Rodriguez.
Eu rio nervosa, mas curiosa. O que deu a ele aquela impressão?
— Não. José é um bom amigo, apenas isto. Por que você pensou que
ele fosse meu namorado?
— O modo como você sorriu para ele, e ele para você. — Seu olhar
cinza mantém o meu. Ele é tão enervante. Eu quero desviar o olhar, mas eu
estou presa, encantada.
— Ele é mais como da família, — eu sussurro.
Grey acena ligeiramente com a cabeça, aparentemente satisfeito com a
minha resposta, e eu olho para baixo para seu bolinho de mirtilo. Seus
longos dedos habilmente descascam o papel, e eu assisto fascinada.
— Você quer um? — Ele pergunta, e aquele secreto sorriso divertido,
está de volta.
— Não obrigada. — Eu franzo a testa e olho para baixo, para minhas
mãos novamente.
— E o garoto que eu conheci ontem na loja. Ele não é seu namorado?
— Não. Paul é apenas um amigo. Eu disse a você ontem. — Oh, isto
está ficando ridículo. — Por que você pergunta?
— Você parece ficar nervosa ao redor dos homens.
Puta merda, isto é pessoal. Eu fico nervosa apenas ao seu redor, Grey.
— Eu acho você intimidante. — Eu fico escarlate, mas mentalmente eu
dou tapinhas em minhas costas pela minha franqueza, e olho para minhas
mãos novamente. Eu ouço seu profundo suspiro.
— Você deve me achar intimidante, — ele acena concordando. — Você
é muito honesta. Por favor, não olhe para baixo. Eu gosto de ver seu rosto.
Oh. Eu olho para ele, e ele me dá um sorriso encorajador, mas irônico.
— Isto me dá algum tipo de pista do que você pode estar pensando, —
ele inspira. — Você é um mistério, Senhorita Steele.
Misteriosa? Eu?
— Não existe nada misterioso em mim.
— Eu penso que você é muito auto-suficiente, — ele murmura.
Eu sou? Uau… como vou administrar isto? Isto é desconcertante. Eu,
auto-suficiente? 44
De jeito nenhum.
— Exceto quando você ruboriza, claro, o que acontece frequentemente.
Eu só gostaria de saber por que você estava corada. — Ele joga um pequeno
pedaço de bolinho em sua boca, e começa a mastigá-lo lentamente, sem tirar
seus olhos de mim. Como se fosse uma sugestão, e eu ruborizo. Merda!
— Você sempre faz este tipo de observações pessoais?
— Eu não percebi que fosse. Eu ofendi você? — Ele parece surpreso.
— Não, — eu respondo honestamente.
— Bom.
— Mas você é muito arrogante, — eu retalio calmamente.
Ele levanta as sobrancelhas e, se não me engano, ele ruboriza
ligeiramente também.
— Eu estou acostumado a fazer as coisas do meu jeito, Anastásia, —
ele murmura. — Com todas as coisas.
— Eu não duvido disso. Por que você não me pediu para chamá-lo por
seu primeiro nome? — Eu fico surpresa por minha audácia. Por que esta
conversa se tornou tão séria? Isto não está indo do modo como eu pensei
que fosse. Eu não posso acreditar que eu estou me sentindo tão antagônica
com ele.
É como se ele estivesse tentando me advertir.
— As únicas pessoas que usam meu nome de batismo são a minha
família e alguns amigos íntimos. Este é o modo que eu gosto.
Oh. Ele ainda não disse, “Chame-me Christian”. Ele é um maníaco por
controle, não existe nenhuma outra explicação, e parte de mim está
pensando que, talvez, teria sido melhor se Kate o entrevistasse. Dois
maníacos por controle, juntos. Mais claro que ela é quase loira, loira
morango, como todas as mulheres em seu escritório. E ela é bonita, meu
subconsciente me lembra. Eu não gosto da ideia de Christian e Kate. Eu
tomo um gole de meu chá, e Grey come outro pequeno pedaço de seu
bolinho.
— Você é filha única? — Ele pergunta.
Uou… ele continua a mudar de direção.
— Sim.
— Fale-me sobre seus pais.
Por que ele quer saber disto? É tão enfadonho.
— Minha mãe vive na Geórgia com seu novo marido Bob. Meu
padrasto vive em Montesano.
— Seu pai?
— Meu pai morreu quando eu era um bebê.
— Eu sinto muito, — ele murmura e um incomodado olhar fugaz,
atravessa seu rosto.
— Eu não me lembro dele.
— E sua mãe se casou de novo? 45
Eu bufo.
— Você pode dizer isto.
Ele franze a testa para mim.
— Você não está indo muito longe, não é? — Ele diz secamente,
coçando seu queixo, como se estivesse pensamento profundamente.
— Nem você.
— Você já me entrevistou uma vez, e eu me lembro de algumas
questões bastante comprometedoras. — Ele sorri afetuosamente para mim.
Puta merda. Ele está lembrando a pergunta do “gay”. Mais uma vez,
eu fico mortificada. Daqui a anos, eu sei, vou precisar de terapia intensiva
para não sentir vergonha toda vez que eu recordar este momento. Eu começo
a murmurar sobre minha mãe, qualquer coisa para bloquear esta memória.
— Minha mãe é maravilhosa. Ela é uma romântica incurável. Ela
atualmente está casada com seu quarto marido.
Christian levanta as sobrancelhas em surpresa.
— Eu sinto falta dela, — eu continuo. — Ela tem Bob agora. Eu só
espero que ele possa vigiá-la e juntar os pedaços, quando seus esquemas
desmiolados não saírem como planejado. — Eu ternamente sorrio. Eu não
vejo minha mãe por um longo tempo. Christian observa-me atentamente,
tomando goles ocasionais de seu café. Eu realmente não devia olhar para
sua boca. É inquietante. Aqueles lábios.
— Você se entende com seu padrasto?
— Claro. Eu cresci com ele. Ele é o único pai que eu conheci.
— E como ele é?
— Ray? Ele é… reservado.
— Só isto? — Grey pergunta, surpreso.
Eu encolho os ombros. O que este homem espera? A história da minha
vida?
— Reservado como sua enteada, — Grey sugere de imediato.
Eu me abstenho afastando meu olhar dele.
— Ele gosta de futebol, especialmente futebol europeu, e de boliche, e
pesca com mosca, e fazer móveis. Ele é um carpinteiro. Ex- fuzileiro. — Eu
suspiro.
— Você viveu com ele?
— Sim. Minha mãe encontrou o Terceiro Marido, quando eu tinha
quinze anos. Eu fiquei com Ray.
Ele franze a testa como se não entendesse.
— Você não quis viver com sua mãe? — Ele pergunta.
Eu ruborizo. Isto não é realmente de sua conta.
— Terceiro Marido vivia no Texas. Minha casa estava em Montesano. E
você sabe... minha mãe era recém- casada. — Eu paro. Minha mãe nunca
falou sobre o ser terceiro marido. Onde Grey está querendo ir com isso? Isto
não é de sua conta. Dois podem jogar este jogo. 46
— Fale-me sobre seus pais, — eu pergunto.
Ele encolhe os ombros.
— Meu papai é um advogado, minha mãe é pediatra. Eles vivem em
Seattle.
Oh… ele teve uma educação cara. E eu me pergunto sobre um casal
bem sucedido que adota três crianças, e uma delas se transforma em um
belo homem que assume o mundo dos negócios e o conquista sozinho. O que
o levou a ser deste modo? Seus pais devem estar orgulhosos.
— O que seus irmãos fazem?
— Elliot está na construção, e minha irmã mais nova está em Paris,
estudando arte culinária com algum renomado chefe de cozinha francês. —
Seus olhos nublam com irritação. Ele não quer falar sobre sua família ou ele
mesmo.
— Eu ouvi dizer que Paris é adorável, — eu murmuro. Por que ele não
quer conversar sobre sua família? É porque ele é adotado?
— É bonita. Você já esteve lá? — Ele pergunta, sua irritação
esquecida.
— Eu nunca deixei o continente dos EUA. — Então, agora nós
voltamos para banalidades. O que ele está escondendo?
— Você gostaria de ir?
— Para Paris? — Eu bufo. Isto me desequilibra, quem não gostaria de
ir para Paris? — É claro, — eu concedo. — Mas é a Inglaterra que eu
realmente gostaria de visitar.
Ele dobra sua cabeça para um lado, correndo seu dedo indicador por
seu lábio inferior… oh meu.
— Por quê?
Eu pisco rapidamente. Concentre-se, Steele.
— É a casa de Shakespeare, Austen, as irmãs de Brontë, Thomas
Hardy. Eu gostaria de ver os lugares que inspiraram estas pessoas a
escrever livros tão maravilhosos.
Toda esta conversa de grandes nomes literários, faz-me lembrar de que
eu devia estar estudando. Eu olhar para meu relógio.
— É melhor eu ir. Eu tenho que estudar.
— Para seus exames?
— Sim. Eles começam na terça-feira.
— Onde está o carro da senhorita Kavanagh?
— No estacionamento do hotel.
— Eu vou levá-la de volta.
— Obrigado pelo chá, Sr. Grey.
Ele sorri com seu estranho sorriso “eu tenho um grande segredo”.
— Você é bem-vinda, Anastásia. O prazer é todo meu. Venha, — ele
comanda, e segura minha mão com a sua. Eu seguro-a, confusa, e o sigo
para fora da cafeteria. 47
Nós andamos de volta para o hotel, e eu gostaria de dizer que estamos
em um silêncio sociável. Ele pelo menos parece em sua habitual
tranquilidade, introspectivo. Quanto a mim, estou desesperadamente
tentando avaliar como foi nosso café da manhã. Eu sinto como se eu tivesse
sido entrevistada para uma posição, mas não estou certa para que.
— Você sempre usa calça jeans? — Ele pergunta inesperadamente.
— Geralmente.
Ele movimenta a cabeça. Nós voltamos ao cruzamento, do outro lado
da estrada do hotel. Minha mente está se recuperando. Que pergunta
estranha… E estou ciente que nosso tempo juntos é limitado. É isto. Isto é
tudo, e eu estraguei tudo completamente, eu sei. Talvez ele tenha alguém.
— Você tem uma namorada? — Eu deixo escapar. Puta merda, eu
acabei de dizer isto em voz alta?
Seus lábios dão um meio sorriso, e ele olha para mim.
— Não, Anastásia. Eu não sou do tipo que namora, — ele suavemente
diz.
Oh… o que isso quer dizer? Ele é gay? Oh, talvez ele seja, merda! Ele
deve ter mentido para mim em sua entrevista. E por um momento, eu acho
que ele vai seguir com alguma explicação, alguma pista para esta declaração
enigmática, mas ele não o faz. Eu tenho que ir. Eu tenho que tentar
organizar meus pensamentos. Eu tenho que ficar longe dele. Eu caminho
adiante, e tropeço, tropeço de cabeça na calçada.
— Merda, Ana! — Grey grita.
Ele puxa a minha mão com tanta força, que eu caio para trás contra ele,
enquanto um ciclista que passa a toda velocidade, quase me acertando, indo
pelo caminho errado nesta rua de mão única.
Tudo acontece tão rápido, que em um minuto estou caindo, no
próximo eu estou em seus braços, e ele está me segurando firmemente
contra seu tórax. Eu inalo seu cheiro limpo, cheiro vital. Ele cheira a roupa
limpa e fresca, e a algum sabonete caro. Oh meu Deus, é inebriante. Eu inalo
profundamente.
— Você está bem? — Ele sussurra. Ele está com um braço ao meu
redor, apertando-me junto a ele, enquanto os dedos de sua outra mão,
suavemente rastreia meu rosto sondando, examinando-me. Seu polegar
escova meu lábio inferior e eu ouço sua respiração ofegante. Ele está
olhando fixamente em meus olhos, e eu seguro seu ansioso olhar,
queimando por um momento ou talvez para sempre… mas eventualmente,
minha atenção é atraída para sua bonita boca. Oh meu Deus. E pela
primeira vez em meus vinte e um anos, eu quero ser beijada. Eu quero sentir
sua boca na minha.
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